Partidos criaram União Brasil como ‘a grande legenda’ do Congresso, mas foi pura ilusão

Nova sigla não tem base sólida, tanto que até o líder do PSL, deputado Major Vitor Hugo, vai sair; no DEM, o desmonte também está programado

Por José Maria Trindade (*)

A ilusão existe e iludido é quem não acredita nela. Há relatos de desorientados em deserto que enxergam e correm em direção a oásis imaginados e até se refrescam em fontes inexistentes. Na política é a mesma imaginação. Há os que se apaixonam mais com a rede do que com o peixe e correm atrás de ilusão com tamanha certeza que cega.

O DEM e o PSL estão nesta marcha. Imaginaram criar o maior partido do país com a fusão que passa a se chamar União Brasil. Somando os deputados do PSL, 54, aos do DEM, 28, teoricamente seria mesmo ‘a grande legenda’. Pura ilusão. Sem base sólida, nenhuma construção prospera. Para se ter uma ideia, até o líder do PSL, deputado Major Vitor Hugo, vai sair. No partido, 23 adiantam que estarão fora e outros 11 estão em dúvida. No DEM, o desmonte também está programado. Um dos fundadores do partido, deputado licenciado e agora secretario Rodrigo Maia saiu atirando. Mais cuidadoso, o presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco, anuncia a troca de legenda e se filia ao PSD.

Olhando de longe, a miragem é de que o União passaria a mandar no Congresso com 82 dos 513 deputados. É um feito. Quase o dobro do segundo partido, o PT, com seus 53 deputados. Na realidade, no acerto para as eleições, este novo partido terá muito dinheiro, R$ 1 bilhão, somando todos os fundos. Esta é a isca para novos parlamentares e candidatos. A promessa é de que vai jorrar verba na campanha. Mas a promessa de grande partido será mesmo o Progressistas (PP), com seus atuais 42 deputados, que deve somar mais de 60 se houver, como programada, a filiação do presidente Jair Bolsonaro e os seus aliados de outros partidos, principalmente os 25 do PSL.

A promessa é esta. Fugindo das ilusões, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, aposta nas próprias pernas e no caminhar. A estratégia é filiar líderes importantes nos Estados para erguer das urnas um partido maior, que pode ser o futuro grande partido do Congresso. Kassab é hoje o que mais pratica a política tradicional. Estabelece lideranças sólidas nos Estados. Cada Estado com a sua força. A receita do antigo MDB.

O poder na política obedece regras não escritas, mas certas. O Centrão não está registrado no Congresso. Nunca teve um líder formal e nem sede. Mesmo não sendo formalizado, manda na política e atravessa a Praça dos Três Poderes e assume partes do Executivo. Aí não é ilusão, mas prática. Tem poder quem demonstra poder ou tem expectativa de tê-lo. Enquanto o debate visível está na disputa do Palácio do Planalto, os políticos experientes traçam estratégias para dominar o Congresso.

Os partidos se lançam na guerra por bancadas e sabem que quem dominar o Legislativo, vai dominar o futuro governo, esteja ele com quem estiver.  Está contabilizado que não há chance de surpresas entre Bolsonaro e Lula, mas também está certo de que quem for eleito vai precisar do comando entre Câmara e Senado. Aí está o verdadeiro poder e não é miragem.

(*) é jornalista, comentarista político, correspondente da Jovem Pan em Brasília e escreve sobre o poder e seus bastidores

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