
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, está em uma visita de alto simbolismo à Rússia nesta quarta-feira (15), onde se encontra com seu homólogo russo, Vladimir Putin. A expectativa central do encontro é o pedido de al-Sharaa para que Putin entregue o líder deposto Bashar al-Assad, de quem a Rússia foi uma das principais apoiadoras.
Al-Sharaa assumiu o poder em dezembro, liderando uma coalizão de grupos armados que derrubou o regime de al-Assad. Esta é sua primeira visita à Rússia desde então.
Inversão de alianças e passado de conflito
A visita é emblemática, pois a Rússia, juntamente com o Irã e o Hezbollah, foi o principal apoio militar do regime de al-Assad durante a guerra civil síria, iniciada em 2011.
Durante o conflito, a Força Aérea russa atacou zonas controladas por grupos rebeldes, incluindo a região de Idlib, que nos últimos anos foi controlada pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham, liderado por Ahmed al-Sharaa. Em 2020, a Rússia chegou a classificar este grupo como “terrorista”.
Após ser derrubado em dezembro, Bashar al-Assad e sua família se refugiaram em Moscou.
Pedido de extradição e nova relação bilateral
Uma fonte anônima do governo sírio disse à AFP que al-Sharaa pedirá a Putin “que entregue todos os indivíduos que cometeram crimes de guerra e estão na Rússia, em especial Bashar al-Assad”.
Em sua declaração no encontro, transmitida pela televisão, o novo líder sírio expressou o desejo de redefinir as relações entre os dois países:
“Queremos restaurar e redefinir de uma nova forma a natureza dessas relações (bilaterais), para que a Síria desfrute de sua independência, sua soberania, sua unidade e sua integridade territorial,” disse al-Sharaa a Putin.
Al-Sharaa também destacou os “interesses comuns”, mencionando que parte do fornecimento de alimentos da Síria depende da produção russa.
Reação de putin e assuntos estratégicos
Vladimir Putin deu as boas-vindas ao líder sírio, destacando os “profundos” vínculos entre os países e reafirmando o foco nos interesses do povo sírio.
“Em todas estas décadas, sempre fomos guiados por uma única coisa: o interesse do povo sírio,” afirmou o presidente russo.
Além do pedido de extradição, os líderes devem discutir temas estratégicos importantes, como:
- Investimentos na Síria.
- A situação das bases militares russas na Síria (a base naval de Tartus e a base aérea de Hmeimim, na costa do Mediterrâneo).
- O rearmamento do novo Exército sírio.
A Rússia utilizou amplamente suas instalações militares na Síria durante sua intervenção no conflito, a partir de 2015.