Amazônia abandonada: o colapso das Unidades de Conservação

Por Juscelino Taketomi

A situação é de caos nas Unidades de Conservação da Amazônia, a despeito da fábula de dinheiro recebido pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Ela abocanhou, ao longo de cerca de 15 anos, recursos que somam em torno de R$ 500 milhões, segundo estimativa divulgada pela CPI das ONGs.

Esses valores foram obtidos a partir de convênios com o Fundo Amazônia/BNDES, doações privadas e parcerias nacionais e internacionais.

Desse montante, cerca de R$ 51 milhões foram destinados especificamente à assistência técnica nas UCs do Amazonas, envolvendo profissionais de agronomia, pesca e engenharia florestal. A finalidade era garantir suporte às comunidades e promover manejo sustentável dos recursos naturais.

Mas a realidade nas UCs é um retrato do fracasso: invasões, especulação fundiária, garimpo ilegal, facções criminosas e destruição ambiental em larga escala.

Segundo levantamento publicado por veículos como o site Thomaz Rural e reforçado pela CPI das ONGs, do total de R$ 51 milhões para assistência técnica, cerca de R$ 12 milhões foram repassados a 28 organizações parceiras. Os demais R$ 39 milhões permanecem sem prestação de contas amplamente detalhadas, motivo pelo qual foram alvo de questionamentos na CPI.

Ainda assim, mesmo considerando o volume total de recursos movimentados pela FAS (R$ 500 milhões), os resultados concretos nas áreas de conservação são desproporcionais à magnitude dos investimentos.

A tragédia

Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento nas UCs chegou a 1.214 km² em 2022, recuando para 282 km² em 2023 — queda de 77%, mas ainda representando uma área devastada quase cinco vezes maior que a cidade de Belo Horizonte.

Os pontos mais críticos se concentram próximos às rodovias BR-319 e BR-163, onde o estado brasileiro inexiste, áreas marcadas pela expansão agropecuária ilegal e extração de madeira.

Entre janeiro e julho de 2023, o garimpo ilegal destruiu 13.484 hectares dentro de UCs, conforme O Eco, sendo 89% em áreas de uso sustentável, 11% em áreas de proteção integral. No Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a devastação causada pelo garimpo cresceu 304% entre 2021 e 2023.

Além disso, o uso de mercúrio continua contaminando rios e populações ribeirinhas em toda a Amazônia.

A grilagem também avança violentamente sobre áreas protegidas, de acordo com dados da Agência Pública e do InfoAmazônia. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) registrou um aumento de 274% em áreas de uso sustentável e 54% em áreas de proteção integral entre 2018 e 2020.

Na Terra Indígena Ituna/Itatá (PA), 94% da área foi registrada por invasores, alguns com propriedades acima de 1.000 hectares.

As UCs se tornaram também palco da criminalidade organizada, afirma o site UOL. Facções como Comando Vermelho (CV) e PCC atuam em mais de 130 municípios amazônicos. Além do narcotráfico, exploram garimpo ilegal, extração de madeira, pesca predatória e lavagem de dinheiro via ouro clandestino.

O Governo Federal lançou a Operação Guardiões do Bioma, mas a resposta ainda é insuficiente diante do poder das facções e da ausência do Estado nas áreas mais remotas.

Contradições da FAS

A missão institucional da FAS, de promover “sustentabilidade com inclusão”, contrasta com a realidade das UCs: desmatadas, invadidas e dominadas pelo crime.

  • Os números são perturbadores: R$ 500 milhões movimentados em 15 anos, R$ 51 milhões para assistência técnica e UCs fragilizadas, com crimes ambientais e sociais se multiplicando.
  • Como indagou Thomaz Rural: Onde estão os engenheiros florestais, agrônomos e técnicos de pesca contratados? Quais ações de assistência técnica foram documentadas e auditadas? Como justificar tamanho investimento frente à destruição que persiste?

O caso FAS escancara a necessidade de uma auditoria profunda e transparência absoluta sobre os recursos aplicados. Se há meio bilhão de reais investidos na conservação amazônica, por que as UCs estão à mercê de grileiros, garimpeiros e facções armadas?

Se existem R$ 51 milhões para assistência técnica, onde está a floresta assistida?

Fonte: https://portalunico.com/amazonia-abandonada-o-colapso-das-unidades-de-conservacao/

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