A nova fronteira da soberania: amazônia, defesa e desenvolvimento

Por Nelson Azevedo (*)

Poucos temas revelam tanto sobre o futuro de um país quanto a forma como ele articula sua defesa. Nos últimos anos, a Amazônia deixou de ser apenas um território observado e passou a ser um território produtor de inteligência, inovação e tecnologia. A integração inédita entre o Comando Militar da Amazônia, a FIEAM e o CIEAM, por meio do CONDEFESA Amazônia, inaugurou esforços para uma política industrial de soberania que transforma a floresta em laboratório de inovação e o Polo Industrial de Manaus em plataforma tecnológica de alcance estratégico.

A viagem a São Gabriel: uma aula de Brasil

A missão institucional do FIEAM e do CIEAM  a São Gabriel da Cachoeira e Maturacá, liderada por Luiz Augusto Rocha e Antônio Silva, foi mais que agenda: foi revelação. Na tríplice fronteira onde o Brasil respira com pulmões indígenas e militares, compreende-se que soberania não se exerce apenas com blindados, mas com presença, parceria e respeito aos povos originários. Ali, a Amazônia deixa de ser abstração e se impõe como realidade continental — dura, magnífica e decisiva.

Tecnologia com DNA Amazônico

A recente visita à FAMA TECH — Empresa Estratégica de Defesa do Brasil, sediada no coração do Polo Industrial de Manaus — é um marco silencioso, porém profundo. Homologada pelo Ministério da Defesa, com produtos classificados como estratégicos, a empresa prova que a Amazônia já não é periferia tecnológica: é protagonista. Seus laboratórios, linhas de montagem e equipes de engenheiros demonstram que o PIM está pronto para disputar espaço no mercado global de defesa, um setor que movimenta mais de US$ 1,5 trilhão ao ano.

Transbordamentos que mudam o país

O que nasce para a defesa — sensores, comunicações seguras, materiais avançados, algoritmos, monitoramento remoto — rapidamente se converte em inovação civil. A história confirma: GPS, internet, drones e câmeras digitais vieram da mesma matriz. A defesa, ao estabelecer desafios extremos, cria o ambiente perfeito para a criatividade aplicada. E a Amazônia, com sua geografia desafiadora e com sua necessidade permanente de presença estatal, é o lugar ideal para testar, aprimorar e reinventar tecnologias dual use.

Empregos de alto valor, mão de obra de elite

A indústria de defesa exige engenheiros, técnicos, físicos, programadores, especialistas em IA, materiais e comunicações. É a antítese da precarização. A BID não gera apenas empregos: gera carreiras. E na Amazônia, essa demanda tem efeito multiplicador. Cada engenheiro formado, cada laboratório instalado, cada parceria entre, por exemplo,  a FAMA TECH, a UEA, a UFAM ou o INPA, fortalece um novo ecossistema de inteligência aplicada. A indústria tradicional dá lugar a uma economia baseada em conhecimento.

Pesquisa orientada à missão

Enquanto boa parte do Brasil financia pesquisas que raramente chegam ao mercado, a defesa opera com método e propósito: pesquisa orientada à missão. No Exército e nas empresas estratégicas, a ciência nasce para resolver problemas reais, integrando governo, indústria e academia. É o modelo da Embrapa e da Petrobras — agora plantado no PIM. Isso cria inovação concreta: sistemas embarcados, comunicação criptografada, sensores ambientais, drones para operações críticas. Nada disso fica apenas no papel.

A amazônia no centro da soberania

Com o credenciamento de novas indústrias estratégicas e com o fortalecimento do CONDEFESA, o Brasil reconhece que a soberania amazônica depende mais de tecnologia do que de discurso. O Comandante Militar da Amazônia, General Viana Filho, sintetizou bem ao visitar a FAMA TECH: o movimento tecnológico da região é irreversível. O que se vê é um ecossistema em formação, unindo tropa, indústria, academia e comunidades tradicionais. Uma constelação improvável que só a Amazônia é capaz de produzir.

O futuro é aqui

O Brasil pode escolher continuar importando tecnologia ou pode decidir produzi-la, integrá-la e exportá-la. Pode repetir o erro histórico de tratar a Amazônia como periferia, ou pode assumir a evidência que se impõe: a Amazônia é o novo palco da inteligência nacional. A indústria de defesa, quando articulada com a vocação tecnológica da Zona Franca e com os saberes ancestrais dos povos da floresta, converte-se em política de Estado. Não para militarizar a região, mas para preservar, desenvolver e integrar o país.

A Amazônia não é o vazio que o Brasil imaginou. Agora ela começa a mostrar o que sempre foi: a fronteira onde o futuro se constrói.

(*) Nelson é economista, empresário, presidente do SIMMMEM, Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.