Bioeconomia amazônica atrai interesse de empresas em busca de impacto real

Conectando corporates a empreendedores locais, a plataforma oferece caminhos concretos para inovação com propósito e transforma o potencial da bioeconomia em impacto de escala

Foto: Divulgação

A floresta amazônica ocupa um lugar central nos debates globais sobre o clima. Com a COP 30 marcada para acontecer em Belém (PA) em novembro deste ano, o interesse de grandes empresas em conectar suas estratégias de inovação e sustentabilidade à região cresce a cada dia. A Jornada Amazônia, plataforma que desenvolve iniciativas para o desenvolvimento econômico e social, mantendo a floresta em pé, tem se consolidado como um mecanismo importante na construção de pontes confiáveis entre o setor corporativo e a nova geração de empreendimentos da bioeconomia.

“Há uma demanda clara por soluções sustentáveis com impacto real, e a Amazônia é um dos territórios mais estratégicos e férteis para isso”, afirma Janice Maciel, Coordenadora Executiva da Jornada Amazônia. “A Jornada permite que grandes empresas encontrem parceiros locais com capacidade técnica, inovação e propósito.”

Desde 2018, a Jornada Amazônia atua com o objetivo de dinamizar o ecossistema de inovação na região, estruturando um pipeline de negócios orientados pela conservação da floresta e pela inclusão socioprodutiva. A plataforma já apoiou mais de 300 negócios por meio de seus quatro programas principais: Gênese, Sinapse Bio, Sinergia e Sinergia Investimentos. A atuação com grandes empresas foi desenhada para transformar o potencial da floresta em impacto de escala. “Conectar corporates à bioeconomia é uma forma de estruturar cadeias produtivas regenerativas, capazes de competir com alternativas predatórias como o desmatamento para commodities“, explica Marcos Da-Ré, Diretor de Economia Verde da Fundação CERTI, idealizadora da Jornada Amazônia.

A plataforma tem acumulado resultados que comprovam sua capacidade de transformar positivamente o território. Entre 2023 e junho de 2025, o programa Gênese impactou diretamente 2.704 pessoas na Amazônia Legal, fortalecendo talentos locais por meio do desenvolvimento da cultura empreendedora com foco na bioeconomia. O Sinapse Bio já induziu a criação e o fortalecimento de 140 negócios desde 2023 e tem a meta de selecionar mais 60 ideias inovadoras até outubro deste ano, atingindo 200 novos negócios.

No Sinergia, programa voltado à tração de negócios, 74 empresas foram apoiadas desde 2023, com atuação em cadeias produtivas tradicionais (como cacau, castanhas e frutas nativas) e em segmentos como biotecnologia, fitofármacos e tecnologia da informação, entre outros. Uma nova edição ainda vai selecionar novos negócios, contabilizando 100 empresas fortalecidas com operação na Amazônia. Na etapa mais avançada da plataforma, o Sinergia Investimentos já selecionou 18 startups para aceleração, com destaque para foodtechs e greentechs, e vai acelerar mais 12 negócios até o final de 2025.

Desafios e oportunidades do setor corporativo na floresta

Apesar do crescente interesse, grandes empresas ainda enfrentam barreiras para atuar na bioeconomia. Segundo levantamento da Jornada Amazônia, as principais dificuldades se concentram em três pontos: conexão, confiabilidade e estruturação. Muitas empresas não sabem por onde começar ou com quem falar. Há insegurança jurídica em relação ao Marco da Biodiversidade, dificuldade em rastrear a origem dos insumos e gargalos logísticos severos.

Segundo a Jornada Amazônia, empresas mais tradicionais, com estruturas verticais e baseadas em cadeias produtivas convencionais, tendem a encontrar maiores desafios na bioeconomia amazônica. Muitas vezes, a cultura organizacional dessas empresas é avessa ao risco, o que dificulta a experimentação com novos modelos de negócio e cadeias ainda não consolidadas. A Jornada atua para facilitar esse processo com curadorias, acompanhamento técnico das conexões e apoio na estruturação de provas de conceito (POCs) com startups da região, que permitem validar soluções antes de escalar investimentos.

O interesse das corporates varia conforme o setor e o perfil estratégico da empresa. A Jornada mapeia três grupos principais:

  • Demandantes de insumos: empresas de cosméticos, alimentos e farmacêuticas que buscam matérias-primas sustentáveis com rastreabilidade.
  • Desenvolvedores de soluções: que criam tecnologias para resolver gargalos da bioeconomia (como logística, gestão ou processamento).
  • Investidores e fomentadores: fundos de impacto e corporate ventures que buscam negócios escaláveis com retorno financeiro e indicadores claros de impacto.

“O papel da Jornada é oferecer uma plataforma estruturada para que todos esses atores possam operar com segurança, estratégia e visão de longo prazo”, afirma Janice Maciel.

A plataforma conecta as empresas a um ecossistema dinâmico e curado, com startups organizadas por estágio, setor e grau de maturidade. O acompanhamento contínuo permite que grandes empresas e investidores compreendam melhor os desafios e as oportunidades de cada negócio, reduzindo riscos e maximizando sinergias. A meta é que a Jornada seja um hub estratégico para transformar a inovação da floresta em valor tangível, gerando não só impacto socioambiental, mas também retorno financeiro e competitividade de mercado. Para isso, busca impulsionar o ecossistema de empreendedorismo inovador da Amazônia como um todo, fortalecendo instituições locais e articulando iniciativas como a Plataforma Digital da Floresta, que integra ferramentas de logística, compra e venda e previsão de safras de produtos da bioeconomia, e parcerias em outros programas no território, entre eles, o Biorama, voltado ao desenvolvimento de soluções para a base das cadeias produtivas essenciais da região. “Atuar com negócios da bioeconomia não precisa ser apenas uma escolha ética: pode e deve ser também uma decisão estratégica de mercado”, destaca Marcos Da-Ré.

Preparação para a COP 30

Também em preparação para a COP 30, a Jornada Amazônia tem intensificado ações com foco no setor corporativo. São duas trilhas de parceria:

  • Empresa Co-Desenvolvedora: focada na cocriação de soluções inovadoras com foco em impacto positivo.
  • Investidora Evolutiva: que fornece assessoria e curadoria de startups para investimento, além de participação premium em eventos e visibilidade durante a COP 30.

A proposta é oferecer cases qualificados, articulação estratégica e a construção de soluções de alto impacto que poderão ser apresentadas em Belém durante a conferência da ONU. Além disso, a Jornada Amazônia promove, até a COP, encontros voltados à capacitação, como round tables com executivos, que incluem momentos para qualificação do debate, networking e trocas com especialistas.

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