Impasse do MDB sobre candidatura de Simone Tebet mostra que a política brasileira está repleta de covardes

Parlamentares do partido querem impedir candidatura de senadora à Presidência da República para que a sigla apoie Lula

Por Álvaro Alves de Faria (*)

Ele ameaçou e cumpriu a ameaça. A política brasileira está repleta de fatos covardes. Coisa de gente que não vale nada mesmo. Uma ala do MDB tenta anular a convenção do partido, amanhã, quarta-feira, 27, que oficializará o nome da senadora Simone Tebet como candidata do partido à Presidência da República. Em vez de ler uma “ala”, o leitor deve ler “Renan Calheiros”, ele mesmo, aquele. Pois tendo Calheiros à frente, essa ala já entrou com o pedido no Superior Tribunal Eleitoral nesta segunda-feira, 25, assinado por Hugo Wanderley, prefeito de Cacimbinha, Alagoas. Eles gostam de uma confusão. Julgam-se os donos de tudo. A política brasileira é sórdida.

Um desses indivíduos, o senador Renan Calheiros, não desistiu de judicializar a convenção do MDB caso o nome da senadora Simone Tebet seja mesmo confirmado como candidata do partido para a Presidência da República. A turma de Calheiros deseja afastar a senadora e exige que o MDB apoie Luiz Inácio da Silva (PT), visando – como eles dizem – uma vitória do ex-presidiário por corrupção já no primeiro turno. Calheiros argumenta que Simone não tem a mínima chance de vitória. Por isso, o MDB deve partir para outro candidato, e esse outro candidato tem de ser Lula. Na base da truculência, própria desses sujeitos, Calheiros diz que se a candidatura de Simone for mantida, o MDB vai encolher em todo o país. Já o presidente do MDB, deputado federal Baleia Rossi, garante que a convenção está mantida, deixando subtendido que Renan Calheiros deve ir para a casa do chapéu.

Renan Calheiros afirma que sem diálogo sobre o desempenho de Simone até aqui não se chegará a lugar nenhum. “É uma insanidade sacrificar o MDB nos Estados”, diz ele, acrescentando que essa insistência no nome da senadora representa uma obsessão. O nome de Simone deverá ser oficializado pelo presidente da legenda, Baleia Rossi, que acredita que durante a campanha eleitoral o nome da senadora crescerá nas pesquisas de intenção de voto e terá condições de chegar ao segundo turno. Diante do impasse, dirigentes do MDB procuraram o ex-presidente Michel Temer para pedir conselhos, já que Temer se tornou uma espécie de orientador filosófico e político do partido. Temer atendeu todo mundo e encaminhou a Baleia Rossi o pedido de adiar a convenção. Não aconteceu nada. Com um tom irritado, Baleia Rossi respondeu que a convenção está mantida. O grupo que apoia Lula tem nomes de peso no partido, mas não tem o controle dos diretórios estaduais que, em maioria, apoiam a senadora.

Do seu lado, Simone Tebet diz que esse apoio de parte do MDB a Lula tem cheiro de naftalina. E são sempre os mesmos que acham que mandam no partido. O deputado federal Baleia Rossi assegura que o setor jurídico do partido está muito seguro e tranquilo caso a convenção seja judicializada. O senador Renan Calheiros pode fazer o que bem entender, como é seu costume de passar por cima de todo mundo como se fosse ele o dono do partido. Baleia Rossi afirma que essa atitude de Calheiros, antes de tudo, representa uma grande violência contra uma candidatura feminina. A convenção será realizada em formato virtual, que a turma de Renan critica, dizendo tratar-se de uma maneira de tornar tudo mais fácil. Mas os dirigentes do MDB que apoiam Simone Tebet responde dizendo que a data e o modelo da convenção foram determinados em 5 reuniões e que ninguém contestava o nome de Simone Tebet. E de repente, ao seu feitio, a figura manjada de Renan Calheiros surge no cenário e quer mudar tudo para favorecer Luiz Inácio da Silva, outro que não perde oportunidade alguma para revelar seu verdadeiro caráter.

A senadora Simone Tebet mandou recado para Calheiros e sua turma, dizendo que não tem medo de “cara feia” e que a ideia de judicializar a questão é uma atitude “rasteira”. “Minha preocupação com isso é zero”, diz a senadora. Já Renan Calheiros parece estar preparado para uma guerra. Ele acha que pode tudo. Simone afirma que de todo esse pessoal só se salva a figura do ex-presidente Michel Temer. O resto é tudo amiguinho de Lula que também deve procurar a turma dele e deixar de fazer tantas manobras em proveito próprio.

(*) Jornalista, poeta e escritor. Autor de mais de 80 livros, entre romances, ensaios e especialmente poesia, publicados no Brasil, em Portugal, na Espanha e na Itália. Também autor de teatro. Uma das vozes mais importantes da geração de 1960 da poesia brasileira.

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