
A Prefeitura de Manaus está trabalhando para fortalecer o atendimento de saúde bucal para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede básica do município. Nas unidades da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), os pacientes com TEA recebem atendimento odontológico humanizado e adequado às suas necessidades, com equipes de saúde qualificadas que contribuem para a melhoria da qualidade de vida desses usuários e seus familiares.
A cirurgiã-dentista Kátia Felizardo, técnica da Gerência de Saúde Bucal da Semsa, explica que todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo pessoas com TEA, podem buscar serviços de saúde bucal gratuitamente em 127 Unidades de Saúde da Família (USFs) da rede municipal. Esses locais oferecem consultas de avaliação e atendimento clínico ambulatorial, com procedimentos de baixa complexidade, como restaurações, extrações e remoção de tártaro.
“A maioria dos profissionais que atuam nas unidades já é qualificada para atender pessoas com necessidades especiais, inclusive usuários com TEA. Graças a isso, a rede de Atenção Primária atende quase a totalidade das demandas em saúde bucal, da acolhida ao fim do tratamento”, relata a cirurgiã-dentista.
Encaminhamento para atenção especializada
Caso o paciente precise de atenção especializada ou de procedimentos de maior complexidade, ele é encaminhado para um dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs). Existem CEOs em cada Distrito de Saúde (Disa), além de um centro em convênio com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
“Os CEOs têm profissionais especializados no atendimento a pessoas com necessidades especiais, inclusive TEA, ofertando serviços básicos e especializados, como tratamento de canal, cirurgia de dente incluso, ortodontia preventiva, biópsia de tecidos orais, entre outros”, informa Kátia.
Abordagem humanizada nos atendimentos
A cirurgiã-dentista Djanira Noronha, especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do CEO Leste, explica que os pacientes autistas são inicialmente submetidos a uma avaliação abrangente para que a equipe conheça o paciente e suas necessidades a fundo, sempre de forma humanizada e acolhedora.
“Conversamos com a família para saber do usuário, de seus exames e avaliações de saúde, que medicações utiliza, se tem suporte de terapia. E também orientamos os pais, enfatizando o papel deles no cuidado da criança autista e a importância do acompanhamento multiprofissional”, explica a especialista.
Para lidar com a resistência de alguns pacientes com TEA, Djanira utiliza estratégias que vão desde atividades lúdicas e musicoterapia até cobrir a cadeira do dentista com itens trazidos pela família. “Se o usuário senta na cadeira, é ótimo, mas já cheguei a atender um paciente no chão do consultório”, lembra ela.
A administração de medicamentos calmantes já utilizados pelo paciente é outra forma de viabilizar o tratamento. “Não trabalhamos com imobilização. Quando muito, em procedimentos simples, empregamos o condicionamento de contenção protetora, em que o pai abraça o filho, ao lado de outras técnicas”, aponta Djanira.
Segundo Djanira, pessoas com TEA tendem a ter problemas odontológicos, como cáries e doenças na gengiva, por causa dos desafios na higiene bucal diária. A abordagem humanizada e acolhedora, aliada à orientação dos pais, tem impactos positivos na vida desses pacientes.
“Vemos crianças não verbais que reproduzem as orientações de higiene que ensinamos no consultório, crianças que deixam de ter pneumonia de repetição decorrente da má saúde bucal. Ficamos felizes quando, após iniciar o cuidado com a boca, eles têm uma melhora geral”, diz a cirurgiã-dentista.
O encaminhamento para a rede estadual de atenção especializada, com atendimento em centros cirúrgicos sob anestesia geral ou sedação, só ocorre quando a equipe não consegue a colaboração do paciente após várias tentativas de condicionamento em nível ambulatorial. “Também encaminhamos para a atenção especializada os pacientes que apresentem muitas alterações sistêmicas graves de saúde geral, exigindo maior complexidade do tratamento a ser realizado, levando em conta a segurança do próprio paciente”, complementa.
Dados de atendimento e Espaço Amigo Ruy
De acordo com a Semsa, com base em dados do sistema e-SUS APS, do Ministério da Saúde, os atendimentos odontológicos prestados a usuários com TEA na rede municipal somaram 4.029 em 2024, de um total de 10.589 atendimentos de saúde geral ofertados a esse público naquele ano.
Neste ano, até setembro, o número de atendimentos odontológicos a autistas já chega a 3.396, dentre 8.537 atendimentos de saúde geral.
Além das unidades básicas e CEOs, a Semsa oferece atendimento odontológico especializado a crianças e adolescentes no Espaço de Atendimento Multidisciplinar ao Autista Amigo Ruy (Eamaar), na zona Centro-Oeste. O local conta com profissionais qualificados e um aparelho para sedação consciente, com o uso de óxido nitroso, uma técnica que reduz a irritabilidade e agitação, facilitando o trabalho das equipes.
Em quatro anos, os atendimentos odontológicos no Eamaar, realizados por profissionais da Semsa, chegaram a quase 12 mil, tendo crescido de 1,6 mil, em 2021, para 5,1 mil, no ano passado.
Por Jony Clay Borges / Semsa











