
O feminismo costuma ser acompanhado por mitos e mal-entendidos que empacam conversas importantes. Derrubar essas idéias falsas não é só um exercício acadêmico: é condição para avançar em igualdade, justiça e liberdade. Mas afinal, o que o feminismo realmente defende? Vamos desmistificar.
Primeiro mito: “Feminismo é ódio aos homens.” Falso. O feminismo é um movimento e um conjunto de teorias que buscam igualdade de direitos, oportunidades e dignidade entre os gêneros. Isso significa questionar estruturas que privilegiam um grupo em detrimento de outro. Críticas a privilégios masculinos não equivalem a ataque pessoal a homens; convidam à revisão de papéis e à construção de relações mais justas — o que, frequentemente, beneficia também homens que sofrem com expectativas tóxicas.
Segundo mito: “Feminismo só fala de privilégios de mulheres brancas, ricas e bem-sucedidas.” Existe, de fato, um debate interno: nos seus primeiros momentos, boa parte do movimento ocidental centrou demandas de mulheres brancas de classe média. Hoje, correntes como o feminismo interseccional destacam que raça, classe, orientação sexual, identidade de gênero, deficiência e outras condições se sobrepõem e agravam desigualdades. O feminismo contemporâneo defende que políticas públicas e lutas devem considerar essas intersecções — ou seja, lutar por TODAS as mulheres, não por um grupo privilegiado.
Terceiro mito: “Feminismo quer superioridade feminina.” Não. A meta é equidade — que cada pessoa tenha acesso às mesmas possibilidades e segurança. Isso implica lutar por salários justos, fim da violência de gênero, direito à autonomia sobre o corpo e participação igualitária em espaços políticos e econômicos. Buscar igualdade não é inverter hierarquias por vingança; é eliminar hierarquias que causam sofrimento.
Quarto mito: “Feminismo destrói a família e os valores tradicionais.” Pelo contrário: muitas propostas feministas visam fortalecer relações ao promover respeito, divisão justa de tarefas e liberdade de escolha. Famílias baseadas em diálogo, respeito mútuo e responsabilidade partilhada tendem a ser mais saudáveis. O feminismo defende que o acesso ao trabalho, à maternidade consciente e ao cuidado não sejam barreiras para a dignidade.
Quinto mito: “É uma moda passageira.” Movimentos sociais têm ciclos, mas muitos avanços associados ao feminismo estão enraizados em mudanças legais, culturais e institucionais — voto feminino, direitos reprodutivos na medida em que existem parâmetros legais, leis contra violência doméstica, políticas de igualdade no trabalho. Essas mudanças não surgem por moda: são fruto de décadas de luta.
O que o feminismo realmente defende, em suma, é a liberdade de escolha sem coerção; proteção contra a violência e a discriminação; acesso equitativo a recursos e poder; e o reconhecimento das particularidades que tornam algumas mulheres mais vulneráveis. Defende também repensar masculinidades para que homens tenham permissão social para sentir, cuidar e dividir responsabilidades sem vergonha do casamento.
Importante: existem muitas vertentes — liberal, radical, interseccional, marxista-feminista, ecofeminismo — e cada uma foca aspectos diferentes. Mas o fio comum é a crítica às desigualdades de gênero e a busca por formas de vida mais justas.
Desconstruir mitos é abrir espaço para diálogos produtivos. Em vez de temer o feminismo por equívocos, vale ouvir vozes diversas do movimento, ler suas propostas e avaliar criticamente argumentos. Só assim avançamos de forma coletiva para uma sociedade onde escolhas, segurança e oportunidades não dependam do gênero.
Fonte: Izabelly Mendes