
De acordo com o jornal O Globo, Ary Renato Vasconcelos de Souza, ex-presidente da Fundação de Previdência do Estado do Amazonas (Amazonprev) e filiado ao União Brasil, autorizou um investimento de R$ 50 milhões em títulos sem garantias do Banco Master, instituição financeira que foi liquidada pelo Banco Central após entrar em crise.
A operação, realizada em junho de 2024, agora é alvo de investigação da Polícia Federal por indícios de fraudes.
Documentos internos da Amazonprev revelam que o aporte ocorreu sem autorização colegiada do fundo de previdência e sem análise de risco formal, contrariando as normas da fundação responsável por administrar as aposentadorias dos servidores estaduais.
A irregularidade levou o Comitê de Investimentos da entidade a abrir um processo interno para apurar eventuais descumprimentos de regras.
Ligações partidárias
Souza possui vínculos estreitos com o governo de Wilson Lima (União Brasil). Ele já foi secretário-executivo extraordinário de Projetos da Casa Civil da gestão estadual e atuou como contador da campanha à reeleição do governador em 2022, recebendo R$ 15 mil pelo serviço de assessoria financeira.
Em dezembro de 2022, Souza se filiou ao União Brasil e, logo em seguida, foi nomeado gerente de Administração e Finanças da Amazonprev em janeiro de 2023. Na época da transação com o Banco Master, ele ocupava justamente esse cargo. Quase um mês após o polêmico investimento, foi promovido a diretor-presidente da fundação, onde permaneceu por dez meses até ser exonerado em maio deste ano.
A empresa de contabilidade da qual Souza é sócio também presta serviços ao diretório estadual do União Brasil no Amazonas, evidenciando a proximidade do ex-gestor com a estrutura partidária.
Operação sem respaldo técnico
Conforme O Globo, um relatório de investimentos da Amazonprev aponta a ausência de registros formais de reunião ou deliberação da diretoria sobre a aquisição dos papéis do Banco Master.
Segundo as normas internas da fundação, operações desse porte deveriam passar por análise técnica do Comitê de Investimentos e aprovação colegiada antes de serem executadas.
A primeira denúncia sobre aplicações realizadas sem decisão colegiada na Amazonprev foi protocolada no Ministério Público do Amazonas em outubro deste ano pelo coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores de Justiça do Amazonas (Sintjam), Roberto Dávila.
Na ocasião, o Tribunal de Justiça do Amazonas criou um grupo de trabalho para proteger a administração orçamentária do fundo.
Governo defende operação
Em nota, o governo do Amazonas defendeu que o aporte no Banco Master corresponde a “menos de 0,5% do total de aplicações da instituição” e que o montante “não precisa de aprovação colegiada”.
A gestão de Wilson Lima também destacou a “capacidade técnica” de Ary Renato e informou que, durante seu período à frente da Amazonprev, entre junho de 2024 e maio de 2025, a política de investimentos resultou em um retorno de R$ 864 milhões.
A Amazonprev reforçou que a operação com o Banco Master não oferece qualquer risco ao pagamento de aposentados e pensionistas, afirmando que a fundação possui receita que garante o cumprimento integral de todas as obrigações junto aos beneficiários.
Procurado pela reportagem de O Globo, Ary Renato Vasconcelos de Souza não atendeu ligações nem respondeu mensagens. O União Brasil também não se manifestou sobre o caso.
Escândalo nacional
A Polícia Federal investiga as circunstâncias da venda de títulos do Banco Master a fundos de previdência em todo o país. Entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, essas operações renderam ao menos R$ 1,867 bilhão ao banco, que dependia da captação desses recursos para sobreviver no mercado.
Ao todo, 14 entidades previdenciárias municipais e três estaduais fizeram aportes na instituição financeira. Entre os casos mais emblemáticos estão o da Amapá Previdência, que investiu R$ 400 milhões, e do Rioprevidência, que aportou R$ 900 milhões em papéis do Master, mesmo diante de alertas do Tribunal de Contas do Estado.
O dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, foi preso pela PF no Aeroporto de Guarulhos quando tentava embarcar para os Emirados Árabes, logo após o anúncio da venda do banco. Ele foi solto recentemente sob a condição de usar tornozeleira eletrônica. A investigação trouxe à tona indícios de fraude de R$ 12,2 bilhões em transações com o BRB, banco estatal de Brasília.











