
O espetáculo de dança “Aquelas que me habitam”, uma criação da artista pesquisadora Francis Baiardi, estreia neste domingo (23), às 19h, no Teatro da Instalação, em Manaus. A obra, com entrada gratuita, terá mais duas apresentações na mesma temporada e propõe uma imersão sensorial que une dança, memória, ancestralidade e um forte compromisso com a inclusão.
A performance é inspirada nas mulheres amazônicas descendentes das Ykamiabas e convida à reflexão sobre mulheres aguerridas, incluindo aquelas historicamente silenciadas.
Inclusão como eixo criativo
A acessibilidade é um elemento central e constitutivo da obra, e não apenas um recurso complementar. O espetáculo oferece um conjunto de ações inclusivas:
- Audiodescrição: Recurso central para o público com baixa visão ou cego.
- Intérprete de Libras: Para garantir a comunicação com a comunidade surda.
- Abafadores de ruído: Disponíveis para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A assistente de direção e consultora dramaturgista Ananda Guimarães, que possui baixa visão, descreve a acessibilidade como fundamental para a criação.
“Muitas vezes a acessibilidade é entendida só como recurso, e eu a vejo principalmente como dramaturgismo, como dramaturgia da cena. Isso afeta diretamente o trabalho, porque envolve cuidado e sensibilidade”, afirmou Guimarães, que trabalha com audiodescrição poética.
Essa abordagem sem hierarquias atravessa toda a composição cênica, sonora e visual, criando um ecossistema onde corpo, matéria e sentidos dialogam.
Gesto político e força feminina

Para Francis Baiardi, o espetáculo também nasce como um gesto político, ressaltando o desafio da mulher na criação artística.
“Somos poucas mulheres ocupando lugares de criação, direção e composição cênica. Nossa rotina de mães, filhas e trabalhadoras faz com que o tempo destinado ao ofício artístico seja um ato de resistência. Este projeto também é sobre isso: sobre existir e reexistir em estruturas que, historicamente, silenciam nossas presenças”, destaca Francis.
A força da equipe, majoritariamente composta por mulheres, reafirma o posicionamento político do trabalho, convocando o público a refletir sobre protagonismos e ausências históricas nos espaços de criação.
Cenografia viva e trilha sonora original
O projeto cenográfico, assinado por Juca di Souza, concebeu o espaço como um organismo pulsante.
“Pensei a cenografia como um corpo vivo que respira junto com a intérprete. Usei terra preta, água, sisal e cordas porque esses materiais carregam histórias que antecedem qualquer palavra. Quis criar um ambiente ritualístico e íntimo, onde a matéria se torna memória e onde cada gesto da performer transforma o espaço”, explicou di Souza.
A trilha sonora original também se integra à dramaturgia sensorial, dialogando com as camadas emocionais, espirituais e ancestrais da pesquisa de Francis Baiardi.
O projeto de Francis Baiardi se apresenta como um espaço de encontro entre corpos, memórias e camadas de tempo, reforçando a potência de artistas que criam a partir de suas trajetórias e resistem às estruturas que historicamente silenciam mulheres e trabalhadoras da arte.
E-book ilustrado
Além da performance, o trabalho inclui um e-book ilustrado que registra o processo criativo, com texto de Gorete Lima e ilustrações de Daniel Esteves. Segundo Daniel, o e-book “registra o processo por meio de uma escrita imersiva e sensível, e as ilustrações surgem como prolongamento dessa experiência”.
O projeto conta com o apoio do Governo do Estado do Amazonas / Conselho Estadual de Cultura / Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, e do Governo Federal.
Assessoria de Comunicação: Gabrielly Gentil











