O período natalino costuma ser marcado por promessas de solidariedade que nem sempre sobrevivem à passagem do tempo. No entanto, em Manaus, um projeto demonstra que a constância é o segredo para a verdadeira transformação social. O Natal Maçônico da Esperança, realizado pela Loja Maçônica Esperança e Porvir número 1, completou 58 anos de atuação ininterrupta em dezembro de 2025. A iniciativa não apenas entrega alimentos, mas renova o senso de comunidade em uma região marcada por grandes distâncias e vulnerabilidades extremas.
No último sábado, dia 20 de dezembro de 2025, a sede histórica da instituição no centro da capital amazonense foi palco de um movimento intenso. Mesmo sob a chuva característica da região nesta época do ano, centenas de famílias cadastradas compareceram para receber as cestas básicas e panetones. Ao todo, foram beneficiadas mais de duas mil famílias em uma operação logística que envolveu tanto a área urbana quanto as zonas rurais e indígenas do estado.
Solidariedade que navega pelos rios
A ação alcançou 27 comunidades ribeirinhas e indígenas entre os dias 12 e 14 de dezembro. Por meio de uma embarcação que percorreu os rios do estado, foram entregues 1.319 cestas acompanhadas de kits escolares e brinquedos. Essa mobilização fluvial é essencial, pois muitas dessas famílias vivem em locais de difícil acesso onde a ajuda raramente chega com regularidade.
Entre as localidades atendidas pela viagem do barco recreio, destacam-se pontos importantes para a cultura e sobrevivência local, como as comunidades de Santa Isabel, Nova Esperança do Apuau, São Francisco e diversas aldeias indígenas como Tatuyo e Cipiá. Para essas populações, o recebimento de itens básicos e materiais escolares representa um alívio financeiro e um incentivo à educação das crianças para o ano de 2026.
Rostos e vozes que transformam doações em dignidade humana
Por trás dos números expressivos existem relatos emocionantes de quem luta diariamente contra a insegurança alimentar. Deuselina Pereira Dias, de 56 anos, foi uma das primeiras a chegar para a distribuição em Manaus. Desempregada e responsável por dois netos, ela relatou que a fome das crianças é o que mais dói no coração de uma provedora. A gratidão de Deuselina ao garantir uma ceia digna é o combustível que mantém o projeto vivo há quase seis décadas.
Outro exemplo de resiliência é a aposentada Maria Madalena Cordeiro Andrade, de 74 anos. Única provedora de seu lar, ela destacou que o valor da aposentadoria mal cobre as despesas fixas como água e luz. Para ela, o rancho recebido garante que todos na casa, incluindo seus animais de estimação, possam se alimentar bem durante as festividades. Essas histórias humanizam a estatística e mostram que a filantropia organizada preenche lacunas deixadas pela falta de políticas públicas mais abrangentes.
Compromisso histórico e o papel da maçonaria
A Loja Maçônica Esperança e Porvir número 1 é a mais antiga do Amazonas, com 153 anos de fundação. Além da grande mobilização de dezembro, o trabalho de assistência social ocorre durante todo o ano por meio de diversas frentes de apoio.
- Distribuição semanal de sopas e kits de higiene todas as quintas-feiras no Centro de Manaus.
- Entrega de pães, leite e mingau para mães com bebês de até dois anos.
- Doação de picolés para crianças em situação de rua durante as ações semanais.
O grão-mestre Tufi Salim explicou que a decisão de realizar a entrega uma semana antes do Natal visa permitir que as famílias se organizem com antecedência para a ceia. Em tempos de incertezas econômicas, ver uma tradição de quase seis décadas se fortalecer é um sinal de que a união de esforços da sociedade civil organizada pode, sim, gerar esperança concreta. O Natal Maçônico da Esperança deixa de ser apenas uma entrega de donativos para se tornar um símbolo de resistência e cuidado humano no coração da Amazônia.
Assessoria de comunicação: Shirley Assis
