Feira do Pirarucu em Tefé e Alvarães promete festa e peixes de qualidade

Foto: Miguel Monteiro

A temporada de comercialização de peixes manejados no Médio Solimões (AM) começou com grande sucesso e continua em outubro. Mais do que um espaço de comércio, as feiras de pirarucu consolidam um modelo de sucesso que une conservação, geração de renda e melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas.

A celebração começou em Bauana, no entorno da Flona de Tefé, com a 1ª Feira do Tambaqui e Pirarucu Manejado. Agora, o foco se volta para os eventos tradicionais da região. A 9ª Feira do Pirarucu de Manejo Sustentável de Alvarães acontece nos dias 4 e 5 de outubro, na Praça de Alimentação e Eventos. Logo em seguida, a 21ª Feira do Pirarucu de Manejo Sustentável de Tefé será realizada nos dias 11 e 12 de outubro, no Mirante das Mangueiras.

O significado das feiras

Foto: Miguel Monteiro

As feiras são vitrines da pesca sustentável. Elas representam um ponto de encontro vital entre comunidades manejadoras, consumidores e instituições parceiras. São ocasiões em que o público tem a oportunidade de conhecer de perto a origem do pescado e a história das comunidades que se dedicam ao manejo do pirarucu.

Para os manejadores, é o momento de dar visibilidade ao seu trabalho e celebrar os resultados alcançados coletivamente, além de fortalecer os Acordos de Pesca. Para os consumidores, a feira oferece a chance de adquirir um produto legal, de qualidade garantida e com preço justo, estabelecendo uma relação direta com quem produz. Ao escolher o pirarucu manejado, o consumidor apoia diretamente o combate à pesca ilegal e fortalece a economia solidária das comunidades ribeirinhas. Como resume o manejador Fortunato de Andrade, “a feira, assim como o manejo, é uma festa”.

Breve histórico do manejo do pirarucu

Foto: Miguel Monteiro

O pirarucu (Arapaima gigas), um dos maiores peixes de água doce do mundo, já esteve à beira da extinção devido à pesca predatória, que se intensificou a partir da década de 1960. Para conter o declínio dos estoques, diversas medidas de proteção foram criadas ao longo dos anos, incluindo a inclusão da espécie na lista CITES (que controla o comércio internacional) e, a partir de 1996, a proibição total da pesca no Amazonas, exceto em áreas de manejo ou cultivo autorizados.

Foi nesse cenário de crise que o Instituto Mamirauá, em parceria com comunidades do Médio Solimões, iniciou pesquisas. Em 1999, esse esforço resultou na aprovação do primeiro projeto de manejo comunitário da espécie, um marco na conservação amazônica. Desde então, o Mamirauá tem sido fundamental, fornecendo assessoria técnica e desenvolvendo metodologias científicas que uniram o conhecimento tradicional ao embasamento científico. Graças a esse trabalho, o manejo se expandiu, consolidando-se como um modelo de uso sustentável reconhecido globalmente. Hoje, centenas de famílias vivem do manejo, e o pirarucu, antes ameaçado, é um exemplo de como conservação e geração de renda podem caminhar juntas.

Destaque da temporada e detalhes das próximas feiras

Foto: Miguel Monteiro

A temporada foi aberta com a 1ª Feira do Tambaqui e Pirarucu Manejado no Quilombo São Francisco do Bauana, na Floresta Nacional de Tefé. A iniciativa foi um sucesso, levando peixes de qualidade a preços acessíveis a uma população que não tinha tanto acesso a essas espécies. Foram comercializadas cerca de 3 toneladas de tambaqui e 30 pirarucus, reforçando o potencial do manejo comunitário.

As feiras de Alvarães e Tefé são promovidas pelo Acordo de Pesca Jurupari Grande, formado por moradores das comunidades Boca do Jurupari e Novo Tapiira, no entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã. Os manejadores disponibilizarão cerca de 160 peixes ao longo dos quatro dias, com início sempre às 6h da manhã.

Para organizar o atendimento e garantir a qualidade, haverá distribuição de senhas nas barracas, enquanto a venda de peixes inteiros será realizada em uma embarcação ancorada no porto. Para quem pretende levar o pescado para outras cidades, a documentação necessária para transporte em aeroportos e embarcações será emitida no momento da compra, bastando apresentar RG, CPF, endereço e o destino.

As feiras contam com a assessoria técnica do Instituto Mamirauá e o apoio de diversas instituições parceiras, como SEMA/DEMUC, Fundação Amazônia Sustentável (FAS), SEBRAE, IDAM, Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), a Colônia de Pescadores Z-4, Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas (ADAF) e secretarias da Prefeitura Municipal de Tefé.

Por Julia A. Rantigueri

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