
O governo do México passou a exigir o rastreamento individual de cada boi ou peça de carne bovina exportada pelo Brasil como condição para manter e ampliar as exportações brasileiras ao país. A decisão foi comunicada oficialmente ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) pelo Serviço Nacional de Sanidade, Inocuidade e Qualidade Agroalimentar (Senasica), órgão sanitário mexicano, e representa um novo patamar de exigência sanitária nas relações comerciais entre os dois países.
A medida adia para data indefinida uma auditoria presencial que estava prevista para ocorrer em setembro deste ano, ampliando o tempo para adaptação do setor brasileiro às novas exigências. Para minimizar os impactos comerciais imediatos, o México prorrogou até 15 de janeiro de 2026 a habilitação dos frigoríficos já autorizados a exportar carne bovina para o país.
As novas regras classificam os frigoríficos brasileiros em três categorias:
- Frigoríficos já habilitados e em conformidade com as novas normas de rastreabilidade, que poderão ser auditados futuramente;
- Frigoríficos ainda não habilitados, mas que já atendem aos critérios, que poderão solicitar habilitação;
- Frigoríficos fora dos padrões, que perderão o direito de exportar para o mercado mexicano.
A rastreabilidade exigida pelo México vai além da simples identificação por lotes, obrigando a marcação e o acompanhamento de cada animal individualmente ao longo da cadeia produtiva — desde a fazenda de origem até o destino final. A medida acompanha uma tendência global liderada por mercados como o europeu, que recentemente aprovou o Regulamento da União Europeia contra o Desmatamento (EUDR), o qual exige provas de que produtos exportados, como carne e soja, não estejam associados a áreas desmatadas após dezembro de 2020.
Impacto econômico e estratégico
O México é atualmente o terceiro maior comprador de carne bovina brasileira, com importações médias de cerca de 11 mil toneladas por mês, superando os países da União Europeia. A carne exportada ao mercado mexicano é, em grande parte, desossada e de maior valor agregado, o que torna esse destino estratégico para os frigoríficos brasileiros.
A decisão mexicana ocorre em um momento delicado para o setor, em que o Brasil busca consolidar sua imagem sanitária internacional após o reconhecimento como país livre de febre aftosa sem vacinação, obtido recentemente da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Esse status abre portas para novos mercados e negociações — como a tentativa atual de convencer a China a remover restrições ainda existentes a determinados estados brasileiros.
Reação do governo brasileiro
Em nota, o Ministério da Agricultura afirmou que mantém diálogo técnico com as autoridades mexicanas para garantir a continuidade do comércio e facilitar a transição para os novos padrões. O governo brasileiro também considera que a medida pode representar uma oportunidade para a modernização da cadeia produtiva e o fortalecimento da confiança internacional na carne brasileira.
Ainda assim, representantes do setor avaliam que a exigência representa um desafio operacional e logístico considerável, especialmente para pequenas e médias empresas, que podem ter dificuldades para implantar sistemas de rastreamento individual. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) acompanha as discussões e deve reunir-se com o governo nos próximos dias para debater estratégias de adequação.











