
A recente declaração do senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre os novos atrasos na entrega da ponte sobre o Rio Autaz Mirim, na BR-319, gerou fortes questionamentos técnicos. O professor Marcos Maurício, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, rebateu a justificativa de “problemas geológicos” apresentada pelo parlamentar, expondo uma cronologia de contratos e gastos públicos que indicam falhas graves de planejamento e desperdício de recursos.
A ponte, localizada no quilômetro 24,60 da rodovia, é um gargalo logístico desde seu colapso em outubro de 2022.
A justificativa do “imprevisto” geológico
Em entrevista recente, o senador Eduardo Braga afirmou que a obra sofreu um novo escorregamento de prazo — cerca de 40 dias — devido a uma surpresa no solo. Segundo o parlamentar, a engenharia encontrou “areia onde era para encontrar rocha”.
Braga detalhou que a falha na sondagem geológica comprometeu o cronograma, empurrando a entrega da estrutura para o final de janeiro ou início de fevereiro. O senador ainda projetou que a inauguração oficial, com a presença do presidente da República, deve ocorrer no início de março.
Contradição temporal e falta de estudos
Para Marcos Mauricio, a explicação do senador revela uma lacuna injustificável no planejamento da obra. O especialista questiona como, após quase três anos do colapso da estrutura, a geologia do terreno ainda é tratada como surpresa.
Marcos Mauricio resgatou o histórico administrativo da obra para embasar a crítica:
- Outubro de 2022: Colapso da ponte original.
- Março de 2023: O DNIT-AM contratou uma empresa, com dispensa de licitação, para a reconstrução.
O contrato citado pelo professor é o de número 000161/2023, datado de 23 de março de 2023. O documento previa a reconstrução parcial da ponte, com o reaproveitamento de partes da estrutura anterior, ao custo de R$ 18.948.174,01 (quase 19 milhões de reais). Matéria publicada pelo portal O Povo Amazonense.
Perguntas sem respostas
Diante dos fatos, o professor levantou cinco questionamentos centrais que expõem a fragilidade da gestão da obra:
- Por que a composição do solo (areia em vez de rocha) só foi constatada agora, quase três anos após a primeira contratação?
- Não foram realizados estudos preliminares de sondagem antes da injeção de recursos milionários?
- Quem elaborou os projetos básico e executivo que falharam em identificar o tipo de solo?
- O que foi efetivamente realizado pela empresa contratada em 2023?
- Quem responderá pelos recursos públicos gastos na tentativa frustrada de reaproveitar a estrutura antiga, objeto do contrato de R$ 19 milhões?
A promessa de 2030 e a realidade atual
Enquanto o senador Eduardo Braga projeta a conclusão total da pavimentação da BR-319 apenas para o ano de 2030, pedindo paciência para a execução de 54 pontes e 450 quilômetros de asfalto, a realidade imediata é de falta de transparência sobre o que já foi gasto.
O professor Marcos Mauricio encaminhou um pedido formal de esclarecimentos ao DNIT, via Lei de Acesso à Informação (LAI), no dia 21 de novembro de 2025.
Ele ainda aguarda as respostas oficiais sobre a execução do contrato e a identificação da responsabilidade técnica pelas falhas de sondagem, problemas que continuam penalizando a população do Amazonas com o isolamento terrestre.











