
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu um processo administrativo para analisar a venda dos ativos de níquel da Anglo American no Brasil para a MMG, subsidiária da estatal chinesa China Minmetals, por US$ 500 milhões. O despacho foi assinado na terça-feira (26/08) pelo superintendente-geral Alexandre Barreto de Souza.
A operação gerou controvérsia porque a Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim e sediada na Holanda, afirma ter apresentado uma oferta maior, de US$ 900 milhões, mas não foi aceita pela Anglo American. A companhia contesta o acordo no Brasil e na União Europeia, alegando risco de concentração de mercado e ameaça à segurança de suprimento de países ocidentais.
A operação inclui os complexos de Barro Alto e Codemin (Niquelândia), em Goiás, além de projetos de exploração em Morro Sem Boné (MT) e Jacaré (PA). Com o negócio, a MMG passa a controlar cerca de 60% da produção nacional de níquel, ampliando a influência chinesa em um insumo considerado estratégico para baterias, veículos elétricos e aço inoxidável.
Contexto geopolítico e contestações
Segundo a Corex, a venda consolidaria ainda mais a posição da China no setor, já que empresas controladas pelo governo chinês podem atingir quase metade do fornecimento global de níquel.
No Brasil, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi acionado para investigar possíveis violações de restrições à compra de terras rurais por estrangeiros, já que os ativos ficam em áreas sensíveis de Goiás, Mato Grosso e Pará. Em ofício, o órgão citou riscos à soberania nacional.
“Revela-se contraditório que o Brasil, detentor de significativa diversidade e abundância de recursos minerais estratégicos, permita a sistemática exploração dessas riquezas por agentes estrangeiros, sem o correspondente desenvolvimento de sua cadeia produtiva nacional”, disse a Corex ao Incra.
Já na petição enviada à Comissão Europeia, a companhia afirmou que “este desenvolvimento contribui significativamente para reduzir a dependência da UE de capacidades de refino concentradas, particularmente em meio a desafios geopolíticos e de mercado em curso”.
Nos Estados Unidos, o AISI (Instituto Americano do Ferro e do Aço) pediu ao governo do presidente Donald Trump (republicano) que pressione o Brasil a rever o acordo. A entidade alega que a operação reforça a dependência global da China em minerais críticos.
Posição das empresas e avaliação do Cade
A Anglo American afirmou que a venda segue sua estratégia de concentrar operações em cobre, minério de ferro e nutrientes agrícolas. Já a MMG diz que cumprirá todas as exigências regulatórias e que o negócio “representa uma grande realização para empregados, comunidades locais e acionistas”.
O Cade avaliará se a aquisição reduz a concorrência no mercado brasileiro e traz impactos econômicos e geopolíticos. O tribunal administrativo do órgão poderá aprovar, impor restrições ou vetar a operação.