“A Zona Franca de Manaus jamais será atingida por este governo”

Por Nelson Azevedo (*)

O lendário amazonense Gilberto Mestrinho, governador do Estado em três oportunidades, com sua sabedoria de homem simples e experimentado na vida, costumava dizer em momentos de apreensão e conflitos: “Agora é hora de ciscar pra dentro”. Essa expressão é facilmente compreendida pelas pessoas que observam a dinâmica das relações sociais, especialmente na imensidão amazônica,  onde tudo é imenso, como são imensos os desafios de seu conhecimento e delicada sua integração. Ciscar pra dentro é diferente de ciscar pra trás como fazem as galinhas, a quem não import saber se aquilo que deixou pra trás é vital para sua sobrevivência e nutrição. Quem assim procede sabe a importância de somar as três virtudes fundamentais: fé, esperança e fraternidade. Com um detalhe: quem escolhe investir nas concordâncias, tem que deixar de lado discrepâncias banais, pois sabe aonde quer chegar e é capaz de antecipar a utopia que vislumbrou.

Fizemos nossa parte

Se tomarmos ao pé da letra a promessa do presidente da República, durante o evento político/religioso do último sábado, em Manaus, a Marcha para Jesus, abstraindo os recentes decretos federais, teríamos muito a questionar ou mesmo duvidar do alcance de suas intenções. “A Zona Franca de Manaus jamais será atingida por este governo”. Ora, se já temos a anuência de acolhimento no âmbito da Suprema Corte, e fizemos a lista dos itens que fabricamos, como ficou combinado, fica tudo mais ou menos viável.  Vamos, por exemplo, continuar a gerar emprego e gerar muito imposto, mais do que imagina o cidadão, fazendo simplesmente aquilo que nos compete.

A batalha das oportunidades sadias

Vamos continuar produzindo, dentro do formalismo rigoroso do PPB, este arcabouço protocolar que define como, quando e com que detalhes temos de trabalhar. Importa é poder trabalhar e ampliar opções de emprego nossos jovens, e para muita gente que deseja atuar dentro da licitude e da liberdade de educar seus filhos e permitir seu desenvolvimento profissional e civil.  O que não queremos é perder a batalha para a indústria do crime e das drogas.

Não basta apenas baixar imposto

Na verdade, já fomos atingidos, pois faltou alinhamento, esclarecimento e cumprimento do combinado. Na verdade, também, não bastou baixar o imposto para conter a inflação, este dragão pavoroso que nos torna vesgos e tontos. O custo Brasil é um samba infernal do cachorro doido. Baixar imposto, estamos todos de acordo, por sua vez, significa galgar a sexta-feira do Calvário que nos leva ao domingo da Ressurreição de Jesus. De acordo com o IBGE, porem, os produtos continuam subindo acima da média. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, foi de 1,06 no mês de abril, enquanto o óleo de soja subiu 8,24%, o macarrão, 3,47%, o queijo, 2,95%, e o etanol, 8,44%.

Ignorância ou má-fé

Os produtos fabricados em Manaus, por sua vez, subiram também e já faz tempo. O frete consome, em média, 20% da planilha de custos por aqui, além da escassez de peças, especialmente, os semicondutores, entre outros transformados em ouro para a indústria de transformação. Ou seja, nós pagamos o prejuízo da falta de infraestrutura. Nem energia solar nos deixaram aproveitar.  Seu PPB, ou seja, a liberação para produzir placa de energia solar, nunca foi cogitada – num Estado que tem 30% do seu território não integrado ao Sistema Nacional de Energia. E o PPB não saiu porque havia uma fabriqueta de fundo de quintal no Sudeste. O mesmo se deu com luminárias de led, entre outras aberrações provocadas, ora por ignorância, e na maior parte das vezes, por pura má-fé.

Ciscar pra dentro

Chorar pitangas, porém,  é ciscar pra trás. E quem quer avançar tem que cuidar das próprias lentes, precisa ciscar somando num contexto de interação, de comunicação transparente que não  exclua nenhuma das regiões, nem contribua  com a perenidade da desigualdade nacional. Avenida Paulista é uma coisa e São Paulo de Olivença, no beiradão amazônico, é outra, absolutamente diferente e cruelmente desigual. Por isso, entendemos as dificuldades mas não abrimos mão das oportunidades que criamos para o país e muitas que podemos, queremos e sabemos conquistar, para caminhar em pé de igualdade na marcha para Jesus.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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