Em Belém, Carlos Nobre adverte o Brasil em modo soneca climática

Cientista que insiste em acreditar que a razão pode vencer a inércia tropical, o renomado climatologista voltou a advertir na COP30: se esperarmos até 2050 para zerar emissões, o planeta vai virar uma sauna, sem toalha.

Enquanto ele fala em urgência, o Estado brasileiro responde com sua coreografia clássica: abre um comitê, cria um grupo de trabalho, imprime uma cartilha colorida e marca reunião para discutir o relatório que ninguém vai ler.

É o país que tem pressa… para anunciar que está com pressa. No ritmo atual, o único “net zero” garantido será o da paciência do próprio Nobre.

Apuí, altar da omissão verde

Foto: Divulgação

Entre os campeões do desmatamento, Apuí, no Amazonas, aparece como prova viva de que o Brasil continua exportando madeira e hipocrisia em igual proporção.

Enquanto a floresta cai, Brasília sobe à tribuna da COP30 de Belém para prometer “fortalecer a fiscalização”, o eufemismo oficial para publicar uma portaria, montar uma força-tarefa e torcer para a mata se recompor por constrangimento.

O bioma agoniza, mas o discurso prospera. O país é tão criativo que já consegue conciliar colapso ambiental com autoelogio.

Janja e a coxinha diplomática

Janja Lula da Silva – Foto: Divulgação

Na COP30, Janja Lula da Silva, a primeira-dama do país, resolveu dar um toque de leveza ao drama climático: “Já compraram coxinha?”, perguntou aos jornalistas em tom de deboche, já que a iguaria custava R$ 45.

É o novo realismo climático: combater o aquecimento global, mas aquecer o bolso do vendedor. Na Zona Azul da conferência, uma lata d’água sai por R$ 25 e o pão de queijo por preço de ação na bolsa.

Depois da polêmica, os lojistas baixaram os preços. A ONU temeu que surgisse ali a primeira fome de origem antropogênica da história. Se continuar assim, a próxima COP vai discutir subsídio emergencial ao pão de queijo, por questão de justiça climática e calórica.

Aterro iluminado de David

David Almeida – Foto: Divulgação

O prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou com entusiasmo: o novo aterro sanitário da cidade vai gerar energia limpa e mover ônibus com gás de lixo.

É uma revolução. O lixo finalmente fará mais pelo país do que boa parte das autoridades.

A promessa é abastecer 40 mil residências e reduzir emissões. Falta só combinar com o orçamento, os trâmites, os fornecedores, os prazos e a física.

Se der certo, será histórico: o primeiro transporte público movido a algo realmente renovável: as promessas políticas.

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