Fim de uma era: Bonner narra a cobertura mais violenta de sua carreira

Operação policial mais letal do Rio relembra cobertura de conflito em 2005, também noticiada pelo jornalista

William Bonner na bancada do Jornal Nacional nesta terça-feira (28) e em 2005 – Foto: TV Globo/Reprodução

A última semana de William Bonner no comando do Jornal Nacional (JN) coincidiu com a cobertura da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que resultou em 64 mortes nesta terça-feira (28). Este episódio notável remete a uma cobertura histórica feita pelo apresentador há exatamente 20 anos, evidenciando a escalada da violência urbana e a mudança na narrativa jornalística.

20 anos de violência: os dois extremos

Vinte anos depois de noticiar a Chacina da Baixada Fluminense — o episódio com 29 vítimas em 31 de março de 2005 e até então o mais letal — Bonner voltou a narrar uma operação com mais do que o dobro de fatalidades, sublinhando a gravidade do conflito entre forças de segurança e o crime organizado no estado.

  • 2005: Chacina da Baixada Fluminense (29 mortos), noticiada por William Bonner e Fátima Bernardes.
  • 2025: Operação no Complexo do Alemão/Penha (64 mortos), noticiada por William Bonner e Renata Vasconcellos.

A Operação de 2025: confronto e paralisia

A operação mais recente, ocorrida em 28 de outubro de 2025, mobilizou 2,5 mil agentes para cumprir 94 mandados de prisão contra chefes do Comando Vermelho no Complexo do Alemão e da Penha.

A ação, iniciada por volta das 06h, foi marcada por:

  • Intensos tiroteios.
  • Uso de drones para lançar explosivos.
  • Barricadas erguidas em vias expressas.
  • Paralisação do transporte público e do comércio em diversas regiões.

Diferenças nas coberturas do JN

O foco e o tom adotados pelo Jornal Nacional nas duas épocas refletem a evolução do cenário de segurança e da abordagem jornalística:

1. Cobertura de 2005: denúncia e comoção social

Em 2005, o JN dedicou aproximadamente 5 minutos à cobertura, centrada na Chacina da Baixada Fluminense.

  • Linguagem e Tom: Mais contida, formal, de denúncia e com foco na comoção social.
  • Foco Principal: A brutalidade dos assassinatos de civis (incluindo crianças), a dor das famílias e a suspeita de envolvimento de policiais militares no crime.
    • Citação da época (Fátima Bernardes): “Chega a 30 o número de mortos na maior chacina já registrada no estado do Rio. A barbárie foi ontem à noite em dois municípios da Baixada Fluminense. Policiais militares são os principais suspeitos do crime.”
  • Ênfase: O caráter de tragédia, a repercussão internacional e a urgência de punição, com destaque para a indignação de autoridades como o então presidente Lula.

2. Cobertura de 2025: institucional e analítica

A reportagem desta terça-feira (28) teve cerca de meia hora de duração, com matérias gravadas intercaladas por comentários dos âncoras.

  • Linguagem e Tom: Mais institucional e analítica, refletindo a complexidade do crime organizado.
    • Citação da época (William Bonner): “Uma batalha entre policiais e bandidos do Comando Vermelho voltou a mostrar a dimensão do desafio que o crime organizado impõe às autoridades e a sociedade no Rio de Janeiro.”
  • Foco Principal: Um confronto direto entre polícia e traficantes, a estrutura da operação e o impacto na rotina da cidade.
  • Ênfase:
    • O debate político e institucional (disputa entre governos sobre o uso de blindados).
    • A influência da ADPF 635 do STF na letalidade policial.
    • A reação de organismos internacionais, como a ONU.
    • Os efeitos práticos na vida dos moradores, com paralisações e balas perdidas.

A principal diferença foi que o foco mudou da chacina (assassinato de civis por agentes) para um confronto entre polícia e traficantes, explorando o impacto cotidiano e o embate entre as autoridades.

A transmissão foi encerrada às 21h09, marcando as últimas reportagens de William Bonner sobre grandes operações no comando do Jornal Nacional.

Fonte: https://gente.ig.com.br/tvenovela/2025-10-28/ultima-semana-no-jn-20-anos-atras–bonner-noticiou-chacina-no-rj.html

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