Adeus, Bennu: Nasa traz de volta à Terra uma nave cheia de amostras de asteroide

Após mais de dois anos atrás de um asteroide, uma espaçonave da Nasa está voltando para casa. Os cientistas mal podem esperar para pôr as mãos nos souvenires que estão a caminho.

Por volta das 17 horas em Brasília, do dia 3 de maio, a espaçonave Osiris-Rex, que estava a cerca de 290 milhões de quilômetros da Terra, acionou seus propulsores por sete minutos para afastar-se de Bennu, um asteroide pouco mais largo do que a altura do Edifício Empire State.

“O acionamento dos motores foi impecável”, afirmou Jason Dworkin, o cientista que projetou a missão no Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, em Maryland. “Tudo parece perfeito.”

Dante Lauretta, professor de ciência planetária da Universidade do Arizona que atua como principal pesquisador da missão, afirmou que não queria que esta parte chegasse ao fim.

“A gente se acostuma a ter uma espaçonave em um asteroide e ver novas imagens sensacionais chegando o tempo todo”, afirmou ele.

Mas a decolagem da nave robótica, que se movimenta agora a 965,6 km/h, significa que os cientistas estão mais perto de estudar minuciosamente em seus laboratórios intocadas amostras rochosas do asteroide. “Estamos muito animados com isso, também”, afirmou Lauretta.

Daqui a dois anos, depois de uma jornada de 2,25 bilhões de quilômetros que dará duas voltas no sol, a Osiris-Rex se aproximará da Terra. A espaçonave principal não pousará no planeta, em vez disso, soltará uma cápsula contendo os preciosos fragmentos de Bennu que coletou – um par de gramas apenas, provavelmente pouco mais de 450 gramas de poeira e pedras. Amparada por paraquedas, a cápsula de 81,3 centímetros de largura aterrissará em 24 de setembro de 2023, no Campo de Teste e Treinamento de Utah, na vasta e desolada região do Deserto do Grande Lago Salgado.

A agência espacial japonesa realizou uma missão parecida, a Hayabusa2, a um outro asteroide, o Ryugu, que também coletou poeira e algumas pedras. A cápsula com as amostras aterrissou no meio da Austrália, em dezembro, e cientistas começaram a examiná-las.

Ao estudar os asteroides – pedaços de rocha que nunca estiveram ligados a planetas – cientistas esperam entender melhor os primórdios do sistema solar, mais de 4,5 bilhões de anos atrás.

Apesar de pedaços de asteroides já terem caído na Terra, na forma de meteoritos, essas rochas derretem pelo lado de fora ao entrar na atmosfera, e os minerais de dentro frequentemente são alterados pela água. Cientistas planetários normalmente não sabem de qual asteroide um meteorito se originou.

Mas nas missões Osiris-Rex e Hayabusa2, os cientistas sabem exatamente de onde vêm as amostras analisadas.

“Vamos obter um entendimento muito melhor a respeito dos materiais mais frágeis presentes nesses asteroides e no espaço, que não resistem à entrada na atmosfera da Terra”, afirmou Lauretta.

Asteroides que atingiram a Terra nos primeiros tempos do sistema solar podem ter trazido muitas das moléculas à base de carbono necessárias para constituir a base da vida no planeta.

“Provavelmente há muitas amostras de carbono capturados na química desses compostos que nunca tivemos chance de analisar”, afirmou Lauretta.

Conhecimento a respeito de um um asteroide em particular também poderia ser útil caso a Terra tenha necessidade de se defender dele. O Bennu pertence a um grupo conhecido como asteroides próximos da Terra, que são corpos celestes cujas órbitas cruzam a órbita no nosso planeta. No fim do próximo século, Bennu passará repetidamente próximo à Terra. Na verdade, a Nasa calcula uma pequena possibilidade – de 1 em 2,7 mil – de Bennu colidir contra a superfície terrestre entre 2175 e 2199, com um impacto de mais de 1 bilhão de toneladas de TNT. O cataclisma poderia matar milhões de pessoas, mas não seria forte o suficiente para causar extinções em massa.

A Osiris-Rex – acrônimo em inglês para Origens, Interpretação Espectral, Identificação de Recursos, Segurança, Exploração de Regolito – foi lançada em setembro de 2016 e chegou a Bennu em dezembro de 2018. Suas observações incluíram uma surpresa: a superfície do asteroide estava deixando um rastro no espaço.

O principal objetivo da missão, coletar amostras de Bennu, foi um desafio porque a superfície do corpo celeste era muito mais acidentada do que o esperado. A equipe precisou elaborar uma nova maneira de guiar a espaçonave de 6 metros de largura até um ponto de contato de apenas 8 metros de diâmetro, enquanto evitava bater em uma parede rochosa que incluía um pico pontudo apelidado de Monte da Perdição, do tamanho de um prédio de dois ou três andares.

Em outubro, a Osiris-Rex alcançou o alvo com margem de erro de menos de 1 metro.

Sua ferramenta coletora de amostras, parecida com um filtro de ar automotivo instalado na ponta de um braço robótico, dobrou-se para entrar em contato com o asteroide por cerca de cinco segundos. Um sopro de nitrogênio levantou poeira e pedras, que foram coletadas pelo filtro, e depois a Osiris-rex se afastou lentamente, sem pousar em Bennu.

Então, os gerentes da missão decidiram rapidamente guardar a amostra que estava vazando para o espaço, porque uma comporta não havia fechado completamente. Lauretta estimou que aproximadamente 800 gramas foram conservadas.

No mês passado, a Osiris-Rex voou pela órbita de Bennu pela última vez, registrando imagens para conferir como a manobra para a coleta do material afetou a superfície.

“Havíamos previsto que moveríamos 100 ou 200 quilos de material”, afirmou Lauretta. “Mas temos evidência de que uma quantidade pelo menos 10 vezes maior de partículas se moveu, talvez mais. A superfície de Bennu se mostrou quase fluída.”

Isso ocorre porque as partículas sobre a superfície de Bennu não estão grudadas a nada e, por este motivo, não resistiram à força do mecanismo de coleta de amostras pressionando para baixo. O braço coletor parecia estar mergulhando em uma piscina, não em contato com rocha sólida.

Lauretta disse que os cientistas esperavam encontrar algum material aglutinante – talvez moléculas de carbono que agissem como um piche grudento. “Não há nenhuma fricção entre as partículas e nenhuma força entre elas”, afirmou ele. “Elas se comportam como bolas de gude – com superfícies suaves, lisas e vítreas.”

Depois que a Osiris-Rex passar próximo à Terra, em 2023, e entregar as amostras, sua jornada deverá continuar. Os navegadores da espaçonave elaboraram uma trajetória que a levaria até o asteroide Apophis, em abril de 2029, pouco depois de o corpo celeste, um pouco menor que Bennu, chegar a uma distância desconfortavelmente próxima da Terra, mas ainda a ainda seguros 32,2 mil quilômetros do planeta. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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