
O uso de paracetamol na gravidez se tornou tema de debates por uma suposta associação com o transtorno do espectro autista (TEA) — que afeta cerca de uma em cada cem crianças no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, até o momento, não há evidências científicas sobre isso. Os estudos mostram que o autismo resulta de uma complexa interação entre genes e fatores ambientais, e não de um único fator.
Segundo o neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe — que é o maior e mais completo pediátrico do país — esse tipo de abordagem costuma apresentar soluções simples para questões complexas. “Sugere-se que um único fator possa ser responsável pelo autismo ou que exista um tratamento milagroso capaz de resolvê-lo. Isso desvia a atenção do que realmente é eficaz: terapias, educação, inclusão e acolhimento”, salienta.
Amplamente utilizado no Brasil, o paracetamol é registrado e aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O medicamento possui segurança e eficácia comprovadas quando usado de forma adequada e com orientação médica ou farmacêutica. Por isso, o mais importante é que gestantes sempre usem medicamentos sob orientação médica.
O que a ciência já descobriu sobre paracetamol e autismo?
O neuropediatra explica que estudos observacionais iniciais sugeriram que crianças expostas ao medicamento no útero poderiam ter até 1,25 vez mais risco de desenvolver autismo. No entanto, esses resultados foram influenciados por fatores de confusão, já que o paracetamol geralmente é usado para tratar febre e infecções. Ou seja, são condições que também podem impactar o desenvolvimento neurológico.
Um estudo realizado na Suécia com 2,5 milhões de crianças não encontrou associação significativa entre o uso de paracetamol na gravidez e o risco de autismo, após ajuste para fatores ambientais e familiares.
Além dos fatores de confusão, existe o viés de recordação, em que a informação sobre exposições passadas é coletada por meio de relatos dos participantes, que podem não recordar com precisão eventos passados.
“Por exemplo, indivíduos que desenvolveram uma enfermidade podem ter uma tendência maior a exagerar ou minimizar suas exposições anteriores em comparação a indivíduos saudáveis, o que pode afetar a validade das estimativas de associação entre exposição e desfecho“, esclarece o neuropediatra.
Os diagnósticos de autismo aumentaram?
O aumento da prevalência de transtorno do espectro autista (TEA) não significa que mais crianças estão necessariamente desenvolvendo o transtorno. Segundo o especialista, uma compreensão mais profunda dos sintomas e alterações nos critérios de diagnóstico possibilitaram a identificação de casos mais leves.
“Além disso, houve um aumento na conscientização entre profissionais de saúde, instituições e a sociedade em geral. Isso resultou em uma maior busca por serviços de saúde mental e diagnósticos mais precisos e precoces”, complementa.
O que realmente está por trás do autismo?
Pesquisas apontam que o TEA envolve uma combinação de fatores genéticos e ambientais. De acordo com o especialista, aproximadamente mil genes têm sido relacionados ao transtorno, mas a sua influência não ocorre de maneira isolada. Ou seja, é a interação entre esses genes que pode aumentar a suscetibilidade de um indivíduo.
“Ademais, aspectos ambientais, como a idade avançada dos pais, o uso de determinados medicamentos durante a gravidez (como o ácido valproico) e o estresse vivido durante a gestação, podem ter papel significativo no aumento da incidência de casos”, finaliza.
Sobre o Pequeno Príncipe
Com sede em Curitiba (PR), o Hospital Pequeno Príncipe é o maior e mais completo hospital pediátrico do Brasil. Há mais de um século, a instituição filantrópica e sem fins lucrativos oferece assistência humanizada e de alta qualidade a crianças e adolescentes.
Destaques e Atuação
- Referência em Alta Complexidade: É um centro nacional em tratamentos complexos, atuando em 47 especialidades e realizando transplantes de rim, fígado, coração, ossos e medula óssea.
- Capacidade e Atendimento: Possui 369 leitos, sendo 76 de UTI. Promove 74% dos seus atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2024, realizou 259 mil atendimentos ambulatoriais e 20 mil procedimentos cirúrgicos.
- Complexo de Ensino e Pesquisa: O hospital faz parte do Complexo Pequeno Príncipe, que inclui as Faculdades Pequeno Príncipe e o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. É reconhecido como hospital de ensino desde a década de 1970, formando mais de dois mil especialistas.
Reconhecimento Internacional
- Melhor da América Latina: Pelo quinto ano consecutivo, foi listado como o melhor hospital exclusivamente pediátrico da América Latina no ranking da revista norte-americana Newsweek (2025), figurando entre os 70 melhores do mundo na área de pediatria.
- Hospital de Excelência: Foi recentemente reconhecido como Hospital de Excelência pelo Ministério da Saúde, certificação concedida a instituições que cumprem critérios técnicos rigorosos na assistência.