
A inauguração da nova ponte binacional entre Brasil e Paraguai deveria ser um marco de união e celebração técnica. No entanto, o que se viu nos últimos dias foi um cenário de desencontros que deixou transparecer certa fragilidade na coordenação entre os dois governos. Enquanto a estrutura física de concreto e aço finalmente está pronta para o uso, a conexão política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o paraguaio Santiago Peña parece ter enfrentado alguns obstáculos desnecessários.
O simbolismo de uma ponte reside justamente na capacidade de ligar dois pontos. Ver o lado brasileiro ser inaugurado na sexta-feira (20/12) e o lado paraguaio no sábado (21/12), em atos separados, transmite uma mensagem de fragmentação que vai contra o próprio nome da obra. O presidente Peña não escondeu o desapontamento e usou a expressão “sabor amargo” para descrever a falta de um alinhamento prévio, evidenciando que a diplomacia de bastidor falhou em entregar um gesto de unidade.
O ponto central desse impasse foi a dificuldade das chancelarias em conciliar agendas. De um lado, o governo brasileiro justificou a pressa para evitar novos adiamentos na entrega da obra, alegando compromissos em Brasília. De outro, o mandatário paraguaio citou problemas familiares de última hora e lamentou o isolamento do ato inicial.
A sugestão de Peña para que ele e Lula troquem números de telefone pessoais é um detalhe que chama atenção. O gesto revela que os canais tradicionais de comunicação entre as duas nações podem estar burocratizados demais para as exigências de projetos estratégicos. Essa aproximação direta será fundamental para a próxima grande entrega na região, que é a ponte ligando Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, ao Chaco paraguaio, peça chave para a rota bioceânica.
Entenda como será o funcionamento da nova estrutura
Para além das questões políticas, a Ponte da Integração Jaime Lerner é uma vitória para a logística regional, embora sua operação total ainda demande paciência. A estrutura custou cerca de R$ 2 bilhões, com recursos da Itaipu Binacional, e tem regras específicas para o início das atividades.
- A liberação do tráfego será feita de forma gradativa para garantir a segurança.
- Caminhões vazios já podem circular entre as 22h e 5h.
- Ônibus de turismo fretados terão permissão para atravessar a partir de 18 de janeiro no período noturno.
- Carros de passeio e motocicletas ainda não possuem uma data definida para a liberação.
Essa cautela se deve ao fato de que, apesar de a ponte estar pronta desde 2022, as áreas de fiscalização e os acessos viários nos dois países ainda precisam de ajustes finais para suportar o fluxo intenso que é esperado.
Uma lição para as próximas obras de infraestrutura regional
O episódio da falha no gerador durante o discurso de Lula na sexta-feira, que interrompeu sua fala, acabou servindo como uma metáfora involuntária para o evento. Faltou energia na organização conjunta. A integração real entre países vizinhos exige mais do que investimentos bilionários em engenharia, pois demanda um esforço contínuo de diálogo e respeito aos protocolos de parceria.
O Brasil e o Paraguai possuem uma história de cooperação profunda, simbolizada pela própria Itaipu. Que este episódio sirva de aprendizado para que as próximas inaugurações reflitam de fato a união que essas obras pretendem construir. Afinal, uma ponte binacional serve para aproximar povos, e isso deve começar pelo exemplo de seus governantes no topo do palanque.











