O centro jogou a toalha cedo demais; para FHC, o segundo turno das eleições já começou

Por José Maria Trindade*

FHC se encontrou com Lula na manhã desta sexta-feira, 21, em um almoço para debater a democracia e o “descaso” do governo de Jair Bolsonaro – Foto: BRUNO ROCHA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Diz uma máxima do marketing político de que candidato ou aliado não pode admitir derrota antes da eleição nem trancado no banheiro, sozinho e com a luz apagada. A disputa eleitoral é como um duelo nos modos faroeste, quem pisca primeiro, leva chumbo.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso piscou, admitiu a derrota e leva junto o grupo que procura desesperadamente uma saída de centro diante do quadro desenhado de disputa no segundo turno no ano que vem entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente LulaAo dizer que apoia Lula no segundo turno, o líder de uma fatia importante de políticos, e de um quase nada de eleitores, está transmitindo a mensagem de que já perdeu. Para o ex-presidente FHC, o processo político já está no segundo turno.

O calendário político é diferente do calendário nosso de cada dia. Para as raposas de plantão, a disputa eleitoral já começou e 2022 já é realidade.

Todos se ajeitam. A estratégia é dominar o Congresso. Não importa mais quem será o próximo presidente, mas será definitivo o domínio da Câmara e do Senado. Os partidos estão trabalhando a todo vapor para fazer bancadas. Era a estratégia primeira do PT, mas que agora pensa também na possibilidade de voltar ao Palácio do Planalto.

O PSDB, DEM, MDB, PSL e todos os partidos só pensam em formar uma boa base parlamentar. Os partidos, como boas lojinhas, faturam mais quanto mais garrafas têm para entregar.

Analistas dizem que Fernando Henrique está equivocado e que o quadro ainda não está fechado. O centro político, o grupo tradicional do poder, está avaliando o que fazer diante do que existe e pode aparecer uma nova linha.

O que falta é um nome. Há um apagão no meio político. Daí a busca por Luciano HuckSergio Moro e outros que habitam longe do camarote eleitoral. A evidência é de que, se não houver uma saída viável, esse grupo vai se dividir entre Bolsonaro e Lula. E rápido.

Dizem que, em política, como na fazenda, “o boi que chega primeiro na lagoa bebe água limpa. As negociações estão em curso. Nada está parado a espera do tempo passar. O ex-presidente Lula é mesmo candidato, segundo me informaram políticos experientes que estiveram com ele na visita de uma semana.

O petista foi atrás de conhecidos políticos, se reuniu com líderes e representantes de setores que dominam estruturas partidárias.

Já está na hora de formar os palanques regionais. Onde Lula vai bem, se aliar a ele é uma questão de lógica para candidatos a governos estaduais.

Há uma fila neste ponto e o grupo do PT está avaliando cenário por cenário. A surpresa aí é que José Dirceu voltou à ativa. Articula como nunca e conversa com setores importantes. O presidente Jair Bolsonaro entendeu a estratégia e armou a resposta: entra pelo outro lado. Em política, funciona assim: quando um prefeito ou governador apoia um candidato, a única possibilidade é entrar pelo outro lado, ou seja, ocupar a segunda e importante posição. O chamado centro está perdido, e quando definir por um candidato, vai encontrar os caminhos sem pontes e cancelas.

Esta é uma fase muito importante no processo político. Quanto mais o tempo passa, fica proporcionalmente mais difícil fechar alianças e coligações. Portanto, senhores, nada está parado e quem dorme na política acorda sem espaço, derrotado e fora da onda vencedora. Vai enfrentar a planície.

* É jornalista, comentarista político, correspondente da Jovem Pan em Brasília e escreve sobre o poder e seus bastidores.

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