Em Live, técnico do Inpa apresenta tecnologia para colheita dos cachos de buriti

E ainda, técnicas para agregar valor tecnológico aos frutos da palmeira

Buriti - Foto: Afonso Rabelo/Acervo

Palmhaste, instrumento que permite a colheita segura de cachos com frutos como o buriti, açaí e tucumã, e qualquer outra espécie de palmeiras com até 18 metros de altura, está entre as ferramentas criadas pelo técnico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Afonso Rabelo, que serão compartilhadas em Live nesta sexta-feira (25). O evento “Tecnologias Sociais e frutos da Amazônia” é gratuito, com transmissão, às 9h (horário de Manaus) pelo canal do Inpa no Youtube/INPA.

Na oportunidade, serão expostas as características e as aplicações da Palmhaste e a metodologia de colheita, pós-colheita e processamento da polpa do buriti, fruto de grande importância econômica, nutricional e funcional. “O desconhecimento sobre as técnicas de colheitas dos cachos, amadurecimento de pós-colheita, processamento e agregação de valor tecnológico aos frutos, é apontado como a principal causa de desperdícios e escassez de matéria-prima do buriti”, ressalta a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Denise Gutierrez, que será a mediadora do evento.

Outras tecnologias sociais voltadas para a colheita e o processamento de frutos na Amazônia serão compartilhadas na Live. Os interessados podem se inscrever no endereço https://www.even3.com.br/tecnologiassociaisefrutosdaamazonia/ ou acessar diretamente o evento clicando aqui. Os inscritos receberão declaração de participação de 3 horas.

Palmhaste

Banner: Nataly Cunha – Cotes / Inpa

A ferramenta Palmhaste foi criada pelos servidores do Inpa Afonso Rabelo e os ilustradores botânicos Gláucio Belém e Felipe França, para colher cachos de todas as espécies de palmeiras, sendo capaz de atingir a elevação de 18 metros devido aos acessórios que possui para o apoio do equipamento no estipe (tronco) das palmeiras e, ao mesmo tempo, sustentação, equilíbrio, estabilidade e segurança do operador da ferramenta durante as atividades de colheitas dos cachos.

Entre as vantagens do instrumento, o técnico especializado em taxonomia de Arecaceae (palmeiras) e fruteiras nativas da Amazônia destaca a redução dos desperdícios de frutos e, consequentemente, aumento das ofertas para o mercado consumidor, além de evitar o desgaste físico excessivo, ataques de animais peçonhentos e acidentes de trabalhos com os coletores de palmeiras que escalam as árvores.

“O uso da Palmhaste pode promover geração de renda e melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e extrativistas, sobretudo, da Amazônia, e proteger contra supressão de todas as espécies de palmeiras que possuem porte muito elevado, ou que são tortuosas, grossas, espinhosas e difíceis de serem escaladas ou coletadas pelos métodos tradicionais”, comenta.

Palmhaste é constituída por 13 tubos de alumínio naval de 1,50 metro de comprimento cada. Para as conexões dos tubos e para que a ferramenta alcance as alturas desejadas nas palmeiras, foram inseridos na base de cada tubo de alumínio naval, seis fios de roscas internas, e para efetivar as conexões entre os tubos, foram cravados nas extremidades desses tubos de alumínio, tubos maciços de alumínio com roscas externas de seis fios.

Na extremidade superior da ferramenta, estão cravadas duas foices em uma barra de náilon, sendo uma Foice Tipo Ronca para ser usada em colheitas dos cachos de palmeiras com pedúnculos grossos, e outra Foice Tipo Gavião para colheitas dos cachos de pedúnculos finos.

O acessório para aparar a queda dos cachos é constituído por uma lona plástica encerada de polietileno impermeável à prova d’água e medindo 3×3 metros. Os materiais que formam a ferramenta são facilmente encontrados no mercado.

Reconhecimento

A Palmhaste foi certificada como uma tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais (2019) e está registrada na Rede SDSN, uma Plataforma de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Além disso, recebeu o 1°. lugar no Prêmio Professor Samuel Benchimol (2019), na categoria de projetos para desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Mais recentemente, a tecnologia tesoura podadora entrou para o portfólio de produtos e processos da categoria Know how (não patenteada) disponível para negociação e licenciamento. A tecnologia está em fase de transferência, sem exclusividade. Na Live, Rabelo ira falar como algumas tecnologias podem se beneficiar da parceria com empresas por meio da transferência de tecnologia.

Processamento e beneficiamento do buriti

As palmeiras de buriti (Mauritia flexuosa L. f.) são muito produtivas, frequentes e abundantes na natureza. Os frutos caem espontaneamente dos cachos já maduros e não precisam de amadurecimento de pós-colheita, todavia, a colheita desses frutos é considerada uma atividade antieconômica, pois apenas uma quantidade inexpressiva de frutos pode ser colhida diariamente. Além disso, podem estar contaminados pelo tempo de exposição ao solo e necessitam de cuidados especiais durante o manuseio, embalagem e transporte.

Para tratar do assunto, Rabelo publicou em conjunto com Felipe França a cartilha “Buriti: coleta, pós-colheita, processamento e beneficiamento dos frutos de buriti (Mauritia flexuosa L. f.)”. A publicação traz informações sobre potencialidades econômicas, nutricionais, funcionais e sociais do buriti e as ferramentas úteis para a coleta dos cachos, pós-colheita, processamento e agregação de valor econômico aos frutos.

Entre os métodos para a extração da polpa do buriti (mesocarpo) expostos na cartilha, há a separação manual das polpas das sementes com o uso de faquinha de aço inoxidável. A superfície usada para a extração e as bandejas para recolhimento das polpas também devem ser de aço inoxidável. A polpa extraída pelo processo manual pode ser processada imediatamente ou embalada a vácuo em sacos plásticos resistentes, e conservada em refrigeração a -18ºC por até dois anos.

Produtos à base de buriti

Criativo e determinado, trabalhou na criação de produtos inéditos e reinventou mais de 100 receitas envolvendo bebidas alcoólicas, não alcoólicas e pratos que compreendem refeições doces e salgadas, utilizando como matéria-prima principal a polpa concentrada do buriti. O trabalho paralelo na iniciativa privada disponibiliza ao públicos vários produtos. Saiba mais acessando Tacaburi – Frutos da Amazônia.

Além dos produtos inovadores, a polpa e o óleo do buriti podem ser utilizados pelas indústrias de cosméticos para fabricações de cremes hidrantes, esfoliantes, filtros solares, óleos corporais, sabonetes líquidos, xampus e condicionadores, dentre outros, e pelas agroindústrias para a produção de bebidas, doces, picolés, polpa liofilizada, sorvetes, sucos e xaropes concentrados.

Minibiografia: Afonso Rabelo

É formado em Engenharia Florestal pela Ufam (1997), pós-graduado em Ciências Biológicas com especialização em Botânica pelo Inpa (2012). Trabalha no Inpa desde 1986, onde é técnico especializado em taxonomia de Arecaceae (palmeiras) e fruteiras nativas da Amazônia. Publicou 4 livros, 3 cartilhas, 3 capítulos de livros, 3 artigos completos em periódicos, 2 artigos em revistas de circulação nacional e 2 guias de campo. É professor colaborador do curso de pós-graduação da Fametro na área da Gastronomia Funcional e sócio fundador da Associação Amazonense de Gastronomia e Empreendedores (AAGE). Possui experiência na área de inventário florístico, dendrometria, produtos florestais não-madeireiros, gastronomia funcional amazônica, design gráfico, editoração, fotografias da natureza e tratamento de imagens. Desenvolveu várias tecnologias sociais e produtos inovadores que lhe renderam mais de 100 reportagens divididas em emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas e portais na web.

Por Mateus Bento – Cotes/ Inpa

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