
A suspensão oportuna ou quando o calendário vira peça jurídica
Nada como uma medida cautelar milagrosa para reorganizar o relógio político. A eleição do Quinto Constitucional da OAB-AM estava marcada, tudo pronto, até que, num passe jurídico digno de revelação divina, veio a suspensão.
Motivo oficial? Um recurso técnico. Motivo extraoficial? Evitar que a decisão caísse no colo do governador Wilson Lima, enquanto ele ainda segura a caneta.
Nos bastidores, a leitura é cristalina: se a eleição acontece agora, a lista tríplice vai parar na mesa do governador. Se empurrar para depois de abril, quando Wilson Lima deve sair para disputar outro cargo, a caneta muda de mão.
Tudo coincidência? Só para quem ainda acredita em Papai Noel institucional.
Medo de Wilson Lima

Invocaram o latim clássico como se estivessem em Roma, não em Brasília. Mas, fora dos autos, advogados indignados dizem sentir outro tipo de fumaça: a da articulação política tentando afastar Wilson Lima da decisão final.
O perigo da demora, segundo os insatisfeitos, não era jurídico. Era eleitoral e administrativo.
Realizar a consulta agora poderia produzir um resultado politicamente indigesto — sobretudo se o nome escolhido não fosse o “ideal” para certos grupos.
Melhor era suspender tudo, judicializar, esfriar o processo e esperar o governador deixar o cargo. O latim explica, o bastidor traduz.
Democracia em câmera lenta

A OAB reafirma compromisso com legalidade e transparência. Só esqueceu de explicar por que a transparência funciona melhor quando o tempo joga contra o governador do Estado.
Afinal, ouvir a classe é fundamental, desde que não seja agora, nem antes de abril, nem enquanto Wilson Lima puder nomear o desembargador.
No meio do enredo, Grace Benayon foi atropelada por um recurso de última hora e Antony Filho, secretário do governo, barrado antes mesmo da largada.
O resultado é uma eleição suspensa, uma crise aberta e a suspeita generalizada de que o Quinto Constitucional virou instrumento de engenharia política. Quinto, sim. Constitucional, talvez. Inocente, jamais.
BR some e o barco aprende a voar

Enquanto a BR-319 continua discutindo se existe ou não, o Amazonas decidiu ignorar o chão e apostar no ar.
O barco voador surge como aquele parente visionário que, cansado de esperar a estrada, resolveu criar asas. Resultado: tecnologia amazônica prometendo fazer em três horas o que o Brasil leva décadas para decidir.
Revolução a 150 km por hora

Chamam de “barco”, mas ele voa. Chamam de “voador”, mas é sustentável. Chamam de “projeto”, mas tem protótipo, financiamento e data.
Enquanto discursos ainda navegam em água rasa, o Amazonas mostra que inovação não pede licença — decola.
É a floresta, mais uma vez, dando aula para quem só sabe apontar problema.
Bual preso, mas solto…

Suspeito de envolvimento com o crime organizado, o vereador Rosinaldo Bual ganhou habeas corpus após dois meses preso. Está feliz da vida.
Nada como a Justiça reafirmar que ninguém é culpado até prova em contrário, sobretudo depois de já ter passado um tempo suficiente atrás das grades.
Sai da prisão, entra na tornozeleira, fica longe da Câmara, das testemunhas e, se possível, da política. E o salário, pago pelo povo eleitor ? Esse fica tranquilamente intocável.
BR-319: drama que não acaba

Em Brasília, o debate é modorrento envolvendo conceitos, estudos e teses ambientais, e o Amazonas atravessando poeira, lama e risco real.
Reportagem do Valor Econômico mostrou que a BR-319 virou um símbolo nacional da indecisão crônica: todos opinam, poucos passam por ela. Para quem vive na estrada, ela não é tese — é sobrevivência, custo alto e isolamento permanente.
De um lado, especialistas alertam para riscos reais. Do outro, a população paga R$ 5 numa alface e chama isso de “normal”.
A BR-319 segue sendo o velho drama amazônico: ou se preserva tudo sem gente, ou se vive com gente pagando a conta do atraso. No meio disso tudo, o asfalto continua invisível, como sempre.











