Amazônia, qual é a próxima estação?

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

Para onde vai a Amazônia? As chuvas retornam e o ciclo das águas, um tanto quanto atabalhoado, insiste em retomar seu destino e  intimidade com a mata. As tragédias climáticas se ampliam, a pandemia e as guerras não cessam e agravam incertezas e indagações de toda ordem. As questões seguem a borbulhar: para onde vamos e quais as nossas prioridades para 2023? Os dados da realidade recomendam prudência e sabedoria para interpretamos os indicadores sombrios com racionalidade serena. Em todos, o desejo inconfesso para que os conflitos eleitorais desgastados sejam, muito em breve, apenas um capítulo de uma estória que é preciso diluir e superar.

Somos todos Amazônia

Entre as escolhas que nos sobram, precisamos apostar na solidariedade institucional. O imperativo evidente é a troca eficiente de esforços de união de atores e forças disponíveis. Carecemos, apenas, da identificação de interesses comuns para reforçar o clima de comunhão proativa. A propósito, salta aos sentidos e às intuições comuns o contexto maior de partilha entre nós que é a Amazônia, nossa raiz, habitat e referência. Somos todos Amazônia. A noção de pertencimento nos empurra ao conhecimento e ao envolvimento com cada um dos eventos que desequilibram o todo deste bioma imensurável, não homogêneo, a um tempo, poderoso e frágil. A Hileia, seu nome suntuoso, é um legado de bonanças, desafios e responsabilidades. É nosso elo e utopia, a tarefa maior e a certeza de promessas de que temos tudo para apostar e ganhar se soubermos agir com resiliência, melindres e determinação.

Qual é nossa moeda de troca?

São muitas e preciosas. E todos os vizinhos deste conglomerado socioambiental têm profusão de talentos e vantagens em todas as direções. Por isso, insistimos na necessidade da paciência e da sabedoria como requisitos de nosso programação. Integramos o setor produtivo da Zona Franca de Manaus, moeda forte, porém desconhecida em seus repertórios de generosas contribuições. Um estado que situa seus recolhimentos no ranking dos principais doadores de tributos para os cofres federais. Entre o quinto e o oitavo colocado. Este é o fio de um novelo promissor que remete a duas questões vitais, onde indagamos por que não aplicar na região amazônica parte significativa ou totalidade desses repasses, considerando os indicadores precários de seu desenvolvimento humano? E ainda: como fazer para planejar e efetivar essa obviedade na redução das inaceitáveis diferenças entre o Norte e o Sul do Brasil?

Intuições proféticas

O empresário Eliezer Batista, fundador da Embraer, de saudosa memória, apostou em seu insights fundados na visão holística da Amazônia, suas dificuldades e respectiva superação/construção de oportunidades nos seguintes exemplos: Projeto Radam, um levantamento aerofotogramétrico do acervo mineral do território. Executado e subutilizado 50 anos depois. Norte Competitivo: inventário detalhado dos gargalos de infraestrutura da Amazônia e subutilizado para desenhar apenas o Arco Norte, para escoamento da soja e outras commodities do agronegócio. São intuições imensuráveis e proféticas interpretadas parcialmente. E o que ficou pelo caminho? Por que não retomar para atualizar?

A bancada parlamentar

Voltando ao ranking dos estados que recolhem  tributos à União Federal, estimativamente, estamos falando em R$ 25 bilhões a cada ano. Uma bela estação apinhada de demandas e expectativas. Basta acessar para conferir o sítio da Receita Federal. Por que uma Amazônia tão pobre tem que carregar boa parte do país nas costas? E redirecionar esses recursos para a Amazônia, ou parte substantiva deles, depende apenas de nossa mobilização. Com as reuniões virtuais não temos mais as desculpas das distâncias para justificar os obstáculos nas agendas e cronogramas. Importante considerar: acabamos de eleger uma bancada parlamentar na Amazônia que, unida, articulada e prestigiada, é capaz de mobilizar as armas e as munições do entendimento, no mutirão pensativo e operativo de que precisamos. Existirá uma estação mais movimentada e promissora? Concomitantemente, faríamos a Federação Regional da Indústria, reforçando e diversificando os projetos, tanto da indústria, como do Comércio e Serviços e Agrobioeconomia. Cabe lembrar que o Nordeste, apesar do divisionismo crônico da brasilidade, há muitas décadas fomenta uma batalha aguerrida, participativa e efetiva em seus propósitos e realizações. Por que não apostar todas as fichas no futuro do Norte desde já – onde reside e sobrevive nossa gente,  respirando com dificuldades e obstinação – desenhando a Amazônia como nossa próxima e movimentada estação?

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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