
Nesta entrevista, o líder empresarial Nelson Azevedo FIEAM fala sobre desafios e oportunidades da Zona Franca de Manaus após a reforma tributária, destacando o papel da bancada amazonense, liderada por Eduardo Braga e Omar Aziz, e de especialistas e entidades industriais como FIEAM e ABRACICLO. Também fala sobre a consolidação do modelo com foco na bioeconomia, inovação tecnológica e diversificação econômica. Nelson enfoca, ainda, a parceria com a União Europeia e a China na abertura de novos mercados para produtos sustentáveis, reforçando o papel da ZFM como alternativa à guerra fiscal e como modelo legítimo de desenvolvimento regional e sustentável no Brasil.
O POVO AMAZONENSE – Como o senhor avalia o desempenho da bancada amazonense e de outras lideranças, sobretudo empresariais, no desfecho vitorioso da Zona Franca de Manaus na reforma tributária?
Nelson Azevedo – A bancada amazonense desempenhou um papel determinante, liderada pelos senadores Eduardo Braga e Omar Aziz, que se dedicaram à defesa intransigente da Zona Franca de Manaus. Eles atuaram com grande habilidade política, garantindo que as especificidades da ZFM fossem preservadas. Além deles, os especialistas Thomás Nogueira, Afonso Lobo, Farid Mendonça Júnior e Marcelo Pereira, para citar os mais envolvidos, deram suporte técnico essencial, apresentando argumentos robustos e soluções pragmáticas que fortaleceram a posição do Amazonas nas discussões nacionais.
OPA – E a importância da atuação conjunta das entidades industriais, como ABRACICLO, CIEAM, FIEAM e ELETROS, na articulação política que garantiu a preservação da ZFM na reforma ?
NA – A atuação das entidades industriais foi absolutamente decisiva para assegurar a manutenção do diferencial competitivo da Zona Franca de Manaus. FIEAM, ABRACICLO, CIEAM e ELETROS uniram esforços de forma estratégica, apresentando estudos técnicos robustos e defendendo, com dados e argumentos concretos, a relevância econômica e social da ZFM. Essa mobilização conjunta teve um papel essencial no diálogo com o Congresso Nacional, destacando a ZFM não como um privilégio, mas como uma política fiscal estruturada, que promove industrialização, geração de empregos e, acima de tudo, a preservação ambiental. Foi um trabalho coordenado que mostrou ao país a importância da ZFM para o equilíbrio regional e o desenvolvimento sustentável.
OPA – Como as entidades industriais avaliam os próximos passos para fortalecer a ZFM, especialmente no que diz respeito à reindustrialização sustentável e à diversificação da economia do Amazonas?
NA – As entidades industriais avaliam que o próximo desafio é consolidar o potencial da ZFM como um modelo de desenvolvimento sustentável para o Brasil. Isso envolve ampliar os investimentos em inovação tecnológica, diversificar a matriz econômica com foco na bioeconomia e na agregação de valor aos bioativos amazônicos, além de fomentar o desenvolvimento de parques tecnológicos e biotecnológicos na região. Outro ponto central é melhorar a infraestrutura logística e atrair investimentos estratégicos, aproveitando os acordos internacionais, como os firmados com a União Europeia e a China. A reindustrialização sustentável passa pela união entre tecnologia, pesquisa e uso inteligente dos recursos da floresta, gerando oportunidades de alto valor agregado e colocando a ZFM como um exemplo global de equilíbrio entre crescimento econômico e preservação ambiental.
OPA – Que desafios surgem agora para que a ZFM continue sendo um vetor de desenvolvimento industrial e proteção ambiental no Amazonas?
NA – O principal desafio é garantir que a infraestrutura logística e tecnológica acompanhe os avanços tributários conquistados. Precisamos transformar a ZFM em uma plataforma moderna, com investimentos em bioeconomia, inovação tecnológica e diversificação industrial. Além disso, é urgente reforçar o desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis que utilizem os bioativos do bioma amazônico, alinhando crescimento econômico com preservação ambiental.
OPA – A manutenção do diferencial tributário foi fundamental para a ZFM. Como essa vitória pode ser traduzida em oportunidades concretas de geração de empregos e atração de investimentos?
NA – A preservação do diferencial tributário assegura a competitividade da ZFM, permitindo que o modelo continue atraindo investimentos. Esse cenário cria oportunidades para a geração de empregos de qualidade e impulsiona a industrialização na região. Com a segurança jurídica garantida, podemos agora atrair empresas interessadas em explorar a bioeconomia, as indústrias de tecnologia 4.0 e os setores de inovação sustentável, posicionando o Amazonas como um polo nacional e internacional de desenvolvimento verde.
OPA – De que forma a bioeconomia e a inovação tecnológica podem se tornar os principais motores da diversificação econômica da Zona Franca de Manaus?
NA – A bioeconomia representa o futuro da região. Com o imenso potencial dos bioativos amazônicos, temos a oportunidade de agregar valor aos recursos naturais, transformando-os em produtos inovadores para os mercados nacional e internacional. Já a inovação tecnológica, aliada a parques tecnológicos e centros de pesquisa, permitirá o desenvolvimento de soluções sustentáveis, como bioprodutos, cosméticos e fármacos. Isso transformará a ZFM em um polo biotecnológico de referência mundial.
OPA – Quais as principais oportunidades que os acordos com a União Europeia e a China oferecem para fortalecer o modelo econômico da ZFM e a sustentabilidade da Amazônia?
NA – Os acordos com a União Europeia e a China representam uma chance estratégica de ampliar mercados e atrair investimentos para setores sustentáveis da ZFM. A demanda global por produtos de baixo impacto ambiental e com alto valor agregado é crescente, e a Amazônia pode atender essa necessidade com sua riqueza em bioativos e a produção industrial sustentável. A ZFM tem potencial para ser um fornecedor competitivo e, ao mesmo tempo, um exemplo de equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.
OPA – A ZFM é vista por muitos como uma alternativa à guerra fiscal que prejudicou o Brasil. Como a reforma tributária pode consolidar essa visão e ampliar sua contribuição para o país?
NA – A reforma tributária, ao unificar tributos e eliminar a guerra fiscal, traz previsibilidade e transparência ao ambiente de negócios. Nesse contexto, a ZFM se destaca como uma solução consolidada e legítima para o desenvolvimento regional. Com o diferencial tributário preservado, o modelo reafirma seu papel como alternativa viável, promovendo geração de empregos, inovação e sustentabilidade, sem os prejuízos da competição predatória entre estados.
OPA – Quais setores estratégicos podem liderar a transição para uma economia de alto valor agregado no Amazonas, e o que falta para impulsioná-los?
NA – Os setores estratégicos incluem a bioeconomia, a biotecnologia, a indústria de componentes eletrônicos, bens de informática e os produtos sustentáveis derivados da floresta. Para impulsioná-los, é necessário investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, além de qualificação profissional. Parcerias com centros tecnológicos e políticas públicas de incentivo também serão fundamentais para posicionar a ZFM como referência em economia de alto valor agregado.
OPA – Na sua opinião, como o governo e o setor produtivo devem atuar daqui para frente para que a ZFM continue sendo um modelo nacional de equilíbrio entre economia e preservação ambiental?
NA – O governo deve garantir investimentos em infraestrutura, logística e incentivos à inovação, além de fomentar políticas de pesquisa e desenvolvimento para novos setores econômicos. Já o setor produtivo deve se comprometer com práticas sustentáveis, apostando na bioeconomia e na valorização dos recursos da Amazônia com uso responsável e inovação tecnológica. A união entre governo, setor privado e sociedade é essencial para que a ZFM continue sendo o modelo de sucesso que equilibra desenvolvimento econômico, inclusão social e proteção.