
A presidência da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que ocorre em Belém, publicou na madrugada desta sexta-feira, 21, uma nova versão do rascunho do documento final, chamado “Decisão mutirão”. O texto foi divulgado após um incêndio na quinta-feira, 20, ter paralisado as negociações.
A nova versão do documento causou frustração entre ambientalistas e alguns países, pois não inclui nenhuma menção à necessidade de criação de um mapa do caminho (roteiro) para o fim do uso de combustíveis fósseis.
Ponto de discórdia e resistências
A ausência do roteiro para abandonar o petróleo, gás e carvão — considerados os principais responsáveis pelo aquecimento global — é o ponto mais polêmico do rascunho.
- Apoio ao roteiro: O “mapa do caminho” havia ganhado apoio de cerca de 80 países, segundo organizações da sociedade civil, incluindo nações como Alemanha e Reino Unido. A demanda também foi apresentada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e defendida pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres.
- Resistência: Nações produtoras de petróleo, no entanto, resistem à criação desse roteiro.
Em 2023, na COP28, em Dubai, foi fechado um acordo que propôs pela primeira vez a “transição em direção ao fim dos combustíveis fósseis”, mas sem um plano detalhado para essa mudança.
Países e ambientalistas reagem ao texto
Poucas horas após a conclusão do rascunho, um grupo de países já enviou uma carta à presidência da COP30, afirmando que não aceitam um documento sem o mapa do caminho para a transição.
Entre os signatários estão Colômbia, Alemanha, Ilhas Marshall e Vanuatu. As duas últimas são ilhas do Oceano Pacífico que correm risco de desaparecer devido ao aumento do nível do mar, um dos efeitos da crise climática.
A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, criticou a ausência:
“A COP30 demonstrou apoio crescente a um roteiro para o abandono dos combustíveis fósseis, portanto, o resultado de Belém deve incluí-lo para garantir que acabemos com a queima de petróleo, gás e carvão o mais rápido possível. Relatórios e mais negociações não são suficientes. Precisamos de um plano de resposta global.”
Ela também destacou a ausência de um mapa para acabar com o desmatamento, outra importante fonte de emissão de gases estufa.
Contradição na agenda climática
Ambientalistas apontam uma contradição: apesar de alguns chefes de Estado sinalizarem apoio a agendas climáticas ambiciosas, eles também autorizam novas atividades emissoras de gases de efeito estufa no setor de energia. Um exemplo citado é a licença para pesquisar a exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Rio Amazonas, por parte do Brasil.
O governo Lula defende a segurança técnica da exploração e afirma que os lucros do petróleo serão usados para financiar a transição verde do país nos próximos anos.
Negociações estendidas
As negociações na COP30 foram paralisadas por um incêndio na tarde de quinta-feira, mas a zona azul, onde ocorrem as reuniões entre as delegações dos países, foi reaberta à noite. As sessões plenárias devem ser retomadas nesta sexta.
O término oficial da conferência estava previsto para esta sexta-feira, mas a expectativa é de que as negociações se estendam pelo fim de semana, como já ocorreu em cúpulas anteriores.











