
A Casas Bahia deu um passo decisivo para equacionar sua situação financeira. A varejista divulgou um fato relevante detalhando um plano robusto de reestruturação que envolve a repactuação de debêntures e a possibilidade de converter grande parte de sua dívida em ações. O objetivo central é limpar o balanço e garantir fôlego para que a empresa volte a focar exclusivamente em sua operação de varejo.
Essa movimentação estratégica propõe um “reset” financeiro. Na prática, a empresa busca renegociar a 10ª emissão de debêntures, que hoje soma cerca de R$ 3,3 bilhões, através de uma nova emissão dividida em quatro séries distintas. Se a adesão dos credores for alta, o valor da dívida pode cair drasticamente, alcançando um patamar mínimo estimado em R$ 583 milhões.
A urgência faz parte da estratégia. A proposta será submetida a voto já nesta semana, com assembleias de acionistas e debenturistas agendadas para a próxima quarta-feira, 17 de dezembro. A intenção da diretoria é aprovar, precificar e liquidar a operação até o dia 26 de dezembro. Isso permitiria que os novos números já constassem no balanço do quarto trimestre de 2025.
Segundo fontes próximas à companhia, as negociações com os credores se intensificaram desde a última sexta-feira. Existe um otimismo interno de que a empresa já possui o apoio necessário de 50% mais um dos votos para aprovar o plano. Essa celeridade é vista como essencial para virar a página das discussões financeiras que consumiram a energia da gestão ao longo do ano.
O impacto financeiro e a redução da alavancagem
O plano desenhado pela Casas Bahia é ambicioso em termos de economia. A estimativa é que a nova estrutura de capital gere uma economia de caixa de aproximadamente R$ 4,5 bilhões até 2030, considerando a redução de juros e amortizações. Apenas entre 2026 e 2030, a redução de despesas financeiras deve girar em torno de R$ 1,7 bilhão.
Internamente, a expectativa é ainda mais otimista do que os números oficiais conservadores. A gestão trabalha com a meta de encerrar o processo com uma dívida remanescente próxima de R$ 400 milhões e uma alavancagem de 0,8 vez, um índice considerado saudável para o setor. Isso permitiria à varejista enfrentar mudanças macroeconômicas com muito mais solidez.
Como funciona a troca de dívida por ações
A engenharia financeira proposta, conhecida como a 11ª emissão, foi criada para atender a diferentes perfis de credores através de 4 opções ou séries.
A 1ª série é destinada aos credores que desejam manter seus títulos de renda fixa, mas aceitam um desconto de 55% sobre o valor original para reduzir o risco, com vencimento alongado para 2029. Já a 4ª série funciona como um incentivo de saída rápida, oferecendo um pagamento em janeiro de 2026, mas com um desconto agressivo de 70% sobre o valor de face.
O “pulo do gato” está nas 2ª e 3ª séries, que envolvem a conversão da dívida em ações da companhia (BHIA3). Com o preço fixado em R$ 3,71 por ação, essa modalidade permite transformar passivo em capital social. Embora isso resulte na diluição da participação dos atuais acionistas, o mercado tende a ver com bons olhos a eliminação do risco de insolvência.
Contexto estratégico e foco na operação
Este movimento sucede outro anúncio importante feito no início de dezembro, quando a Casas Bahia comunicou um acordo com o Itaú Unibanco para a venda de participações em operações financeiras e de crédito.
A mensagem que a varejista passa ao mercado é clara: a fase de reestruturação pesada está chegando ao fim. Com o balanço saneado, a diretoria poderá parar de gastar tempo em reuniões com bancos e voltar a dedicar 100% de sua atenção às vendas, logística e experiência do consumidor.
Atualmente, a ação BHIA3 acumula uma valorização de 9,9% em 2025, e a empresa possui um valor de mercado de R$ 2,05 bilhões. A aprovação deste plano no dia 17 será o fiel da balança para o desempenho do papel nos próximos meses.
Amazonas vai na contramão da crise
Enquanto a matriz em São Paulo foca na reestruturação financeira, a operação da Casas Bahia no Amazonas vive um momento distinto, marcado pela expansão física e consolidação logística entre 2024 e 2025.
Diferente do movimento de fechamento de lojas observado em outras praças nacionais nos últimos anos, a rede inaugurou recentemente quatro novas unidades em Manaus e uma em Itacoatiara. Essas novas lojas seguem um modelo atualizado, com foco na experiência do cliente, inclusão de áreas “pet friendly” e espaços dedicados à assistência técnica e tecnologia.
Fatores do sucesso regional
O desempenho positivo no estado é sustentado por dois pilares principais. O primeiro é logístico: a presença de um Centro de Distribuição (CD) próprio em Manaus, operante desde a chegada oficial da marca com força total em 2022, blinda a operação local das oscilações de frete e garante agilidade na entrega, essencial para competir com o varejo digital.
O segundo pilar é econômico. O varejo amazonense demonstrou resiliência ao longo de 2025, registrando em meses como abril e maio alguns dos melhores índices de crescimento de vendas do país. Esse cenário favorável permitiu que as lojas físicas da região mantivessem um GMV (Volume Bruto de Mercadorias) saudável, contribuindo positivamente para o caixa da companhia enquanto a direção nacional resolve o passivo financeiro.











