
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou o estudo “Panorama da Infraestrutura – Região Norte”, que expõe um quadro de severas deficiências estruturais na região. O levantamento, divulgado nesta quarta-feira (15), reúne dados sobre transporte, energia, saneamento básico e telecomunicações, além de propostas de melhoria para os sete estados.
O principal dado do estudo é a percepção negativa do setor produtivo: 74% dos empresários industriais da Região Norte avaliam as condições de infraestrutura como regular, ruim ou péssima. Esse índice é drasticamente superior à média nacional, que é de 45%.
O papel estratégico limitado pelo déficit

O presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou que o déficit de infraestrutura restringe o papel estratégico da Região Norte no desenvolvimento sustentável do Brasil, apesar de sua vasta riqueza em biodiversidade e recursos naturais.
“As deficiências em rodovias, a baixa integração energética, os entraves no transporte hidroviário e as limitações no acesso a serviços essenciais impactam negativamente a qualidade de vida da população e elevam os custos logísticos, desestimulando os investimentos,” afirma Alban.
O fortalecimento da infraestrutura, segundo a CNI, é uma condição indispensável para a atração de investimentos e o crescimento industrial na região, devendo ser conduzido com respeito aos marcos legais e ambientais.
Principais gargalos da infraestrutura e a percepção empresarial
O estudo detalha a precariedade da infraestrutura em setores cruciais:
- Saneamento Básico: 83% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 50% no Brasil.
- Rodoviária: 90% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 54% no Brasil.
- Telecomunicações: 66% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 38% no Brasil.
- Energia: 61% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 34% no Brasil.
- Portuária: 44% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 34% no Brasil.
- Aeroportuária: 41% dos empresários do Norte consideram as condições ruins, contra 31% no Brasil.
Os principais gargalos de transporte, apontados pelos empresários, são a precariedade das rodovias, a falta de acesso e infraestrutura dos portos e a pouca malha ferroviária.
Saneamento básico: o desafio mais crítico

O setor de saneamento básico apresenta o cenário mais preocupante e um “déficit estrutural” na região, impactando diretamente a saúde pública e a atração de investimentos:
- Abastecimento de Água: Apenas 61% da população do Norte é atendida por rede de abastecimento de água (o menor índice do país).
- Esgotamento Sanitário: Somente 23% da população tem acesso à rede coletora de esgoto (enquanto a média nacional é de 60%). Roraima, com 66%, é a exceção na cobertura.
- Perdas de Água: O índice de perdas na distribuição é de alarmantes 50% (a média nacional é de 40%).
O diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, destacou que é urgente priorizar a ampliação dos serviços básicos de saneamento para garantir um ambiente de negócios mais favorável.
Obras prioritárias e perspectivas de investimento

A CNI lista uma série de obras e projetos prioritários para destravar o crescimento da Região Norte. Alguns exemplos incluem:
- Rodovias: Pavimentação da BR-319 (Porto Velho-Manaus) e conclusão da ponte sobre o Rio Xingu, na Transamazônica (BR-230/PA).
- Ferrovias: Implantação da Ferrogrão (EF-170), ligando Sinop (MT) a Miritituba (PA).
- Hidrovias: Derrocamento do Pedral do Lourenço no Rio Tocantins para ampliar a navegabilidade.
- Petróleo e Gás: Exploração na Margem Equatorial (bacias da Foz do Amazonas e Pará-Maranhão).
- Energia: Avanço no projeto da Hidrelétrica do Bem-Querer (RR).
Contexto de investimentos:
- Novo PAC: Prevê R$ 294 bilhões em obras, serviços e empreendimentos na Região Norte.
- Obras Paralisadas: Auditoria do TCU identificou que 58% dos 3.790 contratos de obras públicas custeadas com recursos federais na Região Norte estão paralisadas, com maior incidência nos setores de saneamento básico e transportes.
Aeroportos mais movimentados (transporte de passageiros):
- Aeroporto de Belém – 4.000.641 passageiros
- Aeroporto de Manaus – 2.853.903 passageiros
- Aeroporto de Palmas – 718.096 passageiros
Principais propostas da CNI para avançar (exemplos):
- Rodovias: Licenciamento da BR-319; duplicação da BR-364/RO; construção da ponte binacional Guajará-Mirim.
- Hidrovias: Concessão da Hidrovia do Madeira; construção de eclusas nas usinas do Rio Tocantins.
- Telecomunicações: Fortalecimento do Programa Norte Conectado e expansão das Infovias (fibra óptica).











