Câmara Municipal de Manaus, uma fortaleza medieval contra o bom senso

A Câmara Municipal de Manaus parece ter se transformado numa fortaleza medieval, não contra o crime, mas contra o bom senso.

O vereador Rosinaldo Bual, preso com dinheiro vivo e arma sem registro, virou hóspede involuntário do sistema prisional, mas continua constando nas atas da Casa como “ausente”, como se estivesse em viagem de trabalho.

O pior de tudo é que o presidente da Câmara, David Reis, jura de pés juntos que não pode abrir processo ético porque “o rapaz nem foi indiciado”.

É uma questão de decoro, David

Câmara Municipal de Manaus – Foto: Divulgação | CMM

Acontece que não se trata de tribunal criminal, mas de decoro. Ou será que a palavra “decoro” foi abolida do vocabulário da CMM?

Enquanto o Ministério Público cava provas, a Câmara cava trincheiras. É a Casa Legislativa erguendo um muro de proteção para impedir que o cheiro da Operação Face Oculta contamine o plenário.

E se o vereador Bual ainda não foi formalmente denunciado, já está, ao que parece, oficialmente blindado.

Quando o crime tira título de eleitor

Foto: Divulgação

De um lado, a CMM se finge de sonsa diante do escândalo Bual. De outro, o deputado federal Alberto Fraga (PL-DF) joga gasolina na fogueira. Segundo ele disse a O Globo, mais de 20 prefeitos ligados ao narcotráfico foram eleitos no Amazonas.

Pode até faltar a lista nominal, mas sobram sintomas: dinheiro farto em campanhas, alianças suspeitas, e aquele silêncio cúmplice que se ouve quando o crime começa a falar mais alto que o eleitor.

CV e PCC se infiltram

Internautas escreveram à coluna salientando ser curioso — ou trágico — que, enquanto o Comando Vermelho e o PCC se infiltram em um terço da Amazônia Legal, o poder público siga de olhos vendados, jurando que tudo não passa de coincidência.

Se o voto virou refém, a democracia está sendo extorquida em praça pública. A julgar pelo cenário, o crime organizado já não apenas financia campanhas: agora, parece que redige as atas de presença.

Silêncio nos gabinetes

Câmara Municipal de Manaus – Foto: Divulgação

Na Câmara de Manaus, o silêncio é de origem duvidosa. O caso do vereador Bual, preso por “rachadinha” e organização criminosa, caiu como uma bomba no plenário, mas o som abafado que se ouve é o de portas trancadas e conversas cochichadas.

A Mesa Diretora finge que nada aconteceu, o Conselho de Ética espera um “sinal” que nunca vem, e os colegas de Bual andam tão nervosos que até o café esfriou.

Ninguém quer falar, talvez com medo de que o eco da investigação bata e volte. E se o Ministério Público resolver subir um andar ou dois, vai ter vereador descobrindo que a rachadinha é apenas o aperitivo de um banquete bem mais indigesto.

Um Estado à mercê das facções

Vereadores presos, prefeitos sob suspeita, facções dominando o interior e a Polícia Federal batendo ponto em operação atrás de operação. No mapa do Amazonas, o crime organizado não é mais visitante, mas autoridade estadual.

E a política, em vez de reagir, parece ter aprendido o truque da convivência pacífica: “não vi, não ouvi, não julgo”. É o pacto da conveniência.

Enquanto isso, o cidadão comum, que paga o preço da insegurança e da impunidade, é tratado como espectador de uma peça repetida, com os mesmos atores, as mesmas falas e o mesmo final previsível.

No Amazonas de 2025, o que preocupa não é apenas o crime armado, mas o crime engravatado, aquele que legisla, sorri e bate o martelo dizendo: “calma, ainda não foi indiciado”.

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