
A recente confirmação do adiamento na entrega da ponte sobre o Rio Autaz Mirim, localizada no Km 24,6 da BR-319, acendeu um alerta sobre a qualidade técnica dos projetos de infraestrutura no Amazonas. Em entrevista concedida ao G1 AM na última semana, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que a obra, prevista para dezembro, só será concluída em março de 2026 devido à necessidade de reforços estruturais.
Para o professor Marcos Maurício, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a justificativa apresentada pela autarquia federal expõe fragilidades preocupantes nos estudos preliminares e coloca em discussão a segurança não apenas da obra em andamento, mas também da ponte sobre o Rio Curuçá, recém-inaugurada.
Mudanças no projeto indicam problemas na fundação
O superintendente do DNIT no Amazonas, Orlando Machado, explicou que o novo contrato prevê um aumento na extensão da ponte, que passará de 190 para 250 metros, com o acréscimo de 30 metros em cada lado. Segundo o gestor, a medida visa garantir a estabilidade do solo.
“Estamos fazendo reforço nas fundações para que possa garantir que não ocorra rotação do solo. Estamos fazendo tanto na Autaz Mirim, quanto na Curuçá”, declarou Orlando.
No entanto, essa alteração repentina no escopo da obra é vista com cautela por especialistas. Marcos Maurício avalia que a admissão da necessidade de reforçar a infraestrutura sugere que os estudos iniciais foram insuficientes. Segundo ele, falhas na elaboração dos projetos básico e executivo podem comprometer a estabilidade da estrutura a longo prazo.
Risco de colapso e o “Efeito Tschebotarioff”
A análise técnica aponta para a possibilidade de que fenômenos importantes da engenharia de solos tenham sido ignorados na fase de planejamento. O especialista cita o “Efeito Tschebotarioff“, uma força lateral exercida pelo solo sobre as estacas de fundação que, se não calculada corretamente, pode levar ao colapso da estrutura.
A preocupação se agrava pelo fato de que o mesmo reforço será aplicado na ponte sobre o Rio Curuçá (km 23,1), que já foi entregue ao tráfego. O professor alerta que a intervenção corretiva em uma obra considerada pronta indica que a segurança dos usuários pode estar em risco.
Falta de transparência nos dados técnicos
Buscando entender a profundidade dos problemas, Marcos Mauricio solicitou ao DNIT-AM, no dia 21 de novembro de 2025, acesso aos estudos preliminares e aos projetos de engenharia das pontes via Lei de Acesso à Informação (LAI). Até o momento, os documentos não foram disponibilizados para análise pública.
A situação levanta questionamentos sobre a fiscalização e a execução de obras vitais para a logística do Estado, transformando o que deveria ser uma solução de mobilidade em uma nova fonte de insegurança para quem trafega pela rodovia.











