Até quando Lula ficará fora das ruas?

Para comprovar que as pesquisas estão certas, bastaria Lula começar a visitar os mesmos lugares frequentados por Bolsonaro e demonstrar que tem mais seguidores ao seu lado

Por Reinaldo Polito (*)

Se há alguém que conhece estratégias eleitorais é Luiz Inácio Lula da Silva. Por toda sua trajetória de vida, tendo saído de onde saiu e chegado onde chegou. Sem nenhuma formação intelectual, contando apenas com a inteligência, sensibilidade, intuição e admirável capacidade de comunicação. Pelas eleições que venceu. Pelos postes que conseguiu emplacar. E mesmo atrás das grades, um que quase vingou, Fernando Haddad. Seu escolhido para concorrer pelo PT era tão desconhecido no país que nem o seu nome sabiam direito, era chamado de Andrade. E passou perto. Por todas essas razões, está equivocado quem julga que Lula esteja perdido em seus planos para concorrer às eleições presidenciais deste ano. Ele sempre esteve a um passo à frente dos seus concorrentes. É um animal político sem páreo.

Os antipetistas podem argumentar, com razão, que ter indicado Dilma Rousseff para a Presidência foi um de seus maiores erros. A “presidenta” quase destruiu o país. Foi apeada a tempo do cargo. Poderão enfatizar ainda, e com razão, que os crimes imputados a ele, mesmo que tenha sido “descondenado” pelo Supremo Tribunal federal (STF) é uma marca negativa que contraria todas as defesas de honestidade que fez ao longo de sua vida política. São fatos que tiram sua credibilidade. E um candidato sem credibilidade não tem a confiança do eleitorado, consequentemente não tem voto.

Não é, entretanto, o que mostram as pesquisas de intenção de votos. Esses levantamentos são vistos com desconfiança por boa parte da população. Como pode o presidente Jair Bolsonaro ficar tão atrás nos resultados apresentados pelos mais diferentes institutos se onde comparece carrega multidões?! Em todas as regiões do país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, nas grandes capitais e nas pequenas localidades, sempre o presidente é ovacionado com entusiasmo pela população.

Ou seja, ao que tudo indica, os números das pesquisas não correspondem ao que se vê nas ruas. Por isso, a desconfiança não só dos bolsonaristas, mas também de muitos adeptos do ex-presidente. Essa questão, todavia, seria muito fácil de ser elucidada. Bastaria Lula começar a visitar os mesmos lugares frequentados por Bolsonaro e demonstrar que teria ao seu lado mais seguidores que o presidente. Não é o que Lula tem feito. Nos últimos meses preferiu subir em palanques armados em outros países, fazendo ali sua pregação. Nesses discursos, acompanhados de autoridades que comungam de sua ideologia, diz o que quer sem que seja refutado, pois ou os ouvintes não têm como contestar, ou não se interessam em confrontar o discurso com a realidade.

Não há dúvida de que essa é uma estratégia muito bem arquitetada pelo petista. Ganha visibilidade sem correr o risco de pôr à prova o que as pesquisas indicam. Ocorre que agora já não dá mais para driblar os pedidos para que bote o pé na rua. Por isso, sinaliza que no próximo mês começará a cumprir uma robusta agenda de visitas. Pretende iniciar pelo Nordeste, preferencialmente pela Bahia, onde sempre conquistou impressionante votação. Tem ali um reduto seguro para o pontapé inicial. Se nem no Estado baiano conseguir sucesso, está morto politicamente.

Ainda que consiga ótimo resultado, o Brasil não é constituído só da Bahia. Precisará repetir a proeza em outras localidades, e o risco continuará a persegui-lo. Sua desculpa de que não quer ir para as ruas para evitar aglomeração, preservando assim o povo do risco de contaminação do coronavírus, já está perdendo força. Ninguém mais fala em pandemia. Os órgãos de imprensa passaram a tratar do tema em notinhas de rodapé. Parece que só ele continua preocupado com esse assunto. A cada dia os Estados retiram a obrigatoriedade do uso de máscaras, e já nem se comenta mais sobre o passaporte sanitário. São apenas histórias.

Bem, curiosamente, as pesquisas já estão mudando os resultados. Bolsonaro cresce e Lula cai. Sem que nenhum fato novo pudesse interferir nos levantamentos. Em muitas alas petistas já bateu o desespero. Descartaram a certeza de vitória no primeiro turno. Coisa do passado. O PT está correndo para obter a adesão de outros partidos e de candidatos da terceira via que já jogaram a toalha. Alckmin, sempre considerado inimigo nas campanhas, foi a grande carta tirada da manga. Será que os eleitores do ex-governador, que se acostumaram a ver seu líder acusar o adversário de todos os malfeitos possíveis, vão acompanhá-lo nessa aventura? Só uma pessoa pode mostrar o que realmente está acontecendo nessa corrida eleitoral, o próprio Lula. Se as suas caminhadas pelo Brasil forem malsucedidas, poderá enrolar a bandeira vermelha, pôr a viola no saco e esperar 2026. Vamos acompanhar. Siga pelo Instagram @polito.

(*) Mestre em Ciências da Comunicação, professor de pós-graduação em Marketing Político e em Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros, que já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares em 39 países.

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