Bancada do AM se insurge contra veto de Lula e até o PT-AM repudia decisão sobre a BR-319

O veto do presidente Lula (PT) à emenda do senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre a BR-319 virou um raro ponto de unanimidade política no Amazonas: ninguém engoliu a decisão — nem mesmo o PT local.

O líder petista na Assembleia Legislativa, deputado Sinésio Campos, afirmou nesta terça-feira (12) que contatou o coordenador da bancada federal do Amazonas, senador Omar Aziz (PSD-AM), e recebeu a confirmação: a bancada inteira está contra o veto e pela derrubada da decisão no Congresso.

Sinésio foi enfático: “O PT do Amazonas é totalmente contra qualquer ato governamental que prejudique o asfaltamento da BR-319. Essa estrada é vital para o povo do nosso Estado e para a integração da Amazônia ao Brasil. Aqui não tem disputa partidária, tem interesse coletivo”.

A emenda de Braga vetada por Lula dispensava novas licenças ambientais para manutenção e melhoramentos em rodovias já existentes, como a BR-319, e destravaria o licenciamento do “trecho do meio” — cerca de 400 quilômetros esquecidos desde a década de 1980.

Faca nos peitos de Lula

Presidente Lula – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na Aleam, deputados estaduais — inclusive o presidente do Poder, Roberto Cidade (UB) — já articulam uma comissão para ir a Brasília reforçar a pressão. O clima é de cobrança aberta: parlamentares consideram que o Governo Federal “vira as costas” para o Amazonas e adia indefinidamente o sonho do asfalto.

“O povo do Amazonas está cansado de promessas e adiamentos”, disse Cidade, defendendo que a ALEAM envie nos próximos dias uma comissão de parlamentares para pressionar em Brasília.

Eduardo Braga também elevou o tom: “Nós precisamos de todos os instrumentos possíveis para ver finalmente realizado o sonho do povo do Amazonas, de Roraima e de Rondônia de ter a BR-319 reasfaltada. Vou lutar até o fim para derrubar esse veto”.

Wanderley Monteiro na corda bamba

Wanderley Monteiro – Foto: Divulgação

Como noticiou a coluna na semana passada, o deputado estadual Wanderley Monteiro será mesmo expulso do Avante por ter assinado a CPI do Asfalto na Assembleia Legislativa do Amazonas. O anúncio oficial da expulsão deve ocorrer até sexta-feira (15), segundo a cúpula do partido.

A CPI pretende investigar repasses do Governo do Estado para o programa Asfalta Manaus, do prefeito David Almeida, que também é presidente regional do Avante. O processo disciplinar já foi aberto, sob a justificativa de quebra de fidelidade partidária.

Aliado tradicional da base governista na ALEAM, Wanderley apoiou o deputado Roberto Cidade (UB) durante as eleições municipais de 2024 para a Prefeitura de Manaus, concorrendo diretamente contra David.

Deputados criticam expulsão

Delegado Péricles e Roberto Cidade – Foto: Divulgação

Na sessão desta terça-feira (12) da Assembleia Legislativa, três parlamentares defenderam o deputado Wanderley Monteiro, alvo de um processo de expulsão pelo Avante. O presidente da Casa, Roberto Cidade (UB), e os deputados Delegado Péricles (PL) e Ednailson Rozenha (PMB) classificaram a medida como “arbitrária” e motivada por retaliação política.

Em discurso, Cidade questionou o critério da punição: “Quer dizer que, na Câmara Municipal de Manaus, ninguém pode votar contra projetos do prefeito David Almeida? Além disso, o deputado Saulo Vianna hoje faz parte do governo Almeida e, nem por isso, foi expulso do União Brasil.”

As manifestações reforçam a percepção de que o caso extrapola a disciplina partidária, tornando-se um embate direto entre a autonomia parlamentar e o controle exercido pelas direções dos partidos.

Tensão entre Peru e Colômbia na fronteira

Foto: Divulgação

A recente escalada diplomática entre Peru e Colômbia, motivada por disputas territoriais na região da ilha de Santa Rosa — uma formação fluvial do Rio Amazonas —, exige atenção estratégica do governo brasileiro, segundo especialistas.

A área já é afetada pelo tráfico de drogas e pelo garimpo ilegal, com a presença de populações de nacionalidade brasileira, peruana e colombiana. O risco de que a tensão entre os vizinhos possa exacerbar a instabilidade local torna-se ainda mais preocupante em um contexto transfronteiriço complexo.

Tratado de Salomón–Lozano

Foto: Reprodução

A fronteira entre Peru e Colômbia nessa área remonta ao Tratado de Salomón–Lozano de 1922. A ilha de Santa Rosa surgiu de variações naturais do leito do rio Amazonas, e não como resultado de uma ação política recente.

A declaração do presidente colombiano Gustavo Petro, questionando a soberania peruana e propondo deslocar a celebração da Batalha de Boyacá para Letícia, reforça a tensão simbólica. Contudo, essa atitude deve ser compreendida dentro de um contexto regional delicado, já que o comércio local depende dos portos e rotas fluviais. Qualquer ruptura seria arriscada para a economia e segurança da região.

Euclides da Cunha e a “tríplice fronteira”

No início do século XX, o Brasil enfrentou um sério conflito envolvendo o controle de seringais disputados entre Brasil e Peru.

Para mediar essa tensão, Euclides da Cunha liderou, em 1905, a Comissão Mista Brasileira-Peruana de Reconhecimento dos rios Juruá e Purus. Sua missão resultou em relatórios e pareceres que auxiliaram no Tratado de Limites Brasil-Peru de 1909. Esses escritos foram compilados em obras como Peru versus Bolívia, publicada em 1907.

Amazônia no foco

Floresta Amazônica – Foto: Divulgação

Escritor e engenheiro, Euclides da Cunha, célebre pela obra “Os Sertões”, também dedicou parte de sua obra à Amazônia. Em 1905, integrou uma missão diplomática e cartográfica na região, percorrendo rios como o Purus e o Juruá em meio a tensões fronteiriças envolvendo Brasil, Peru e Bolívia.

A experiência, marcada por reflexões sobre a geografia, a vida dos seringueiros e o isolamento extremo da floresta, resultou no livro À Margem da História, publicado postumamente em 1909. A obra é considerada um retrato singular do início do século XX na Amazônia e denuncia, com força literária, as condições humanas e ambientais da época.

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