Morre poeta amazonense Thiago de Mello aos 95 anos

Poeta Thiago de Mello pregou o uso de linguagem acessível ao leitor comum e lamente produção atual - Foto: Leonardo Lara/OTEMPO

Morreu na madrugada desta sexta-feira (14), aos 95 anos, o poeta e tradutor amazonense Thiago de Mello. Ele faleceu em casa, em Manaus. A causa da morte ainda não foi informada.

A informação foi divulgada por meio do Twitter do escritor Sérgio Freire, com a frase “Partiu o poeta Thiago de Mello”, e confirmada nos comentários da publicação.

Amadeu Thiago de Mello nasceu em Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha, interior do Estado do Amazonas, no dia 30 de março de 1926. Thiago de Mello é considerado um dos poetas mais influentes e respeitados do Brasil e reconhecido como um ícone da literatura regional.

Thiago de Mello, a luz da poesia

Thiago de Melo era o maior poeta brasileiro vivo até falecer, na madrugada desta sexta-feira. A luz dos seus versos e da sua extensa obra haverá, agora, de ser mais intensa nos gestos e nas palavras dos homens de boa vontade. Ele estava no mesmo nível de gigantes da poesia como Pablo Neruda, Garcia Lorca, Carlos Drummond de Andrade e Walt Whitman. Seu poema Os Estatutos do Homem, reconhecido pela ONU, é uma verdadeira joia de homenagem aos direitos da pessoa humana.

Velório será no Palácio Rio Negro em Manaus

A confirmação do local foi feita pelo escritor Tenório de Telles que está na casa do poeta junto com os seus familiares.

“A previsão do início do velório é até o final da manhã”, comentou o escritor.

Os Estatutos do Homem

(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

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