Bolsonaro, Lula e eleitores, todos de ressaca

Por mais que tentem mostrar otimismo com o resultado das eleições, ninguém consegue disfarçar o ar de enterro que tomou conta de cada um

Por Reinaldo Polito (*)

Por mais que LulaBolsonaro e eleitores tentem mostrar otimismo e satisfação com o resultado das eleições de domingo, 2, não conseguem disfarçar o ar de enterro que tomou conta de cada um. É como se estivessem ganhando o jogo até os 45 minutos do segundo tempo, e tomassem o gol de empate. Não estou vendo ninguém feliz. Tanto o presidente quanto o petista fizeram discurso no final da apuração do pleito, tentando entusiasmar a tropa, mas, pelo tom da voz, pelo semblante carregado, pelas pausas excessivamente prolongadas, pela procura das palavras, pela hesitação, não conseguiram disfarçar. Sabiam que precisariam de novo fôlego, buscando, lá nas entranhas do seu espírito, energia para enfrentar essa curta jornada de vinte e poucos dias, que sabem, entretanto, parecerão uma eternidade.

Passado o susto, ou o alívio, dependendo da expectativa de cada um, já no dia seguinte correram em busca de apoio. Quem vacilar, poderá perder o cavalo selado da oportunidade. É a consciência de que, passado o momento, haverá o risco de ter pela frente só burro chucro, indomável, escoiceando para todo lado. E essa não é hora de perder tempo com a doma. É o instante de galopar em busca dos eleitores. Ou para manter a pequena dianteira de pouco mais de 6 milhões de votos – bem, “pequena” dependendo do ângulo observado – como é o caso de Lula. Ou para superar o prejuízo eleitoral, como é a situação de Bolsonaro.

Em termos de apoio, Bolsonaro foi mais rápido no gatilho. Conquistou as adesões mais representativas do país. Romeu Zema, por exemplo, que faturou a reeleição ao governo de Minas Gerais já no primeiro turno com mais de 56% dos votos. Um feito excepcional. Para o presidente essa é uma conquista extremamente preciosa, já que Minas é nada mais, nada menos que o segundo colégio eleitoral do país, com mais de 15 milhões de eleitores, que correspondem a 10% do eleitorado brasileiro.

Já que estamos falando em grandes colégios eleitorais, Bolsonaro também emplacou a adesão do governador paulista Rodrigo Garcia, mais Tarcísio Gomes de Freitas, que pontuou com folga a chegada para o segundo turno. A bem da verdade, o ex-ministro já estava no pacote do chefe do Executivo. São Paulo é o maior de todos, com quase 32 milhões de eleitores, correspondendo a 22,4% do total de todo o país. E, para fechar a conta do tiroteio do dia seguinte, sai de braço dado com o presidente também o governador reeleito do Rio de Janeiro, o terceiro colégio eleitoral, com mais de 12 milhões de eleitores, perfazendo 8,5% do eleitorado total.

Até Sergio Moro, que se elegeu ao Senado pelo Paraná, depois de se transformar em desafeto do grande chefe, resolveu deixar as diferenças de lado e apoiá-lo nessa segunda etapa. Ao lado de Ratinho Júnior, será de importância fundamental nessa empreitada. Podemos pôr nessa esteira algumas lideranças de peso, como em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Brasília, entre outras. Noves fora nada, estamos nos referindo a um apoio de líderes de uma legião de quase 50% de todos os eleitores do Brasil. É apoio para ninguém botar defeito. Para que todo esse contingente se transforme em votos no próximo dia 30, Bolsonaro vai ter de gastar muita sola de sapato. Fazer alguém mudar o voto que deu no primeiro turno é um desafio quase sobre-humano, mas não impossível.

Lula foi mais tímido nessa batalha pós-eleição. Ele conta com apoios bastante significativos, como a quase totalidade dos estados nordestinos. Seus novos parceiros, todavia, não se envolveram de corpo e alma nessa jornada. Não, foram discretos, quase dizendo que só iriam cumprir tabela, como o exemplo de Ciro Gomes – um quase retorno à Cidade Luz. Depois de criticar tanto o ex-presidente, o ex-governador cearense ficou constrangido. Só disse que entrava na campanha por determinação do partido (PDT).

Pois é, Lula larga na frente, mas não terá vida fácil para preservar a votação obtida no primeiro turno. Está ciente também de que nos próximos dias as notícias sobre o desempenho da economia brasileira serão ainda mais positivas. E experiente como é, não tem dúvida de que ao mexer no bolso do eleitorado, Bolsonaro ganhará pontos que agora nem podem ser avaliados concretamente. Vamos acompanhar. Essa é briga de cachorro grande. Quem tiver mais capacidade de convencimento e persuasão poderá se sagrar vencedor e vestir a faixa presidencial. Siga pelo Instagram: @polito.

(*) Mestre em Ciências da Comunicação, professor de pós-graduação em Marketing Político e em Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros, que já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares em 39 países.

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