A fragilidade das obras públicas e o alerta da ABENC sobre a ponte do Curuçá na BR-319

Foto: Divulgação

A história da ponte sobre o rio Curuçá, localizada no km 23,1 da BR-319, ganha um novo e preocupante capítulo que acende o alerta sobre a qualidade da infraestrutura na Amazônia. Após o trágico desabamento ocorrido em 2022, a reconstrução da travessia era aguardada como um símbolo de retomada e segurança para quem trafega entre Manaus e Porto Velho. No entanto, o fato de uma estrutura recém-inaugurada já apresentar a necessidade de reforços estruturais levanta questionamentos profundos sobre o planejamento e a execução da engenharia em solo amazonense.

Este cenário de intervenções precoces sugere que as análises feitas antes da obra podem não ter refletido a realidade complexa da região. O presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis do Amazonas (ABENC-AM), Afonso Lins, manifestou publicamente sua preocupação com o rumo das intervenções.

“É lamentável que uma ponte recém-inaugurada, como a do Rio Curuçá, localizada no Km 23,1 da nossa Rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), precise receber reforços estruturais na sua ‘infraestrutura’. Este cenário sugere que os estudos preliminares foram insuficientes e muito provavelmente não previram fenômenos recorrentes nessa área geográfica do Amazonas, que é o Efeito Tschebotarioff”, afirmou o engenheiro.

O impacto do efeito Tschebotarioff e os riscos no solo amazônico

A menção ao efeito Tschebotarioff não é um detalhe técnico irrelevante, mas a chave para entender por que pontes e grandes estruturas falham na Amazônia. Esse fenômeno ocorre quando o solo mole, muito comum em nossas margens de rios, sofre uma pressão lateral intensa devido ao peso de aterros ou cargas próximas, empurrando as estacas de fundação da ponte.

Se esse comportamento do solo não for previsto no projeto executivo, a estrutura começa a ceder ou apresentar instabilidades muito antes do esperado. Para a sociedade, fica a sensação de que o dinheiro público está sendo aplicado em soluções paliativas em vez de obras definitivas. A engenharia local defende que o conhecimento técnico sobre as particularidades do Amazonas deve ser respeitado para evitar que novas tragédias ou desperdícios ocorram em uma rodovia tão vital para o abastecimento do Estado.

Transparência e o papel fiscalizador da ABENC-AM

Diante das incertezas que cercam a obra na BR-319, a fiscalização técnica torna-se uma ferramenta indispensável para garantir a segurança dos usuários e a correta aplicação dos impostos. A ABENC-AM confirmou que utilizará os mecanismos legais para investigar as falhas no processo.

“A Associação Brasileira de Engenheiros Civis, Departamento do Amazonas, está acompanhando atentamente essa situação. Vamos solicitar, com esteio na Lei de Acesso à Informação (LAI), acesso a esses estudos preliminares e aos projetos básico e executivo”, garantiu Afonso Lins.

A busca por essas informações visa entender se houve negligência na análise do solo ou se os projetos foram aprovados com lacunas técnicas graves. O objetivo da entidade não é apenas apontar erros, mas oferecer uma análise qualificada que ajude a corrigir o rumo das obras de infraestrutura no Estado.

A importância de uma Nota Técnica para a sociedade amazonense

A transparência em obras federais no Amazonas é um direito da população que depende da BR-319 para saúde, economia e lazer. O grupo de trabalho de infraestrutura da associação já se prepara para realizar uma perícia documental detalhada assim que o governo disponibilizar os projetos.

“Por meio do GT de Infraestrutura da ABENC-AM, após ter acesso a essa documentação, vamos elaborar e disponibilizar para a sociedade e para os órgãos de controle uma Nota Técnica sobre essa situação”, concluiu o presidente da instituição.

O desfecho desse caso será fundamental para definir novos padrões de exigência nas futuras pontes da rodovia. Manaus não pode mais aceitar que obras estruturais sejam tratadas com soluções de curto prazo, especialmente em uma área onde a natureza e a logística impõem desafios tão severos.

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