Covid foi pior onde falta saneamento

Sem estabelecer relação de causalidade, estudo mostra que número de casos e mortes é maior em áreas desassistidas

Foto: Arquivo/Agência Brasil

As regiões do país mais afetadas pela falta de saneamento básico também foram as que registraram maior incidência de contaminação e mortes por covid-19 durante a pandemia.

Segundo um estudo da economista Ieda Vasconcelos, ligada à Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), a correlação é explicada pelo vazio institucional ao qual as áreas estão submetidas.

“Não se trata de causalidade, de dizer que a falta de saneamento básico agravou a covid. Mas a correlação comprovada entre as duas variáveis [covid e falta de saneamento básico e água tratada] é a consequência das deficiências ou falta de ações governamentais e empresariais”, explica Vasconcelos. “A incidência da doença encontra-se associada a menor porcentagem da população atendida por rede de esgoto e por rede de água”, complementa a economista da CBIC.

De acordo com os dados apurados pela economista, as regiões Norte e Nordeste apresentam os menores níveis de cobertura de saneamento básico e tratamento de água e as maiores incidências de contaminação e mortes por covid.

“As recomendações básicas no início da pandemia foram distanciamento social e higienização constante, coisas que não são possíveis nas áreas mais afetadas, sobretudo as medidas de higiene. Fica clara a deficiência de política pública, que pode ser traduzida como deficiência em investimentos”, declara Ieda Vasconcelos.

A economista da CBIC também argumenta que o senso comum indica ainda que uma área que não possui saneamento básico adequado está propensa a enfrentar vários outros aspectos negativos relacionados à teoria do vazio institucional, como ausência de hospitais e escolas, além da falta de oportunidade de empregos e o consequente cenário de baixa renda.

Para ela, a perspectiva de mudança do cenário está amparada no marco legal do saneamento, que abriu espaço para investimentos privados no setor e tem como objetivo a universalização do saneamento básico no Brasil até 2033.

De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS) do Ministério do Desenvolvimento Regional no Brasil, em 2018 (última informação disponível) somente 53,2% da população brasileira era atendida com uma rede de esgoto.

Isso significa que, naquele ano, 107,5 milhões de brasileiros possuíam acesso ao saneamento básico e mais de 100 milhões de brasileiros não tinham acesso ao serviço. Apesar desse cenário, em 2018, o total de investimentos no setor foi de apenas R$ 4,74 bilhões.

Segundo dados da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon), para universalizar os serviços de água e esgoto até 2033, conforme prevê o novo marco regulatório do saneamento básico, serão necessários cerca de R$ 700 bilhões – ou R$ 63 bilhões por ano.

Fonte: Valor Econômico

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