Após ultrapassar R$ 6 pela 1ª vez na história, dólar fecha R$ 5,991

Foto: Divulgação

Após ultrapassar os 6,00 reais pela primeira vez na história, o dólar à vista fechou pouco abaixo deste patamar no Brasil, refletindo nesta quinta-feira, 28, a desconfiança do mercado em relação ao pacote fiscal anunciado pelo governo.

Apesar da forte pressão no mercado de câmbio pelo segundo dia consecutivo, o Banco Central novamente optou por não realizar leilões extras de moeda para acomodar as cotações — uma prática que tem se repetido nos últimos anos.

O dólar à vista fechou o dia com forte alta de 1,30%, cotado a 5,9910 reais. Esta é a maior cotação nominal de fechamento da história, tendo superado o recorde da véspera. Em 2024, a divisa acumula elevação de 23,49%.

Ibovespa fecha em queda

O principal índice de ações da bolsa de valores brasileira caiu mais de 2% e fechou em uma mínima desde meados do ano.

De acordo com dados preliminares, o Ibovespa recuou 2,46%, a 124.531,28 pontos, menor patamar de fechamento desde 28 de junho, após marcar 127.667,73 pontos na máxima e 124.389,63 pontos na mínima do dia.

O volume financeiro somava 25,5 bilhões de reais antes dos ajustes finais, com a sessão também marcada pela ausência da referência de Wall Street em razão de feriado nos Estados Unidos pelo Dia da Ação de Graças.

Juros futuros disparam

As taxas dos DIs dispararam pelo segundo dia consecutivo em meio à decepção do mercado com o pacote fiscal do governo, encerrando perto de 14% em alguns contratos, com a curva a termo brasileira passando a precificar 10% de probabilidade de o Banco Central elevar a taxa básica Selic em 100 pontos-base em dezembro.

Antes do pacote a curva precificava chances, ainda que minoritárias, de a elevação da Selic ser de apenas 50 pontos-base — algo que agora não é mais considerado.

Não é apenas a curva que mostrou uma piora da percepção do mercado sobre o fiscal. O JP Morgan previu que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevará a Selic em 100 pontos-base em dezembro — e não apenas em 50 pontos-base, como havia indicado logo após a última reunião do Copom.

Para o banco, o pacote do governo falhou “em recuperar credibilidade da política econômica”.

Mercado reage às mudanças no Imposto de Renda

Na noite de quarta-feira, 27, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou em rede nacional as medidas do pacote fiscal, entre elas novas regras de reajuste do salário mínimo, pagamento de abono salarial apenas a quem ganha até R$ 2.640 e idade mínima para entrada de militares na reserva. A expectativa do governo é de que as medidas promovam economia de 71,9 bilhões de reais em dois anos e 327 bilhões de reais até 2030.

Os mercados receberam mal, no entanto, o anúncio de que o governo pretende expandir a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até 5 mil reais por mês a partir de 2026, atendendo promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo analistas, o tamanho do pacote fiscal ficou dentro do esperado, mas perdeu efeito diante do anúncio concomitante do projeto de reforma do IR, ainda que o governo tenha defendido que a isenção será bancada pela cobrança de mais imposto de quem recebe mais de 50 mil reais por mês e pela limitação da isenção de IR de aposentados com problemas de saúde graves que recebam acima de 20 mil reais por mês.

“A discussão do pacote foi sendo adiada, o que já mostrava que não era prioridade. Aí quando sai o pacote, vem com a proposta de isenção”, comentou Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos. “Isso mostra uma certa timidez do governo em mexer no âmbito estrutural. Essa agenda política acabou se sobressaindo sobre uma agenda mais econômica”, acrescentou.

“Há uma decepção no mercado, porque esperava-se que a questão dos 5 mil reais não fosse apresentada agora. Imaginava-se um pacote mais simples, com corte de despesas e economia de 70 bilhões de reais”, comentou o gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset, Ian Lima.

“Como não veio, as taxas estão subindo, estão vendo a Selic terminal em 15%, mas ninguém está fazendo as contas. É uma reação de mercado”, acrescentou Ian.

Para Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos, pode ter havido certo exagero na reação dos mercados ao pacote, mas o movimento visto desde ontem é justificável. “Talvez esteja exagerando, mas este exagero é porque o dólar foi embora. Então o juro abriu, porque (o dólar alto) bate na inflação”, afirmou.

Fonte: https://istoedinheiro.com.br/apos-ultrapassar-r-6-pela-1a-vez-na-historia-dolar-fecha-r-5991/

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