Os negócios do Agro e os acordos de unidade da COP30

A diversidade das atividades produtivas não é obstáculo — é nossa vantagem competitiva. E a unidade é o único caminho para transformar essa vantagem em futuro

Foto: Reprodução IA

Por Nelson Azevedo (*)

A Amazônia é, antes de tudo, uma obra coletiva. Aqui, ninguém prospera sozinho. A força do Polo Industrial de Manaus (PIM), o dinamismo do setor primário, a inteligência das universidades, a ciência dos nossos institutos e a resiliência das comunidades do interior compõem um mesmo ecossistema econômico e social. Somos diferentes, mas interdependentes. É dessa unidade construída na diversidade — tão amazônica quanto a floresta em pé que nos sustenta — que nasce o compromisso que precisamos reafirmar diante da COP30, em Belém.

Liderança em soluções climáticas

Afinal, como ficam os negócios do agro quando o Brasil assume, diante do planeta, a liderança em soluções climáticas? E mais: como dialoga a agropecuária brasileira com um modelo de desenvolvimento — a Zona Franca de Manaus (ZFM) — que responde pela indução de 30% de toda a economia da Região Norte, gera ciência, financia inovação e cria alternativas reais à pressão do desmatamento?

Credibilidade global

A resposta não está no conflito entre modelos, mas na integração responsável das atividades produtivas. O país só terá credibilidade global se agricultura, indústria, bioeconomia e comunidades tradicionais compartilharem um pacto de sustentabilidade real, mensurável e verificável. É isso que nos une.

O agro em novo terreno

Para a COP30, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) chega não como convidado, mas como coprotagonista de quatro grandes Planos de Aceleração de Soluções — iniciativas que envolvem FAO, Banco Mundial, entre outros, e até a Força-Tarefa para o Ar Limpo (CATF).

Isso não é detalhe técnico: é a moldura das regras que organizarão os fluxos de financiamento, certificação, rastreabilidade e valorização dos produtos agrícolas na economia global de baixo carbono.

RAIZ – agricultura resiliente para degradação zero

O Brasil e a FAO projetam o maior mapeamento de áreas degradadas da história nacional, conectando governos, investidores e comunidades. A ideia é simples e poderosa: restaurar solos, gerar empregos verdes, ampliar segurança alimentar e transformar o campo em sumidouro de carbono.

Para a Amazônia, isso significa reconhecer:

  • que existe agro possível sem desmate;
  • que há milhões de hectares degradados fora da floresta aguardando recuperação;
  • que restauração vale mais, economicamente, do que destruição.

Uso eficiente de fertilizantes

Codirigido pelo Reino Unido e pelo Brasil, o plano propõe amônia verde, bioinsumos e manejo nutricional inteligente. O objetivo é reduzir desperdícios, emissões e custos — uma equação que interessa tanto ao grande produtor quanto ao pequeno agricultor amazônico.

Remoção de carbono na agricultura

Biochar, plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, monitoramento avançado: o mapa tecnológico está claro. Quem não se adaptar ficará fora dos mercados mais exigentes.

Pecuária e arroz de baixo metano

A transição agroambiental da pecuária é inevitável. O produtor que reduzir metano, aumentar eficiência e adotar boas práticas será premiado. Quem insistir no atraso, ficará para trás — não por ideologia, mas por economia.

E onde entra a Zona Franca de Manaus nisso tudo?

A ZFM é o maior projeto de política industrial sustentável da história do Brasil. Não concorre com o agro. Complementa-o.

Enquanto o setor primário responde pela segurança alimentar e pela dinâmica exportadora nacional, a Zona Franca:

  • induz inovação e ciência;
  • financia universidades (como a UEA, a maior multicampi do país);
  • gera 138 mil empregos diretos e 500 mil indiretos;
  • reduz a pressão por desmatamento ao oferecer trabalho de cidade onde antes havia apenas extrativismo predatório.

Na Amazônia Ocidental, a política ambiental da Zona Franca de Manaus se caracteriza e se insere na comunhão entre a indústria, o comércio e o Distrito Agropecuário da Suframa, impulsionados a partir do Polo Industrial de Manaus.

Em nome da diversificação

Por isso, defender a floresta em pé exige reconhecer a importância do setor primário — mas também exige economia diversificada, inovação, pesquisa aplicada e cadeias produtivas integrais com a indústria. Não há Amazônia sustentável com uma economia de um só motor.

Unidade: o nome do jogo

Se a COP 30 define uma nova ambição climática global, a Amazônia chega à mesa com uma mensagem clara:

  • O agro brasileiro quer ser parte da solução, não do problema.
  • A Zona Franca de Manaus é um ativo climático global e deve ser reconhecida como tal.
  • A bioeconomia amazônica só se desenvolverá com indústria, ciência e produção legal.
  • Produtores, indústria, universidades e setor público precisam caminhar juntos.

O inimigo comum não é o produtor rural, nem o industrial, nem o pesquisador.

O inimigo é a ilegalidade — o desmatamento criminoso, o garimpo predatório, a grilagem, as invasões especulativas, a economia da destruição que não gera tributos, não produz ciência e não respeita gente.

Um pacto pelo território e pelas futuras gerações

A COP30 será histórica para o Brasil. E a Amazônia não chegou dividida.

Nossa força está na mensagem única: nós produzimos, conservamos e incluímos. A floresta em pé não é uma bandeira abstrata; é um projeto econômico completo, onde indústria, agro, inovação, ciência e comunidades caminham juntas.

A diversidade das atividades produtivas não é obstáculo — é nossa vantagem competitiva. E a unidade é o único caminho para transformar essa vantagem em futuro.

 (*) Nelson é economista, empresário, presidente do SIMMMEM – Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM

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