Dia da Saudade: Pesquisa revela profunda história da Praça da Saudade em Manaus

Atual Praça 5 de setembro é popularmente conhecida como Praça da Saudade e resgata memórias da história de Manaus

Praça da Saudade 2023 – Foto: Janailton Falcão

Um estudo inovador conduzido por um pesquisador amazonense lançou luz sobre a intrigante história por trás da emblemática Praça da Saudade, em Manaus, destacando sua origem e evolução como um símbolo da cidade. Atualmente chamada de Praça 5 de Setembro, o local é símbolo do resgate de um sentimento comum entre os brasileiros, e que surge na língua portuguesa para denominar a ausência daquilo ou de quem se gosta. Neste dia 30 de janeiro é celebrado o Dia da Saudade, e a dissertação de mestrado “Praça da Saudade: camadas de sentimentos soterrados” do pesquisador em ciências da comunicação Gabriel de Andrade traz, ainda, importantes registros sobre a história das Praças da Saudade em todo Brasil.

A tradicional Praça da Saudade de Manaus emerge como um monumento que tem suas raízes profundas em um contexto de epidemia, quando jovens e crianças perderam a luta contra doenças como cólera, febre amarela e varíola. Erguida em frente ao antigo cemitério São José – atual Atlético Rio Negro Clube – a praça transformou-se ao longo dos anos em um símbolo afetivo e cultural para a população local.

“Quando o Cemitério São José é inaugurado (1853), muitos estão morrendo por epidemias da época, e essas doenças matavam principalmente as crianças, os jovens, os adolescentes, então houve essa mudança na pirâmide da população. Isso afetou tanto as pessoas, que as famílias encomendavam dos jornais textos e poemas em homenagem a essas crianças a esses jovens que estavam morrendo. E por conta de todo esse contexto é que surge a Praça da Saudade (1865)”, afirma Gabriel de Andrade.

O estudo de Andrade destaca a singularidade da saudade como um sentimento genuinamente brasileiro, sublinhando como a Praça da Saudade em Manaus tornou-se uma representação tangível desse elo emocional entre passado e presente.

Outro lado da Saudade

Um dos principais objetivos do estudo é, para além da história da praça, um objeto de desmistificação do contexto social em que ela vive atualmente.

“O objetivo principal da pesquisa é de construir uma contranarrativa ao que a mídia reforça sobre a Praça da Saudade. Porque se a gente pesquisa sobre a Praça da Saudade em Manaus, nas notícias a gente só vê imagens rotuladas da praça como um local perigoso em que reina o tráfico de drogas, a prostituição, abandono, pessoas em situação de rua, e todas essas matérias reforçam esse estereótipo e afastam as pessoas de quererem conhecer realmente o que é a Praça da Saudade”, explicou Andrade.

A pesquisa identificou, ainda, similaridades em outras 51 praças espalhadas pelo país, 40 delas compartilhando histórias de perda e resiliência.

Pesquisador Gabriel de Andrade – Foto: Divulgação
“Foi a partir da Praça da Saudade de Manaus que eu descobri que existiam várias outras pelo Brasil. São 51 praças, sendo 40 localizadas em frente ao cemitério. Primeiro vem o cemitério e depois vem uma praça da saudade”, afirmou Gabriel Andrade.

Nem cemitério, nem saudade – Apesar de também nascer da mesma realidade que as outras 40 praças dedicadas à memória de alguém que já partiu, a Praça da Saudade na capital amazonense atualmente chama-se Praça 5 de Setembro, em homenagem à data de Elevação do Amazonas à Categoria de Província.

Atualmente, o terreno que dava lugar ao cemitério São José é o endereço de um dos mais antigos clubes de Manaus. O resgate da história fica por conta do velho costume: nunca se ouviu um manauara identificar aquele espaço com outro nome, que não o do sentimento.

O estudo não apenas joga luz sobre a história da Praça da Saudade na capital do Amazonas, mas também oferece uma perspectiva única sobre a identidade brasileira, destacando a importância de preservar memórias coletivas e proporcionar um espaço para a reflexão e homenagem.

Sobre o Pesquisador:

Gabriel de Andrade é mestre em ciências da comunicação, graduado em design e licenciatura em artes visuais pela UFAM. A pesquisa “Praça da Saudade: camadas de sentimentos soterrados” foi conduzida como parte do compromisso contínuo do pesquisador em desvendar a rica história cultural da região e destacar a importância de preservar os monumentos que contam a história do Brasil.

Por Indiara Bessa

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