Além de eventos com direito a buffet com réchaud, garçons e até mesmo brindes e lembrancinhas, o governador e sua equipe de secretários ainda promovem aglomerações na Sala de Imprensa, nas reuniões dos órgãos estaduais e nas viagens eleitoreiras ao interior
O Governo Wilson Lima promove festas ilegais todos os meses no Palácio da Compensa, localizado na zona oeste de Manaus. A maioria desses eventos são comemorações de aniversários e cafés de fim de tarde nas sextas-feiras. Os órgãos que mais promovem esses eventos são o Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza (FPS) e a Secretaria de Estado de Comunicação (Secom), conforme pode ser observado na galeria de fotos nesta matéria.
Uma servidora informou que a gestão Wilson Lima desrespeita todos os protocolos preconizados pelas entidades internacionais e nacionais de saúde ao promover eventos nos quais é visível a aglomeração, a falta de uso de máscaras e de álcool e o compartilhamento de objetos de usos pessoais sem o menor cuidado para evitar a proliferação do novo coronavírus e de suas mutações, a P1 e a variante do Reino Unido, que já foi confirmada que circula em Manaus pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), na última quinta-feira (13), e anunciada pela imprensa nacional.
“Mas não é somente as festas que têm aglomeração e descaso com os protocolos. As reuniões de trabalho na Sala de Imprensa, no auditório e nas salas dos órgãos também”, comentou uma servidora, que não se identificou por receio de represália. Segundo ela informou, as reuniões onde mais acontecem aglomerações são as que têm a participação do governador Wilson Lima.
O FPS ainda tenta, segundo a denunciante, evitar que a aglomeração seja feita e realiza alguns dos eventos no pátio da sede do Governo. “Mas, como sempre tá chovendo, acaba que todo mundo se mete debaixo da tenda que eles colocam pra proteger as pessoas do sol e todo mundo fica aglomerado mesmo”.
A Secom realiza todos os meses festas, individuais e coletivas, para celebrar os aniversariantes do mês. Em novembro do ano passado, no começo da segunda onda da pandemia, o órgão festejou os aniversários de nove pessoas, entre elas o da secretária executiva de Comunicação, Cristiane Mota, com participação de membros do FPS, considerada pela denunciante como uma verdadeira “Festa do Arromba”, com direito a garçons, réchauds e um cardápio de um famoso restaurante da cidade, localizado no Vieiralves, na zona centro-sul de Manaus.
Ainda em novembro, foi festejado o aniversário da diretora administrativa da Secom, Ana Paula Teles Costa. A festança teve até distribuição de brindes e lembrancinhas com o dinheiro público, disse a servidora. “Inclusive, nesse aniversário rolou até um aulão depois da comilança e cada um recebeu um copo personalizado para beber água durante os exercícios”.
Somente de funcionários, a Secom possui 83 funcionários oficiais, como pode ser constatado no Portal da Transparência, mas o órgão possui pelo menos mais dez contratados via agências de publicidade, chegando quase a 100 servidores. Na Redação, trabalham 65. Os demais atuam na Administração, na sala anexa, separada apenas por um curto corredor.
“Um ambiente como esse, lotado de gente e com as janelas sempre fechadas, é propício para a proliferação do novo coronavírus”, disse a servidora. Ela lembrou que, ainda em novembro, outra festa similar foi realizada para comemorar o aniversário do secretário executivo de Imprensa, Arthur César Souza Júnior, cujo aniversário é no dia 23. Os demais aniversariantes do mês são Andressa Moraes da Costa (14), Isabella Farias dos Santos (15), Jonh Victor da Silva Dias ((15) e Chrystianne Braga Silva (27), todos festejados na sala da Secom.
Em dezembro, a série de eventos continuou para festejar o aniversário de mais nove pessoas: Mário Wilson Jr. (6), Francisca de Melo Cavalcante Vale (15), Rubercy Sena (15), Otacílio Gomes Barreiros (18), Bruno José Zanardo Donato (19), Larissa Danielle Tinoco Pacheco (22) e Luana Kelly Nobre Costa (23). “Teve aniversário que foi até festejado dentro do CICC, mesmo depois de várias pessoas da Secom terem ficado doentes de Covid-19, e da Secom ter transferido as atividades pro CICC”, comentou a servidora.
A Central Integrada de Fiscalização (CIF), que é formada por representantes da Polícia Civil (PC-AM), Polícia Militar do Amazonas (PMAM), Corpo de Bombeiros Militar (CBMAM), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Instituto Estadual de Defesa do Consumidor (Procon Amazonas) e Vigilância Sanitária Municipal (Visa Manaus), encerrou, nos últimos oito meses, um total de 56 festas clandestinas, a maioria em zonas periféricas e em bairros pobres da cidade.
Apesar disso, a CIF não consegue, segundo a denunciante, encerrar uma única festa na sede do Governo. “O chefe do setor de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública, o capitão Renan Libório, foi informado dessas festas, mas nunca veio aqui”, disse a servidora.
Nas suas andanças pré-eleitorais na capital e no interior, o governador Wilson Lima também promove aglomerações e desrespeita os protocolos de saúde, retirando a máscara e apertando as mãos de vendedores ambulantes, agricultores e, inclusive, crianças.
Não são raros os brindes e lembrancinhas nesses eventos com o dinheiro público, disse a servidora. Na Secom e no FPS, por exemplo, é comum esses tipos de festas com brindes, tipo copos especiais, chaveiros e outros mimos.