
O Ramal da Dona Creuza, no quilômetro 6 de Iranduba (AM), se tornou o símbolo do abandono e da degradação ambiental no município. Ali, montanhas de lixo a céu aberto convivem lado a lado com as casas de famílias que, há anos, sofrem as consequências do descaso do poder público e da falta de uma gestão eficiente de resíduos.
O forte odor é apenas o primeiro sinal do problema. “Aqui é mau cheiro o dia todo, urubu, mosca, lama. A gente vive no meio da sujeira, sem nenhum tipo de cuidado da prefeitura”, desabafa o líder comunitário Benedito Leite. Ele descreve o lixão, que legalmente deveria estar desativado, como uma “ferida aberta” na cidade. A situação é agravada pela estrutura improvisada que serve de guarita, sem luz, água ou condições básicas de trabalho, um “retrato do abandono”, segundo Leite.
Solução técnica descartada pela prefeitura revolta moradores
A indignação da comunidade se aprofunda ao saber que uma solução técnica e moderna para o problema foi descartada pela gestão municipal. Um projeto detalhado para a implantação de um Serviço de Tratamento em Resíduos Sólidos, elaborado pela empresa Norte Ambiental, foi rejeitado pelo prefeito de Iranduba, Augusto Ferraz.
O projeto havia recebido pareceres favoráveis de diversos órgãos ambientais e técnicos, tanto do governo estadual quanto do federal, alinhando-se totalmente com a legislação ambiental vigente.
“Na primeira vez, ele disse que era a favor; agora, já é contra. Um homem de duas palavras não é homem suficiente”, critica Benedito Leite.
O plano da Norte Ambiental segue todas as normas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), prevendo:
- A construção de um aterro sanitário tecnicamente adequado, que encerraria o lixão.
- Controle rigoroso de chorume e gases.
- Recuperação da área degradada.
- Geração de empregos formais para a população local, incluindo os catadores.
População exposta a riscos sanitários e ambientais
Enquanto o projeto de aterro sanitário é negligenciado, os moradores e catadores do Ramal da Dona Creuza continuam em situação de alto risco. A proximidade do lixo expõe crianças e adultos a graves riscos sanitários. A água usada nas casas, por exemplo, está contaminada pela infiltração dos resíduos.
O cenário contrasta drasticamente com qualquer discurso de progresso: “A cidade está crescendo, mas continua jogando o lixo no quintal das pessoas. Isso não é progresso, é retrocesso”, afirma Leite.
Para as famílias, o aterro sanitário representa a única chance real de transformar a gestão de resíduos do município, acabar com o descaso de anos e resgatar a dignidade.
“Não queremos promessa, queremos ação. A solução está pronta, mas a prefeitura virou as costas. Enquanto isso, quem sofre é o povo”, conclui o líder comunitário.
Marcelo Rocha | Press Comunicação Estratégica











