
Milhares de palestinos deslocados estão retornando à Cidade de Gaza neste sábado (11), o segundo dia do cessar-fogo negociado entre Israel e o Hamas. A trégua permitiu a retirada das tropas israelenses de diversas áreas do território palestino, abrindo caminho para o possível retorno dos reféns israelenses mantidos em Gaza desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
A jornada de volta do sul para o norte da Faixa de Gaza, iniciada por dezenas de milhares de pessoas, tem sido marcada pela desolação. Muitos estão chocados com a extensão da destruição causada pela mais recente ofensiva do Exército israelense.
O choque da destruição
O percurso é exaustivo. Raja Salmi descreveu a dificuldade de caminhar mais de 15 km de Khan Yunis até a Cidade de Gaza, que foi o epicentro de intensos ataques aéreos e terrestres. “Caminhamos por horas, cada passo era repleto de medo e angústia pela minha casa”, relata.
Ao chegar ao seu bairro, Al Rimal, o choque: “Não existe mais, não passa de um monte de escombros”, disse ela à AFP. A cidade, que já abrigou cerca de um milhão de pessoas (segundo a ONU), está irreconhecível, com prédios destruídos, janelas quebradas e ruas tomadas por entulhos.
Saher Abu al Ata, outro morador, expressou o sentimento geral: “As imagens são mais fortes do que qualquer palavra: destruição, destruição e mais destruição”, diante dos escombros do hospital infantil Al Rantisi.
O fluxo de retorno é grande. Na rodovia costeira Al Rashid, pedestres e veículos formam longas filas desde que o cessar-fogo entrou em vigor, na sexta-feira (10). A Defesa Civil de Gaza, sob o Hamas, estima que cerca de 250.000 pessoas tenham retornado ao norte do território desde o início da trégua.
O plano de paz e a troca de prisioneiros
O acordo de cessar-fogo está ligado a um plano de 20 pontos proposto pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que também prevê a troca de prisioneiros.
- Libertação de Reféns: O acordo prevê a libertação dos 47 reféns restantes (vivos e mortos) dos 251 sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
- Libertação de Prisioneiros Palestinos: Em troca, Israel libertará 250 prisioneiros palestinos, incluindo condenados à prisão perpétua por ataques. Além disso, serão libertados 1.700 moradores de Gaza detidos desde o início da guerra.
- A lista de 250 prisioneiros palestinos divulgada por Israel não inclui nenhuma figura proeminente da luta armada palestina.
Donald Trump, que confirmou a intenção de viajar a Israel e ao Egito, expressou confiança de que a trégua “se manterá”, citando o cansaço de ambos os lados. Egito, Catar e Turquia atuam como mediadores.
No entanto, o plano de paz ainda tem pontos cruciais a resolver, como o desarmamento do Hamas e a proposta de uma autoridade de transição para Gaza liderada por Trump.
Ajuda humanitária urgente
Com o cessar-fogo, as agências humanitárias esperam intensificar a entrega de ajuda. A ONU havia declarado estado de fome na Cidade de Gaza em agosto, pouco antes da última ofensiva israelense.
- O Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (Ocha) informou que Israel autorizou a entrega de 000 toneladas de ajuda como parte do plano de resposta para os primeiros 60 dias da trégua.
- As necessidades básicas são críticas: “equipamentos médicos, remédios, alimentos, água, combustível e abrigo adequado para dois milhões de pessoas que enfrentarão o inverno sem um teto sobre suas cabeças”, destacou Jacob Granger, coordenador da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza.
Contexto da guerra
A guerra eclodiu após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis.
Em resposta, a campanha israelense em Gaza matou pelo menos 67.682 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas (números considerados confiáveis pela ONU). Os dados não fazem distinção entre combatentes e civis, mas indicam que mais da metade dos mortos são mulheres e crianças.











