
Em meio à tensão comercial gerada pelas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o governo federal decretou sigilo de cinco anos sobre dois telegramas diplomáticos que mencionam os empresários Joesley e Wesley Batista e as operações da JBS em território norte-americano.
A decisão foi revelada após o jornal O Globo solicitar acesso ao conteúdo integral dos documentos, utilizando a Lei de Acesso à Informação (LAI), mas ter o pedido negado para as comunicações mais sensíveis.
O que está sob sigilo
O jornal O Globo solicitou ao Itamaraty o conteúdo das mensagens trocadas com a embaixada brasileira em Washington desde 1º de julho, buscando entender as movimentações dos irmãos Batista e da JBS diante do novo cenário comercial promovido pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Dos três telegramas que citavam a JBS ou seus dirigentes:
- Documento Liberado: Um telegrama de 26 de agosto foi disponibilizado. Nele, a embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti analisa os efeitos gerais das tarifas sobre os preços da carne bovina nos EUA.
- Documentos Confidenciais: Dois telegramas, datados de 14 e 31 de julho, foram classificados como reservados por cinco anos. O Termo de Classificação da Informação apenas indica, de forma genérica, que tratam de “investimentos de empresas brasileiras nos EUA” e “discussões parlamentares bilaterais sobre relações econômicas”.
Justificativa para a confidencialidade
O sigilo foi formalizado pelo ministro-conselheiro Kassius Diniz da Silva Pontes e baseia-se em um dispositivo da LAI que permite a restrição de acesso em dois casos principais:
- Comprometimento Internacional: Evitar impactos negativos em negociações ou nas relações internacionais do Brasil.
- Proteção de Dados: Proteger informações fornecidas em caráter confidencial por outros países ou organismos multilaterais.
O Itamaraty já utilizou a mesma justificativa anteriormente para classificar outros telegramas que abordam os interesses comerciais dos Batista na Venezuela, e outros 36 telegramas sobre o próprio “tarifaço” norte-americano também foram mantidos sob sigilo.
A conexão Trump e a JBS
O pano de fundo da polêmica envolve as relações da JBS com a administração americana:
- Tarifa Agressiva: Em 9 de julho, Donald Trump anunciou formalmente ao presidente Lula a imposição de uma taxa de 50% sobre as exportações brasileiras, com foco em produtos como carne.
- Reunião na Casa Branca: No começo de setembro, Joesley Batista esteve na Casa Branca para discutir diretamente com Trump a elevação das tarifas. A JBS é uma líder global em proteína animal e obtém cerca de metade de sua receita mundial (que atingiu US$ 77 bilhões em 2024) com suas nove unidades industriais nos EUA.
- Doações Políticas: Uma subsidiária da JBS, a Pilgrim’s Pride (com sede no Colorado), já havia sido noticiada pelo O Globo por doar US$ 5 milhões (cerca de R$ 27 milhões) para o comitê de posse de Trump e do vice J.D. Vance. Esse valor foi superior ao ofertado por gigantes americanas como Boeing, Uber e McDonald’s.
Questionado, o Ministério das Relações Exteriores declarou que “observa integralmente” a Lei de Acesso à Informação em suas comunicações. A JBS, por sua vez, não comentou o assunto até o momento.











