Comando Vermelho toma conta da Rota do Solimões e impõe toque de recolher em aldeias

Agentes da Polícia Federal atuam em operação contra atividades criminosas na Amazônia - Foto: Divulgação

Segundo O Globo, O Comando Vermelho (CV) está expandindo sua atuação criminosa na Amazônia através de um modelo inédito que combina narcotráfico, garimpo ilegal e exploração agrícola em terras indígenas. A estratégia replica na floresta o controle territorial exercido pela facção nas favelas urbanas, aproveitando-se de áreas com baixa presença estatal.

Na região amazônica, o CV já consolidou o domínio sobre a Rota Solimões, corredor estratégico onde a cocaína entra no estado do Amazonas através das fronteiras com Colômbia e Peru. A droga é então redistribuída para outros estados brasileiros e enviada ao exterior, transformando a região em um dos principais eixos do narcotráfico nacional.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) alertou, em julho deste ano, que comunidades indígenas da região do Rio Abacaxis, no Amazonas, relataram o avanço das facções criminosas com a imposição de toque de recolher. Há relatos de tráfico de drogas, garimpo ilegal e plantação de maconha nas Terras Maraguá e Kwata-Laranjal, com a presença de facções criminosas classificando certas áreas como “regiões vermelhas”.

A atuação do CV no Amazonas se intensifica nas regiões do Alto Solimões e Médio Solimões. Mulheres indígenas dessas localidades relataram graves episódios de violência física e sexual, apontando que “a condição de fronteira agrava a vulnerabilidade das comunidades, diante da atuação de piratas, garimpeiros, traficantes e facções criminosas”.

De acordo com documentos oficiais, há relatos de cooptação de lideranças indígenas por agentes vinculados ao garimpo e ao tráfico, facilitando o controle territorial da facção.

O Ministério dos Povos Indígenas alertou que “a falta de segurança pública e fiscalização nas imediações dos territórios facilita a entrada de garimpeiros, madeireiros, pescadores, caçadores ilegais e piratas que disputam territórios em nome de facções criminosas”.

Nova fonte de lucro

Além do narcotráfico, o CV encontrou no cultivo de dendê uma lucrativa fonte de receita. No Pará, estado que concentra 97% da produção nacional do fruto (3,1 milhões de toneladas em 2024, com valor de R$ 2,3 bilhões), a Polícia Federal identificou a atuação da facção em territórios indígenas, comunidades quilombolas e áreas não demarcadas.

A estratégia criminosa é clara: inicialmente, lideranças indígenas “contratam” integrantes do CV para fazer a segurança das aldeias em meio a conflitos territoriais com fazendeiros. Depois de instalados, os criminosos descobrem a rentabilidade do dendê e começam a explorar o negócio por conta própria.

“Eles foram levados por lideranças indígenas para fazer a segurança. Depois, descobriram que era rentável e começaram a explorar por conta própria”, explicou o delegado da PF Lucas Sales, que atua no estado.

Clima de tensão

Em municípios como Tomé-Açu e Acará (PA), polos de produção de dendê, a situação é crítica. Um relatório da Força Nacional de Segurança, de setembro de 2024, descreveu “clima de tensão” em Acará, onde indígenas e integrantes do CV disputam território. Um cacique que tentou retomar o controle local foi alertado sobre o risco, mas ignorou a orientação e entrou em conflito com a facção, deixando a aldeia em situação de insegurança.

“O risco é iminente de uma retaliação dos faccionados para a retomada do território”, alertou um sargento da PM cedido à Força Nacional.

Conforme o Departamento de Mediação de Conflitos Fundiários Indígenas, mais de 70 famílias precisaram deixar uma aldeia na Terra Indígena Tembé por causa da violência ligada ao interesse no plantio de dendê e extração ilegal de madeira, que envolveu uma série de ameaças do Comando Vermelho.

Prisões no Pará e no RJ

Na semana passada, operações da Polícia Federal prenderam chefes do CV em oito cidades paraenses. Criminosos do estado também foram alvos da megaoperação no Rio, com 32 líderes da facção no Pará sendo procurados.

O Ministério da Justiça afirmou que atua de forma “permanente na prevenção, investigação e repressão” desses crimes, destacando que operações conjuntas resultaram em R$ 1,66 bilhão em bens apreendidos neste ano.

A pasta ressaltou que, desde 2023, a política sobre drogas tem foco na Amazônia Legal, “buscando fortalecer comunidades e polícias diante do aliciamento e das investidas territoriais do crime organizado”.

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