Você quer falar bem ou mal de Lula? Há argumentos para todos os gostos

O encontro do presidente com Trump no último domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, foi precedido de uma verdadeira novela

Presidente Lula - Foto: Ricardo Stuckert

Por Reinaldo Polito (*)

O encontro de Lula com Trump neste domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, foi precedido de uma verdadeira novela. Houve antagonismos e críticas de parte a parte. Trump foi na jugular. Sancionou Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky e anunciou o cancelamento de vistos para autoridades brasileiras, entre elas a maioria dos ministros do STF.

Além desse imbróglio, o presidente americano havia enviado uma carta a Lula com duras exigências. Criticou o que chamou de perseguição judicial a adversários políticos, a limitação das ações das Big Techs e impôs uma taxa de 50% à maioria dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.

Rolou uma química

Lula reagiu com críticas ostensivas a Trump. Estava instaurado um confronto que parecia não ter solução. Num encontro aparentemente casual de 39 segundos nas escadarias da ONU, entretanto, Trump surpreendeu: elogiou o presidente brasileiro, disse que havia “rolado uma química” entre eles e que, em breve, se reuniriam.

A expectativa para o encontro de Lula com Trump não era das mais promissoras. Havia no ar nuvens espessas de preocupação. Afinal, o histórico do presidente americano em reuniões com outros chefes de Estado não é exatamente ameno.

Um golpe logo no início

Quem acompanhou a conversa inicial entre os dois, na presença de jornalistas, pode tanto criticar quanto elogiar o comportamento de Lula. Logo de início, ele levou um golpe inesperado. Ao ser questionado se a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro seria tema da reunião, Trump desconversou: “Eu sempre gostei do Bolsonaro. Me senti mal com o que aconteceu com ele. Ele está passando por muita coisa.”

Lula não gostou do rumo da conversa

A declaração de simpatia a Bolsonaro, diante das câmeras, visivelmente incomodou o presidente brasileiro. Lula percebeu que a conversa poderia desandar por um terreno que ele preferia evitar. Enquanto Trump ainda ensaiava algumas palavras, o brasileiro o interrompeu, alegando que, se continuassem ali, perderiam o tempo destinado à reunião. O ideal seria falar com a imprensa apenas depois.

Trump concordou, e todos se retiraram. Ufa! Que alívio para Lula. Conseguira evitar que eventuais críticas do americano fossem transmitidas ao mundo inteiro. Ficaria em posição extremamente desconfortável. Foi uma tirada de improviso sagaz.

Os governistas viram o copo meio cheio

Os governistas e boa parte da imprensa favorável a Lula se mostraram exultantes com o resultado da reunião. Os motivos dessa euforia, porém, não são muito palpáveis. Em linhas gerais, disseram que o encontro durou 50 minutos e que Trump afirmou que os países devem chegar a “um bom acordo para ambos os lados”:

Palavras, palavras, palavras, e nada de concreto. Sobre a taxação de 50%, sua resposta foi quase lacônica: “Vamos discutir isso por um tempo. Sabemos que nos conhecemos. Sabemos o que cada um quer.” Motivo para comemoração? Difícil dizer.

Argumentos que foram na bagagem

As interpretações dessas falas, e o que teria acontecido na reunião, ficaram por conta do governo brasileiro. Mauro Vieira foi um dos que trombeteou vitória: “Teremos negociações com vistas à suspensão das tarifas, já que são aplicadas a um país com o qual os Estados Unidos têm superavit.”

O argumento não é novo. Não nasceu da interlocução entre os presidentes, já estava na sacola da comitiva. Do lado americano, nada de revelador foi anunciado. Mas, para quem quer enxergar sucesso, tudo bem. Sobre as exigências da carta de Trump, nada? Ficou o dito pelo não dito? Não parece que esse pessoal costuma brincar em serviço.

Os opositores viram o copo meio vazio

]Quem quer criticar Lula também tem munição de sobra. Enquanto os governistas viram na atitude do presidente uma jogada inteligente, ao cortar os questionamentos dos jornalistas e evitar temas espinhosos, os adversários enxergaram fuga. Dizem que ele se esquivou das perguntas porque sabia que não teria respostas convincentes: nem para justificar o cerco aos opositores com apoio do Judiciário, nem para explicar a situação das Big Techs. Poderia ter saído da entrevista desmoralizado.

  • Em política é assim: cada um interpreta os fatos pelo prisma que lhe convém. Se um lado ou outro tem razão, saberemos quando as primeiras informações concretas sobre o encontro vierem à luz. Tomara que sejam boas para o Brasil. Por enquanto, é só suposição. No fim das contas, cada um saiu dizendo que venceu. O problema é que, em política, quando todos se declaram vitoriosos, nem sempre quem vence é o país. Siga pelo Instagram: @polito

(*) é Mestre em Ciências da Comunicação, professor de pós-graduação em Marketing Político e em Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros, que já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares em 39 países.

Fonte: https://jovempan.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/reinaldo-polito/voce-quer-falar-bem-ou-mal-de-lula.html

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