
Uma cooperativa do Nordeste brasileiro acaba de abrir uma porta histórica para a agricultura familiar na Europa. Neste domingo, 14 de dezembro, foi selado um acordo para a exportação de 140 toneladas de farinha de mandioca para a Itália. O negócio foi fechado durante o primeiro dia da missão técnica internacional conduzida pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) em solo italiano.
Essa conquista não é apenas comercial, mas simbólica. Ela marca a entrada de um produto tipicamente brasileiro e de raiz popular em um dos mercados gastronômicos mais exigentes do mundo, reforçando o objetivo do Programa Rotas de Integração Nacional de levar competitividade e renda para regiões que precisam de desenvolvimento econômico.
O acordo na terra das massas
A negociação focada na “Rota da Mandioca” foi firmada com uma importadora de alimentos localizada em Pieve di Soligo, na região do Vêneto. Para que o produto brasileiro chegasse a esse patamar, houve um intenso trabalho de bastidores.
Segundo Samuel de Castro, Coordenador de Sistemas Produtivos e Inovadores da Secretaria de Desenvolvimento Regional, essa compra valida a eficácia das políticas públicas atuais. Ele explica que o papel do ministério vai além da articulação política. O órgão apoia a agricultura familiar na adequação às normas de vigilância sanitária e oferece suporte em infraestrutura e equipamentos. O objetivo é garantir que a farinha nordestina tenha a qualidade premium necessária para atender às rígidas exigências internacionais, como as da Itália.
Transformando sonhos em renda no campo
Para quem vive da terra, o contrato representa a valorização do suor diário. A farinha que cruzará o oceano será produzida pela Cooperativa dos Produtores de Farinha de Mandioca do Município de Campo de Brito (Coofama), em Sergipe.
Luciano Monteiro da Silva, presidente da Carpil (Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios), definiu o sentimento dos produtores ao ver o negócio concretizado. Para ele, nasce no Nordeste uma nova esperança. Luciano destacou a ironia positiva de ver a farinha de mandioca ganhando espaço na “terra das massas”, transformando o trabalho das famílias sergipanas em renda real e digna.
A estratégia por trás da venda
Essa missão internacional é fruto de uma articulação conjunta com a União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes). A entidade atua como uma ponte estratégica, apresentando as cooperativas brasileiras aos compradores estrangeiros.
Aparecido Alves de Souza, presidente da Unicafes Brasil, reforçou que a missão da entidade é justamente internacionalizar os produtos da agricultura familiar, construindo parcerias sólidas que garantam não apenas vendas pontuais, mas um fluxo contínuo de negócios.
O grupo brasileiro iniciou o roteiro estratégico na semana passada no Cairo, Egito, participando da Food Africa 2025, e agora segue na Europa fortalecendo o protagonismo dos produtos nacionais.
Amazonas tem volume e qualidade, mas foco segue no mercado interno
A notícia da exportação nordestina serve como um espelho importante para o Amazonas. Se a questão fosse apenas volume de produção, o estado já estaria liderando essas missões internacionais. O Amazonas é uma potência agrícola no setor, com uma safra estimada em mais de 780 mil toneladas para 2025.
A diferença crucial entre o cenário local e o da cooperativa que fechou negócio com a Itália está no destino do produto. Enquanto o grupo do Nordeste focou na padronização para atender regras sanitárias europeias, a produção amazonense ainda é quase totalmente absorvida pelo consumo interno. O amazonense ostenta o título de maior consumidor per capita de farinha do mundo, o que garante um mercado doméstico forte e imediato, muitas vezes desestimulando a complexa busca pela exportação.
O potencial da farinha de Uarini

Apesar disso, o Amazonas possui um trunfo que poucos estados têm: a sofisticação do produto. A famosa Farinha de Uarini, por exemplo, detém o selo de Indicação Geográfica (IG). Esse reconhecimento é considerado um passaporte dourado para mercados de alta gastronomia na França e na Itália, que valorizam a origem e a tradição do alimento.
O que falta para o Amazonas protagonizar uma manchete similar à de Sergipe é a conexão da ponta produtiva com o comprador internacional e a superação de gargalos burocráticos. Ações recentes, como a lei estadual que cria os “Polos de Produção da Mandioca” e os investimentos do Idam em capacitação técnica, tentam preparar o terreno.
Para o produtor local, a lição deixada pela missão na Itália é clara. A organização em cooperativas e o rigor na certificação sanitária são as chaves para que a farinha do Uarini ou do Juruá deixe de ser apenas uma iguaria regional e se torne um produto de exportação global.
Assessoria de Comunicação Social do MIDR











