Morre Mario Vargas Llosa, escritor e Nobel de Literatura, aos 89 anos

Segundo comunicado divulgado pela família, não haverá uma cerimônia pública de velório, e o corpo será cremado

Escritor peruano Mario Vargas Llosa, laureado com o Nobel de Literatura de 2010 – Foto: Arild Vågen/ Wikimedia Commons

Mario Vargas Llosa, escritor peruano e vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 2010, morreu neste domingo, 13, aos 89 anos. A informação foi divulgada por seu filho, Álvaro, na rede social X. Ele vivia em Lima, no Peru.

De acordo com um comunicado divulgado pela família, não haverá uma cerimônia pública de velório, e o corpo será cremado.

Vargas Llosa foi colunista do Estadão entre 1996 e 2024. A última foi publicada pelo jornal em 21 de fevereiro de 2024, intitulada “Por que a verdade é a pedra de toque do jornalismo?”

Um dos pontos altos de sua trajetória ocorreu em 7 de outubro de 2010, quando venceu o Prêmio Nobel da Literatura. Segundo a Academia Sueca, que organiza o evento, ele recebeu a condecoração “por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota do indivíduo” (leia mais abaixo).

Comunicado da família sobre a morte de Vargas Llosa

“Com profunda dor, informamos ao público que nosso pai, Mario Vargas Llosa, morreu hoje em Lima, cercado por sua família, e em paz.

Sua partida entristecerá a seus parentes, seus amigos e seus leitores ao redor do mundo, mas esperamos que encontrem consolo, como nós, no fato de que ele gozou de uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa para trás uma obra que o fará sobreviver.

Procederemos nas próximas horas e dias de acordo com as suas instruções. Não haverá nenhuma cerimônia pública. Nossa mãe, nossos filhos e nós mesmos confiamos em ter espaço e privacidade para a despedida em família e na companhia de amigos próximos.

Seus restos mortais, como era de sua vontade, serão incinerados “

Escrito fez parte do ‘boom’ latino-americano

Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa integrou o chamado ‘boom’ latino-americano ao lado de outros grandes nomes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

“Com profunda dor, tornamos público que nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, cercado por sua família e em paz”, escreveu seu filho mais velho, Álvaro, em uma mensagem também assinada por seus irmãos Gonzalo e Morgana.

“Sua partida entristecerá seus parentes, seus amigos e seus leitores ao redor do mundo, mas esperamos que encontrem consolo, como nós, no fato de que ele gozou de uma vida longa, múltipla e frutífera”, acrescentou a família no comunicado divulgado nas redes sociais.

Vargas Llosa descreveu as realidades sociais em obras-primas como “A cidade e os Cachorros” ou “A Festa do Bode”. Admirado na Literatura, suas posições liberais despertaram hostilidade em um meio intelectual com tendência de esquerda.

“Nós, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real da ficção. É por isso que temos músicos, poetas, pintores e escritores tão bons, e também governantes tão horríveis e medíocres”, disse pouco antes de receber o Prêmio Nobel em 2010.

Sua universalidade foi ressaltada quando foi integrado à Academia Francesa em 2023.

Nascido na cidade de Arequipa (sul do Peru) em 28 de março de 1936 em uma família de classe média, foi educado por sua mãe e seus avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois no Peru.

Após seus estudos na Academia Militar de Lima, Vargas Llosa obteve uma licenciatura em Letras e deu seus primeiros passos no Jornalismo.

O escritor se mudou em 1959 para Paris, onde se casou com sua tia política Julia Urquidi, 10 anos mais velha que ele (e que inspiraria mais tarde a protagonista de “Tia Julia e o Escrevinhador”) e exerceu várias profissões: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse (AFP).

Anos depois, rompeu com Urquidi e se casou com sua prima-irmã e sobrinha de sua ex-mulher, Patricia Llosa, com quem teve três filhos e 50 anos de relacionamento.

Vargas Llosa se divorciou de Patricia após iniciar em 2015, com quase 80 anos, um romance com uma personalidade conhecida do mundo de Madri, Isabel Preysler (ex-parceira do cantor Julio Iglesias). Em 2022, anunciaram sua separação.

Carreira

Sua longa carreira literária despontou em 1959, quando publicou seu primeiro livro de contos, “Los jefes”, com o qual recebeu o Prêmio Leopoldo Alas. Mas ganhou notoriedade com a publicação do romance “A Cidade e os Cachorros”, em 1963, seguido três anos depois por “A Casa Verde”.

Seu prestígio foi consolidado com “Conversa no Catedral” (1969). Seguiram depois “Pantaleão e as Visitadoras”, “Tia Julia e o Escrevinhador”, “A Guerra do Fim do Mundo”, “Peixe na Água” (memórias de sua campanha eleitoral), “A Festa do Bode” ou “O sonho do celta”, publicado pouco antes de receber o Nobel.

Ele afirmou na época que seguiria escrevendo até o último dia de sua vida. E cumpriu a palavra. Em seguida, publicou “O herói discreto” ou “Tempos Ásperos”, sobre a agitada história da Guatemala no século XX, que lhe rendeu o Prêmio Francisco Umbral de Romance.

Com sua obra traduzida para 30 línguas, Vargas Llosa recebeu os prêmios Cervantes, Príncipe das Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Romance do Peru e o Rómulo Gallegos, entre outros.

Em abril de 2022, Vargas Llosa apresentou em Madri seu livro “La mirada quieta (de Pérez Galdós)”, um ensaio sobre o escritor espanhol Benito Pérez Galdós.

Escritor laureado… polêmico na política

Se o legado literário de Vargas Llosa é inquestionável, seu legado político é controverso.

Politicamente, ele foi seduzido pelo governo de Fidel Castro, mas, em 1971, rompeu com a revolução castrista diante do caso do poeta Heberto Padilla, obrigado pelo regime a fazer uma “autocrítica”.

Foi candidato à presidência do Peru em 1990. Era o favorito até que surgiu o então desconhecido agrônomo Alberto Fujimori, que acabou sendo eleito.

Após seu fracasso político, ele retornou à literatura, de onde – segundo afirmou – nunca deveria ter saído.

Teve uma grande amizade com o escritor colombiano García Márquez, que terminou abruptamente com um soco do peruano, em um episódio cercado de mistério. “Que os biógrafos se encarreguem desse tema”, disse Vargas Llosa.

Mario Vargas Llosa acompanhou vivamente a evolução da política mundial e criticou nos últimos anos o populismo. Ele obteve a nacionalidade espanhola em 1993.

Fonte: https://odia.ig.com.br/mundo-e-ciencia/2025/04/7038423-morre-mario-vargas-llosa-escritor-e-nobel-de-literatura-aos-89-anos.html

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