
O padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu extenso trabalho em defesa da população em situação de rua em São Paulo, confirmou nesta terça-feira, 16 de dezembro, que acatou a determinação do cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilio Scherer. A ordem eclesiástica, emitida no domingo, dia 14, suspendeu imediatamente as transmissões ao vivo das missas e a publicação de conteúdo nas redes sociais por Lancellotti.
O religioso expressou que sentirá falta do contato virtual que se estabeleceu durante o período de celebrações online. Segundo ele, as missas digitais alcançavam um público significativo, com picos de 6 mil espectadores simultâneos e um total que chegava a 15 mil visualizações em um único dia.
Em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, o padre explicou a intensa atividade digital:
“As redes eram, de certa forma, uma prestação de contas daquilo que se estava fazendo ao mostrar as atividades diárias com a população de rua”. Ele completou, justificando a frequência das postagens: “Por isso, eram tantas as publicações”.
Obediência e respeito à hierarquia eclesiástica
Ao comentar a determinação de Dom Odilio Scherer, Júlio Lancellotti afirmou ter recebido a notificação com “espírito de obediência e resiliência”. Ele classificou a conversa com o arcebispo como “muito protocolar e respeitosa”, reconhecendo a subordinação hierárquica da Igreja: “Como padre, precisa atender às determinações do bispo”.
Apesar da restrição no ambiente digital, o trabalho de Lancellotti com os mais vulneráveis não será interrompido. Ele continuará celebrando missas presencialmente na Paróquia São Miguel Arcanjo, localizada na Mooca, zona leste de São Paulo.
Pressão política e especulação sobre transferência
A figura do padre Júlio Lancellotti é amplamente reconhecida pelo trabalho assistencial, mas também se tornou um alvo frequente de críticas e ações de figuras políticas de direita. Recentemente, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) afirmou ter entregue um abaixo-assinado diretamente à Embaixada do Vaticano, em Roma, solicitando o afastamento do padre de suas funções.
A ordem de suspensão nas redes sociais intensificou os rumores sobre uma possível transferência ou afastamento de Lancellotti da Paróquia São Miguel Arcanjo.
Pela regra canônica da Igreja, padres podem ser removidos para a aposentadoria ao completarem 75 anos. Júlio Lancellotti, que completará 77 anos em 27 de dezembro, está acima dessa idade. No entanto, o próprio religioso declarou que a aplicação da norma não é automática e depende da necessidade e avaliação da igreja local. Ele ressaltou que a decisão sobre sua permanência ou transferência não cabe somente a ele.
Esclarecimento sobre denúncias e investigações
O Padre Júlio Lancellotti tem sido alvo de diversas alegações ao longo dos anos, sendo a mais grave a de abuso sexual. No entanto, é fundamental esclarecer os fatos apurados:
- Abuso e Inquérito: Em relação a um vídeo de teor sexual que circulou em 2020 e gerou uma investigação, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) arquivou o inquérito após não encontrar materialidade suficiente para sustentar a denúncia.
- Extorsão: Em um caso julgado pela Justiça de São Paulo, o Padre Júlio Lancellotti foi vítima de extorsão por um ex-interno e sua esposa. O casal foi condenado a mais de sete anos de prisão por ameaçar o padre com falsas acusações para obter dinheiro.
Até o momento, não há condenação criminal ou judicial contra o Padre Júlio Lancellotti por qualquer crime, embora uma nova denúncia de abuso de um ex-coroinha de 1987 esteja sob apuração da Arquidiocese de São Paulo.











