A dura realidade das mulheres no Brasil: renda menor, mais violência e pouca ajuda

Uma nova edição da pesquisa nacional “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc São Paulo, traça um panorama detalhado da situação feminina no Brasil. O estudo, que teve edições anteriores em 2001 e 2010, ouviu 2.440 mulheres e 1.221 homens ao longo de 2023.

Percepção e desafios da condição feminina

O estudo aponta um sentimento geral de melhora na condição da mulher, mas destaca a persistência de desafios sérios:

  • Melhora Percebida: Mais da metade das mulheres (54%) acredita que sua situação está melhor hoje do que no passado. Para os homens, a percepção é ainda maior, com 62% apontando um cenário atual mais favorável para as mulheres.
  • Aspectos Positivos e Negativos: Embora 58% das mulheres considerem haver mais aspectos positivos em pertencer ao público feminino, 1 em cada 4 (25%) delas aponta que há mais pontos ruins.
  • Piores Motivos: Os piores motivos em ser mulher, segundo elas, são a discriminação social e o machismo (23%) e a violência (21%).
  • Maternidade: A maternidade ainda é um ponto positivo central para 43% das mulheres, mas registrou uma queda significativa em relação a 2001 (55%) e 2010 (57%), refletindo provavelmente a mudança de prioridades entre as mais jovens e escolarizadas.

Machismo, feminismo e desigualdade de renda

A pesquisa registra a alta prevalência do machismo e o avanço da conscientização sobre o feminismo:

  • Reconhecimento do Machismo: A maioria esmagadora de mulheres (96%) e homens (94%) admite a existência de machismo no Brasil. Dessas mulheres, 82% o percebem como muito acentuado no país, contra 67% dos homens. Apesar disso, apenas 1 em cada 10 homens se considera machista.
  • Feminismo como Luta: O entendimento sobre o feminismo evoluiu, sendo reconhecido como uma luta por direitos e liberdade de expressão por 30% das mulheres e 32% dos homens (aumento de 10 pontos percentuais entre os homens desde 2010).
  • Diferença Prioritária: O mercado de trabalho é apontado por mulheres (26%) e homens (22%) como a principal diferença entre os gêneros e é o primeiro item que as mulheres mudariam (21% das menções) para melhorar suas vidas.

Empobrecimento e desigualdade econômica

Os dados econômicos apontam um aprofundamento das desigualdades, conforme análise da cientista social Sofia Toledo, da Fundação Perseu Abramo:

  • Renda Média: A renda média das mulheres é 40% inferior à dos homens.
  • Baixa Renda: A proporção de mulheres com renda abaixo de 1 salário mínimo (44%) é o dobro da dos homens (21%). 16% das mulheres não têm renda alguma.
  • Alta Renda: Apenas 4% das mulheres têm renda superior a 3 salários mínimos, enquanto esse patamar é atingido por 18% dos homens.
  • Vulnerabilidade: O empobrecimento atinge principalmente as mulheres negras (59% têm renda familiar de até 2 salários mínimos) e as da região Nordeste (64% dessa amostra).

Violência contra a Mulher: dados alarmantes

Os dados sobre violência revelam que grande parte dos episódios não é denunciada e que a violência psicológica é subestimada:

  • Vítimas de Violência: 50% das mulheres já sofreram algum tipo de violência.
  • Violência Subestimada: As violências psicológica e moral são pouco reconhecidas em relatos espontâneos (2% e 1%), mas são as mais vivenciadas em respostas estimuladas (43% e 37%, respectivamente).
  • Consequências: A violência sofrida afetou principalmente a saúde mental ou emocional para 69% das mulheres.
  • Subnotificação: 58% das mulheres que sofreram violência não pediram ajuda e 71% não denunciaram oficialmente.
  • Estupro: 4 em cada 10 mulheres que relataram estupro apontaram que o agressor era o companheiro (42%).
  • Não Denúncia: 2 em cada 10 mulheres que sofreram violência foram orientadas a não denunciar, principalmente por familiares.

Maternidade, cuidados e vida doméstica

A pesquisa confirma a sobrecarga feminina no âmbito doméstico e familiar:

  • Cuidado Doméstico: Em 93% dos domicílios, uma mulher é a principal responsável pelos afazeres domésticos.
  • Cuidados com Crianças: 66% das mulheres são as principais responsáveis pelos cuidados com as crianças fora da escola.
  • Mães Solo: Cerca de 50% das mulheres com crianças as criam sozinhas. Apenas 46% dessas mães solteiras recebem pensão alimentícia ou contribuição financeira.
  • Gravidez Precoce: 3 em cada 4 mulheres têm filhos, e cerca de 4 em cada 10 tiveram o primeiro filho antes da maioridade.
  • Violência no Parto: Cerca de 1/4 das mulheres sofreu violência física ou verbal durante o parto.

Política e Cultura

O estudo também analisou a participação feminina e a cultura política:

  • Democracia: 59% das mulheres consideram a democracia a melhor forma de governo, enquanto apenas 4% indicam a opção por um regime ditatorial.
  • Voto em Mulheres: A preferência por candidaturas femininas é o principal fator de decisão de voto para 89% das mulheres, uma posição que também é relevante para 72% dos homens.
  • Influência Religiosa: A maioria das mulheres (71%) é contrária à influência da religião nas decisões políticas.
  • Preconceito na Política: 64% das mulheres percebem preconceito e discriminação contra a participação feminina na política.

A pesquisa completa e seus eixos temáticos estão disponíveis para consulta nos links oficiais da Fundação Perseu Abramo.

Assessoria de imprensa da Fundação Perseu Abramo

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